"my youth is yours"

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 — O que um rapaz bonito desses faz sozinho numa noite como essa? — O garoto de cabelos loiros me perguntou. Era um tanto magro e baixinho, mas tinha uma barba bem charmosa que contornava seu rosto, marcando o maxilar quadrado.

Olhei para ele, e sorri, de cantinho. Era a primeira vez que eu era abordado por um garoto, também era a primeira vez que permitia curtir uma balada. Para alguém que cresceu numa família de militares, me permitir aquilo sempre foi impossível. Mas lá estava eu agora, com um garoto bonito na minha frente esperando uma resposta para uma cantada um tanto manjada.

— Esperando alguém. — Respondi.

— Oh, desculpa. — Seu sorriso vacilou. — Eu não sabia que estava acompanhado, de verdade, foi mal...

— Ei, relaxa, eu ainda não sei direito quem é a pessoa que eu estou esperando.

— Marcou num aplicativo um encontro, não é? — Ele tentou amenizar o próprio constrangimento. Pobre rapaz, não notou o meu joguinho.

— Não, é que eu vim para essa festa querendo encontrar alguém que fosse feito para eu encontrar agora. — Falei, estranhando que de repente eu estivesse falando como Giovanna nos devaneios doidos dela de madrugada. — Eu vim em busca de alguém que eu tinha que conhecer, porque algo me disse que eu deveria vir aqui, porque essa noite pode mudar minha vida. — Olhei nos olhos do rapaz, brilhando nas luzes da balada. Eu deveria dizer que estava brincando para ele não me achar louco?

— Meu nome é Halbert. Me chama de Hall. — Ele me estendeu a mão.

— Eu sou o Bruno. — Respondi, apertando a mão dele. Ele era ligeiramente menor que eu em altura, mas bem mais franzino. Eu não era atlético, mas tinha um corpo robusto, o que nele estava em falta. De toda forma, em outro cenário, em outra roupa, ele seria o nerd que gosta de quadrinhos. Talvez gostasse. Talvez ele realmente seja esse nerd.

— Veio procurar o seu grande talvez? — Hall perguntou com um ar divertido.

— É. Pode se dizer que sim. — Respondi.

— Vem comigo para um lugar com menos barulho?

Concordei, fazendo ele segurando minha mão e me puxar para uma escada quase que escondida naquela boate. Me guiou por um corredor escuro, mas eu não tinha medo daquele inofensivo garoto que se não tivesse uma barba cheia não teria conseguido entrar. Já no segundo andar passamos por vários quartos, um leve nervosismo surgiu no meu estômago, mas desapareceu quando pegamos outra escada e fomos para a cobertura do prédio. A música soava abafada logo abaixo dos meus pés, tremendo a estrutura com seus graves altos. Olhei em volta, o céu brilhando sobre nossas cabeças.

— É estranho dizer que sinto que já te conheço? — Hall falou, logo ao meu lado.

— Acho que no fundo todos nós já nos vimos em alguma vida.

— Você é sempre assim?

— Não, não costumava pelo menos. — Ri, de leve. — Peguei essas manias com minha esposa. — Os olhos dele se arregalaram. — Ex! Ex-esposa! Era um casamento se aposta, a gente se divorciou. Okay, não nos divorciamos no cartório porque faz tipo três horas, mas ela é bissexual, eu sou gay, tipo, muito gay, só nos casamos porque prometemos que se chegássemos ao vinte solteiros iríamos casar. Ela também se aceitou bi a umas, sei lá quatro horas.... Mas eu me aceito como gay desde os quatro anos! — Expliquei tudo numa descarga de informações. Ele riu.

— Uau. — Hall sorriu. — Normalmente não se faz essa promessa para os trinta?

— Não iríamos aguentar nossos pais enchendo saco sobre casamento até lá. — Encarei o chão, estava mais limpo do que eu esperava. — É uma história longa e complicada que vai te fazer querer desistir de ficar comigo. — Meu rosto corou. — Não ficar nesse sentido, ficar, tipo, estar comigo aqui, nessa cobertura de boate.

KairósOnde histórias criam vida. Descubra agora