— Porquê tomou todas aquelas cartelas, Gabe? — Questionei, depois de conversarmos por alguns minutos, ele já estava ciente sobre a possibilidade do irmão dele ter sido o culpado da agressão. O rosto dele se fechou com minha pergunta.
— Gi... — Ele suspirou, pesadamente. — A vida não dá certo para algumas pessoas. Eu sou uma delas.
— Não diga isso! — Briguei.
— Gi, existe uma coisa chamada destino. O destino colocou você na minha casa ontem para me salvar, o destino trouxe a Manoela de volta para você, o destino me impediu de ficar com a pessoa que amo. — Ele fechou os olhos, segurando o choro. — Vinícius não quis contar para ninguém ainda, mas ele me ligou ontem à tarde porque disse que eu era o melhor amigo dele. Talita está grávida. — Lágrimas começaram a cair pelos olhos dele. — Eu sabia que não tinha chance, mas saber disso fez meu chão sumir, Gi.
— Eu... Você gostava da Talita?
— Giovanna, você só pode estar brincando. — Ele deu risada, triste. — Eu sempre fui apaixonado pelo Vinícius. — Minha boca abriu num perfeito "o". Gabriel gostava do Vinícius. Então, flashbacks de várias cenas, como surtos de ciúmes repentino, brigas entre eles, tudo foi fazendo sentido. Gabriel amava Vinícius. — O destino me odeia, Gi. Meu pai foi embora com meu irmão quando eu era novinho, minha mãe morreu, Vinícius se casou. Tudo que eu amo é tirado de mim. A vida não está ao meu favor, ela não me deixa ser feliz, ela não me deixa morrer. Minha sina é viver preso nessa realidade onde tudo dá errado para mim. — A próxima parte foi dita baixinho, apenas para eu ouvir. — É inacreditável que depois de tanto tempo você e a Manoela vão ter uma segunda chance. Não negue, eu vi como se olham. Exatamente como 8 anos atrás. — Ele suspirou, voltando ao tom normal. — A vida dá certo para alguns, Gi, e para outros como eu, não dá.
— Existe algo no mundo, Gabe. Algo que somente você pode fazer. Algo que só quem passou por tudo isso que você passou vai conseguir fazer. Você precisa pensar, tem alguma razão para a vida não ter desistido de você ainda. — Falei, segurando a mão dele.
— Ela tá certa. — Manoela disse, escorada na parede atrás de mim. — Deus é como um escritor, um escritor descarta os personagens que não precisa.
Gabriel respirou fundo, absorvendo as novas informações.
xxx
Em setembro, com minha coleção pronta e Gabriel fazendo um mochilão pela Europa em busca de um propósito, eu me sentia ansiosa. Havia dado imprevistos na adoção dos gêmeos porque com eu e Bruno se divorciando entrava na categoria de "lar instável", mas Juan me recomendou um advogado ótimo para o caso: Lucas Koka. Ele havia agilizado a papelada o mais rápido possível, estávamos quase conseguindo. Eu e Manoela voltamos ao nosso "relacionamento não nomeado" de dez anos atrás, porém sem beijos ou coisas do tipo. Saímos várias vezes, víamos filmes, dançávamos... Ela era como uma melhor amiga, mas alguns momentos estávamos perto demais e sabíamos do frio na barriga da outra. Eu gostava dessa relação nova, eu gostava do nosso ritmo lento.
Isa, ao meu lado, terminava de por o figurino dela para o desfile de primavera. Havia convidado várias pessoas para o desfile, como o Matheus Abreu, Heslaine Vieira, Felipe Hintze e Isa disse que ia chamar uma amiga dela. Para completar minha equipe, estava, óbvio, Luis Galves. A coleção estava toda pronta, cheia de representatividade: Tínhamos Isa e Luis, meus modelos de estimação (sério, qualquer lugar que eu fosse exibir minha coleção, eles iam junto, como se viessem junto com a roupa), Matheus e Heslaine representando os modelos negros, Felipe exibindo a coleção Plus Size e a amiga da Isa, que entraria com uma bandeira LGBT presa ao pescoço, como uma capa.
Isa vestia uma calça jeans de cintura alta com um corte reto e tintura degradê onde a barra era mais escura. A barra também era dobrada, de forma que ficasse um palmo acima do calcanhar. Nos pés, um coturno de material preto fosco estava com os cadarços bem presos. A camiseta branca era bem solta, colocada dentro da calça de qualquer jeito. O cinto vermelho contrastava com a estampa que dizia "Danger. Do not Enter". Os óculos escuros em formatos de triângulos escalenos com a ponta para baixo com lentes de um salmão alaranjado. Luis usava um jeans justo de um tom claro grafiato, uma camiseta de botão laranja vivo com degradê para vermelho nas barras. Usava uma mochila com textura de triângulos de couro sintetico fosco e nos pés um tênis baixo com a mesma textura. Matheus vestia uma camisa branca de manga comprida por dentro do jeans escuro de cintura alta justos abaixo do joelho. Nos pés, um coturno de um azul escuro fosco. o cinto simples mostrava todo o charme do visual limpo dele. Os cachinhos que ele havia deixado crescer em cima ficaram lindos com a bandana da cor do coturno amarrada como faixa. Na camisa estava estampado um padrão de triângulos das barras que se desfaziam.
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Kairós
Fanfiction"Kairós (s.m); em grego antigo: o momento oportuno, perfeito ou crucial. O acerto fugaz entre tempo e espaço que cria uma atmosfera propícia para ação." Algumas coisas nós sabemos que são feitas para ser. Sentimos no fundo do nosso coração que aquil...