"como se você não lhe fosse todos os caminhos possíveis"

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— Giovanna?

Minha cabeça entrou num estado de tela azul do Windows. Uma voz aguda apitava na minha cabeça dizendo "Erro. Erro. Erro." e eu achava que iria desmaiar a qualquer instante. Os olhos dela estavam focados ao meu e eu me senti com seis anos de novo. Os olhos felinos. Os mesmos olhos felinos. Minha boca secou e meus lábios ficaram trêmulos. O tempo congelou para os outros, só tinha eu e ela. Me forcei a dizer alguma coisa.

— Ahn.... é..... ahn... Voc..... é...... ahn..... O que...... é..... — Foi o que saiu. Minha mãe que me ensinou a falar a 23 anos atrás agora sentiria vergonha.

— É... — Ela começou, sorrindo de leve. — Eu... Ahn... — Ela franziu o cenho e limpou a garganta. Sorri de canto. Sem palavras, Manu? — Eu... — Bruno abafou o riso, atraindo olhares.

— Está tudo bem? — Karina perguntou, revezando o olhar entre eu e Manoela. — Vocês também já se conhecem?

— É.... — Bruno molhou os lábios. — Sim. Elas também já se conhecem.... — Ele soltou o ar pela a boca, tenso. Bruno, eu vou te matar. Ele me olhou e disse sem fazer som. — Eu não sabia de nada disso.

— Vocês... — Ela olhou para mim, e depois para Manu. Ela parecia formular a pergunta. — Eu fiz algo errado? — Ela perguntou, para o Bruno.

— Elas meio que.... ahn... — Bruno procurava palavras. Bati minha mão no topo da cabeça dele, num tapa rápido e de leve. Fazendo ele se virar.

— Só estou surpresa. — Respondi. Voltando o olhar para a Manoela. — Oi. — Consegui dizer.

— Oi. — Ela respondeu, sem sorrir, mas com uma cara de quem não sabia como prosseguir. Seus olhos se voltaram para o Gabriel e eles pareceram ter uma conversa rápida pelos olhos. — Então, como eu ia dizendo, eu pretendo passar um tempo aqui na empresa, acompanhando o dia a dia, a necessidade de vocês, o comportamento. Pelo que conheço de vocês dois, Gabriel e Bruno, esse local é como uma segunda casa, então eu preciso saber onde vou localizar as coisas, o que vocês precisam aqui. Então, eu já tenho uma base da ideia e vou trabalhar ela durante o tempo que ficarei aqui, com o projeto.

— Você vai passar quanto tempo por aqui? — Gabriel perguntou. — Porque precisamos saber em quanto tempo o prédio novo fica pronto.

— Acho que o projeto total vai demorar um tempo, mas a gente vai fazendo vários prédios que podem ser construídos por partes, o tempo de obra não será afetado.

— Vai ficar quanto tempo? — Perguntei, olhando para ela. Ela molhou os lábios.

— Eu... eu não sei exatamente. — Ela não me olhava. Porque você não me olha, Manu? — Acho que... acho que preciso do semestre todo. A primeira parte do projeto é rápida, a obra vai terminar perto do aniversário da empresa, podemos fazer uma inauguração e aniversário junto, vai ser incrível.

— Vai ficar quanto tempo aqui? — Perguntei, novamente. Ela estava desviando a minha pergunta. Eu não queria uma resposta profissional. Eu não queria uma previsão incerta. Eu queria a certeza, eu queria saber quando Manoela Não-Arquiteta Aliperti ia embora do Rio.

— Um semestre. — Ela desviou os olhos. — Vou embora antes do natal. — Karina nos observava. Bruno parecia tenso. Gabriel queria correr dali. O ar parecia mais pesado em todo o local. Como se nossos sentimentos estivessem influenciando toda a energia do escritório, e eu não duvido nada.

— Okay. — Falei, molhando os lábios. Eu só precisava aguentar ela ali até o final do semestre. Seis meses. Quase 27 semanas. Quase 183 dias. 4.380 horas. 262.800 minutos. 15,768,000 segundos. 15,767,999...15,767,990... 15,767,840...

KairósOnde histórias criam vida. Descubra agora