O capitulo de hoje atrasou porque eu estava num passeio escolar, mas tá ai: mais de cinco mil palavras de puro amor.
xxx
O resultado da discussão foi quase imediato, mas eu fui saber semanas depois. Manoela tinha terminado com Gabriela. O motivo, exatamente, eu não sei. Mas elas conversavam, mantiveram uma amizade. O que eu vou contar hoje é o aniversário de dezesseis da menina Aliperti. Fazia semanas que Manu e Gabi haviam terminado e era dia 9 de março, aniversário dela. Ela sempre teve um jeito não-convencional de comemorar, esse ano, por exemplo, iríamos acampar e voltaríamos no domingo, depois do almoço. Então, lá estava eu esperando a aula terminar, com Bruninho tão ansioso quanto eu.
Tínhamos carregado as malas para a camionete do pai de Manu hoje cedo, não podia negar que passei a semana querendo essa viagem. Iríamos sair da escola já na camionete, almoçaríamos na subway e pegaríamos a estrada para achar, como Manu chamava, o paraíso perdido entre cidades do interior de São Paulo. Gabriel estaria em outro carro, levando o resto da turma. Na camionete ía eu, Manoela, Isabella, Bruno e Ana. Com Calamari iria Vinicius, Matheus, Daphne e um menino que era amigo em comum da Manu e do Gabe. Esse amigo era de uma das rodinhas de violão que a vida trouxe, como ela me disse, o nome dele era Mikael, tinha a minha idade. Graças ao meu prezinho (que eu reprovei) eu e Bruno estudávamos juntos. Isa era um ano a frente, mas ainda na mesma escola. Respirei fundo, o relógio não andava. O tempo parecia congelado. Até hoje sinto a ansiedade viva como naquela manhã de sexta feira. Aquele dia foi um das mais incríveis da minha vida, e tem minhas lembranças favoritas.
Quando o sinal bateu, eu agradeci todos os santos que conhecia e sai da sala segurando Bruno pelo pulso. Assim que saímos, vimos a camionete prata estacionada e Manu me esperando no portão. Não era a primeira vez que a gente se via depois da briga, mas o bom humor dela hoje era incontestável. Me recebeu com aquele sorriso de sempre e me abraçou forte, dando um beijo do topo da minha cabeça. Respirei fundo, sentindo o cheiro daquele perfume imutável.
- Como foi a aula?
- Parecia que não iria acabar nunca! - Comentei, sorrindo e levando minha mão até a dela, entrelaçando nossos dedos. As brigas e os desentendimentos acabaram junto com o namoro dela, e talvez uma parte de mim se sinta culpada, mas, ela parecia feliz. Gabi não vinha acampar por estar gripada e os pais dela não deixaram ela dormir duas noites em um barraca.
- Ah, é? - Ela sorriu, me puxando até o carro. Isa tinha chegado e guardou a mochila no porta malas.
Subimos no carro, Isa foi na frente, Bruno atrás, Manu no meio e eu do outro lado. Ela ainda segurava minha mão. Fomos direto para a Subway, porque Ana nos encontraria lá. Ela já tinha adiantado os pedidos, o pai da Manu pagou e nos sentamos para comer. Então, chegamos num ponto que me deixa constrangida. Todos sabemos que comer no subway é pedir para ficar com o rosto todo sujo de molho, e nem Manoela e sua etiqueta francesa estava livre disso. Isso fez com que eu notasse que adorava trazer ela para comer ali comigo, porque o rosto dela se sujava e era a coisa mais fofa que eu já tinha visto.
Manu sempre foi de uma classe de educação elevada ao ponto de comer qualquer comida com macarrão e caldo e não respingar. Mas, como disse, ela não se livrou da sina do restaurante de lanches de metrô. Ela pediu um bem recheado, com salada e três tipos de molho. Uma mordida. Eu estava sentada de frente para ela e na primeira mordida, os cantos do rosto e o queixo se sujaram com maionese e barbecue. Ela, com toda classe, tentou limpar com a língua. Lambeu o cantinho da boca, pegando uma parte do molho. Mas seu queixo ainda estava sujo. Sorri, meu deus, ela era tão bonitinha. Ela continuou a comer, e como sempre, fazendo um leve biquinho ao mastigar. Talvez eu tivesse me descobrindo. Mas esse assunto era um dos últimos que se passavam pela minha cabeça. Bom, começou a se passar agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Kairós
Fiksi Penggemar"Kairós (s.m); em grego antigo: o momento oportuno, perfeito ou crucial. O acerto fugaz entre tempo e espaço que cria uma atmosfera propícia para ação." Algumas coisas nós sabemos que são feitas para ser. Sentimos no fundo do nosso coração que aquil...