"oh, how shit changes, we're in love and now we're strangers"

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Um ano depois, no meu aniversário de dezoito, eu já estava tão cheia de saudade que panfletei minha festa de aniversário onde pude, na esperança dela aparecer. Falei no grupo, postei nas redes sociais, comentei com todo mundo e principalmente com quem a gente tinha de contato em comum. Eu estava com a expectativa alta, eu queria tanto que ela fosse. Ensaiei por diversas vezes um discurso para fazer quando a encontrasse. Era quase como se ela tivesse saído da cidade. Ninguém tinha resposta dela. Não ia mais aos mesmos lugares, não falava mais com as mesmas pessoas, ouvi boatos de que estava indo muito mal na faculdade e ia em toda e qualquer festa que tinha. Manoela parecia... outra pessoa. Ela não morava mais com os pais, sabe Deus onde estava. Cheguei na minha festa, de certa forma, esperançosa.

Eu tinha fé, que em algum momento eu iria ouvir o maldito ronco dela moto old-school dela, que ela chegaria com alguma camiseta de banda, ou com o all star com um novo furo. Talvez agora ela tivesse outro jeans preto que não tirava do corpo. Eu esperava vê-la entrar, com os olhos felinos me caçando na multidão. E então me achasse. Me encarasse naquela incrível profundidade e me entendesse. E fizesse eu entendeu seu silêncio. Me sentei, vendo a galera chegar e se amontoar na casa que Gabriel me cedeu para festa. Falando nele, esse se aproximou, me deu um beijo no topo da cabeça, pegou uma garrafa de cerveja para ele e saiu, calmo. Gabriel estava levemente mudado. Firme em suas ideias, participava de debates políticos na faculdade. Sua retórica estava invejável. Eu sentia falta do garotinho que conheci no meu condomínio, que pronunciava errado palavras com mais de três sílabas. Depois que Vinícius voltou a frequentar a igreja, ele passou a voltar a ser compromissado com sua religião. Por esse motivo, minha festa era num sábado a noite, para ele poder participar. Ele não seguia a risca as leis como os pais, mas se privava de coisas mundanas no dia sagrado. Se reunia, no máximo, na casa de um amigo para jogar video game. Não frequentava locais públicos. Gabriel, que sempre se emocionava ao me ver completar mais um ano de vida, hoje já era praticamente um homem formado. Me permiti emocionar por alguns segundos, vendo ele se sentar no sofá, não tão mais festeiro quanto antes, mas se divertindo entre seu grupo de amigos.

Vinícius se aproximou da geladeira, abrindo o freezer e descendo algumas latinhas de refrigerante e colocando as que a galera havia trazido. Era como o "ingresso" da festa. Quem bebia cerveja, trazia cerveja, quem bebia refrigerante, trazia refrigerante, e quem bebia suco, trazia o suco. Encarei os fios loiros que ele havia voltado a usar um pouco grandes. Os fios voltaram a fazer cachinhos, que antigamente ele escovava para mantê-lo liso. No dedo, a aliança de namoro brilhava. Usava um colar de crucifixo por baixo da camiseta branca lisa, a bandana vermelha, a jaqueta jeans da mesma cor da calça e os incríveis tênis de cano médio da Nike. Vinícius era a própria definição de estilo. Sorri, vendo ele ajeitar cada latinha uma ao lado da outra e marcando no relógio de pulso digital, para não deixar congelar ou estourar. Ele realmente trancou a faculdade, cortou relação com todos os amigos do ensino médio que eram tão tóxicos para ele, e me prometeu ser o último a sair da festa, mesmo tendo que ir na missa amanhã cedo. Por sorte, ele só assistiria amanhã, então ele se permitiria estar sonolento, e ele sabia que Deus não iria ficar chateado porque foi uma boa causa. Vini fez cursinho por um tempo, e fez o concurso para entrar no corpo de bombeiros no fim do ano passado. O resultado saiu semana passada, ele passou em segundo lugar. Ah, ele ficou tão feliz que me ligou de madrugada, assim que o resultado saiu. Ele chorou de felicidades me contando no facetime e disse que só ligou porque precisava falar com alguém e Talita o mataria se ele a acordasse. Vinícius era o garoto mais doce que eu conhecia.

Com outro engradado de refrigerante, chegou Matheus. Meu primeiro namoradinho. Os cabelos cacheadinhos estavam meio úmidos, ele havia acabado de chegar. Me deu um beijo estralado na bochecha e abraçou Vinícius, o parabenizando pelo concurso e dizendo que estava ansioso, porque o resultado do concurso para policial dele saia na terça. Vini o tranquilizou, dizendo que a vaga já era dele. Matheus também estava diferente depois de tantos anos. Havia começado a namorar Gabriela, os dois eram tão fofos juntos. Era irônico pensar que meu ex agora namorava a ex da Manu, mas era só uma incrível coincidência. Falando em Gabi, ela chegou, com sua jaqueta aveludada mágica que mudava de conforme você passava a mão. Eles deram um beijinho e saíram. Céus, o tempo passa. Vini se aproximou, me beijou na testa demoradamente, disse que me amava e saiu, sentando ao lado de Gabriel, que sorriu aberto ao vê-lo.

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