Uma data especial: Parte II

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Menton, 2005

Naquela noite, quando fui me deitar para dormir, fiquei pensando no beijo que havia dado em Luna. Aquela vez fora completamente diferente da primeira, algo inconsequente e relativamente forçado. Dessa vez, eu quis. E queria de novo, e de novo, e se possível de novo. Estava ansiosa para o dia seguinte.

O melhor de tudo é que quando voltamos para piscina para ficarmos perto do pessoal, todos pareciam saber o que a gente tinha feito, mas ninguém pareceu se importar muito. Achei que seria um tabu, algo indecifrável para eles como fora para mim, mas a aceitação deles veio sem uma carta de requerimento, e isso foi o que mais me impressionou. Não é tão absurdo, afina, me peguei pensando.

Isaq apareceu um pouco depois, fiquei relutante em contá-lo sobre o que acontecera. Quase cedi, mas me segurei pois por mais que me sentisse feliz, sabia que ele já havia gostado de Luna, se é que não gostasse ainda.... De qualquer forma, assim que chegou, nos contou sobre uma viagem repentina que a mãe dele gostaria de fazer e que infelizmente ele não passaria esse carnaval com a gente.

Por mais difícil que seja admitir, eu gostei disso. Gostei do fato de nenhum adulto estar ali além do necessário, e do fato de Isaq ter que viajar com a mãe logo nesse carnaval. Era como se Deus ou o destino ou qualquer outra coisa além da compreensão humana estivesse realmente querendo que eu e Luna ficássemos juntas.

E foi quando eu estava prestes a adormecer, no travesseiro da minha cama que eu compreendi que aquela seria uma data especial.

-✻-

— Aposto que pensou em mim a noite inteira...

Encarei os olhos brilhantes de Luna e esbocei um semblante petulante.

— E por que acha isso? — falei colocando os braços dobrados no peitoral.

— Por que eu passei a noite toda pensando em você, se é que faz algum sentido — ela respondeu com confusão desenhada em seu rosto, como se falar aquilo em si fosse a coisa mais simples do mundo.

Eu, por minha vez, enrubesci um pouco e respondi quase travando.

— Bem... talvez eu tenha pensado um pouco em você sim.

Luna me encarou indignada e me roubou um beijo, foi algo rápido, um toque expresso, como um ioiô. Mas foi o suficiente para me alegrar. Ela agia como se fôssemos um casal há séculos, ou então como se estivéssemos predestinadas a se tornar um e finalmente estivéssemos aproveitando o enfim.

Era difícil mensurar o nível de intimidade que tínhamos, já éramos bastante amigas então algumas coisas eram normais para mim, mas quando ela tocava na minha mão agora eu sabia que era de uma forma diferente, de um jeito mais... significativo.

— Mas então, você vai fantasiada de que? — perguntei inocentemente.

— Acho que vou fantasiada de homem — ela falou enquanto apoiava a mão no queixo. — É, até que não é uma má ideia. Além do mais, vamos parecer um casal hétero, o que evita outros homens de ficarem em cima da gente.

Iria acrescentar alguma coisa, provavelmente falando que não era necessário se aquela fosse a intenção, mas sabia que ela recusaria de qualquer forma e acabei esquecendo de rebater.

— Me parece uma boa ideia — acrescentei por fim.

E realmente era, para falar a verdade tudo ainda era muito novo para mim, e é claro que Luna sabia, por isso queria me proteger de alguma forma. Não que eu tivesse vergonha de assumir estar com ela, pelo contrário, gostaria que o mundo inteiro soubesse, com exceção do meu pai, que é meio retrógrado em relação a isso.

A Maldição de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora