"eu gosto do caos que você me traz"

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Minha cabeça doía. Me revirei na cama, tentando fugir da luz que vinha da janela e impedia meu sono. Ao rolar para o outro lado, notei que a cama estava vazia. Cadê as costas de Bruno para eu me esconder dos raios de sol? Abri levemente os olhos, procurando sinais dele pelo quarto. Nada do celular dele na cômoda ou dos sapatos ao lado da porta. Me sentei. As coisas estavam confusas. Não me lembrava da noite anterior, de como - ou quando - cheguei. Olhei a janela, era luz demais para ser cedo. Olhei o relógio. 11:27h.

Eu deveria estar na empresa às 13h. Eu tinha que almoçar, eu tinha filhos. Me levantei, num salto, abrindo a porta e descendo as escadas correndo. Ao chegar na sala, encontrei Bruno sentado vendo desenho com os gêmeos sentados ao lado dele.

— O que será que o Bob Esponja vai fazer agora, hein? — Ele perguntou, olhando os bebês que resmungaram para ele. — Eu também adoro esse desenho. Vocês já viram esse episódio?

Me escorei na porta, olhando ele interagir com as crianças e rir de cada bobagem que o Bob falava. Não lembrava como cheguei em casa, não lembrava onde eu estava ontem, parecia que eu tinha bebido muito. Fui até a cozinha, atrás de algum remédio para dor de cabeça. Enchi um copo da água, e notei que não usava aliança. Estranhei, eu não tirava da mão para nada. Será que eu perdi? Espero que Bruno não fique bravo por isso. Tomei meu remédio e voltei para sala.

— Bom dia, amores da minha vida. — Dei um selinho no Bruno e peguei Pedro no colo. — Bundia meu pincipi — Sorri, beijando a testa dele e sentando. Anna se mexeu do outro lado sofá, subindo no colo do Bruno e vindo até mim, resmungando palavras indecifráveis. — Bundia mia pinceza — Cumprimentei, vendo ela resmungar em resposta.

— Bom dia, Gi. — Bruno sorriu, calmo.

— Você sabe como eu cheguei em casa? — Perguntei, desistindo de procurar pistas.

— A Manu te trouxe até aqui.

— A mANU O QUE — Berrei, assustando Pedrinho no meu colo. — Calma, Pê, a mamãe é doida, se acostuma.

— Não se lembra de noite passada? — Ele me olhou, sem acreditar. — Meu deus, Giovanna, o quanto você bebeu?

— Eu não lembro.

— Você… — Ele continuou em tom baixo, como se tivesse medo das crianças ouvirem. — Você fumou alguma coisa? Sua roupa cheirava a fumaça.

— Por que está sussurrando? — Perguntei, também baixo, gendo ele inclinar a cabeça e sinalizar as crianças. — Elas não sabem nem falar, Bruno!

— Então você fumou?

— Não, eu não lembro o que houve ontem!

— Lembra que jantamos no seu pai? — Ele me perguntou.

— Ahn… — Me esforcei, buscando algum vestígio de memória na minha cabeça. Como um estalo, algo surgiu. Oh, droga, brigamos com meu pai. Espera, eu me assumi. Não, espera, o Bruno também se assumiu. Porra, o Bruno é gay? — Você é gay?

— Sim, Giovanna. — Ele revirou os olhos. — Seu pai já está ciente e nós decidimos nos divorciar.

 — Porra, nem você me suporta.

— Sem palavrão na frente dos gêmeos, por favor? E outra, você deu a ideia do divórcio.

— Sendo assim é mais compreensível mesmo. — Concordei com a cabeça e ele bateu a mão no meu ombro.

— Então nós fomos a uma festa e enquanto eu beijava um garoto, você simplesmente sumiu e apareceu quase 4h da manhã de carona com a Manoela.

— Meu Deus, eu preciso me lembrar disso com mais detalhes. — Joguei a cabeça para trás, sentindo que meu cérebro fritava com as informações. — Mas como assim você ficou com um menino e eu ainda não sei o CPF e RG completo dele?

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