"and if you like having secret little rendezvous"

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— Eu acho que é um rato. — Bruno comentou, olhando atentamente pela fresta da porta da cozinha.

— Tá escuro, como você pode ter certeza? — Sussurrei, pertinho dele.

— Porque é a única coisa que pode ser. — Ele respondeu.

Continuamos escorados na porta, o barulho vindo da cozinha continuava. Era cerca de 2:40h da manhã, acordamos com o barulho de algo caindo. Agora, estava eu e Bruno esperando ao lado da porta com um - assustador eu diria - guarda chuva para nos proteger do que estava do outro lado da parede. Novamente, ouvimos o barulho. Olhei para ele, ele para mim. Fiz sinal para ele entrar, ele fez sinal para eu entrar. Começamos uma briga silenciosa até ouvirmos algo cair e então um miado agudo. Abri a porta, vendo um gato no chão tentando desesperadamente retirar a cabeça da caixa minúscula do vinho que eu e ele havíamos aberto para o jantar. Ao redor, todas as coisas possíveis caídas no chão e a porta da sacada aberta. Como passou pela tela de proteção?

— É, Bruno, é com toda certeza um rato. — Ri,  me abaixando e retirando a caixa da cabeça do felino. — Calma aí, amiguinho, já resolvi seu problema.

Vi que usava uma coleira e então resolvi ler o nome. “Ártemis”. Fui até a sacada e vi uma tábua que criava uma ponte entre minha janela e o apartamento do lado. Ambas as delas estavam rasgadas, me perguntei como aquele bichinho fez toda aquela arquitetura para invadir meu apartamento. Então, alguém saiu na outra sacada, descalça, com os cabelos armados numa juba, no corpo apenas um short de pijama e um top.

— Meu Deus, Ártemis, como que você fez isso? — A garota exclamou e um frio subiu pela minha coluna. Era a voz de Manoela. Jesus, alguém pegue meus óculos, não pode ser. Manoela não podia simplesmente ser minha vizinha esse tempo todo. — Oi, viz...Giovanna? — É ela. A própria Manoela Aliperti.

— Boa noite, Manoela. — Respondi. — Então você é a minha vizinha? E dona dessa pequena delinquente? — Mostrei o gato preso nos meus braços.

— Olha, eu não diria dona porque essa gata aí tem vida própria, eu sou dou comida. — ela se abaixou, vendo a tábua presa entre as grades até meu apartamento. — eu deveria esperar uma coisa dessa, essa aí era gata de rua lá em Bordéus, pulava de prédio em prédio. Janela fechada, grade, cachorro, nada segura.

— O que está acontecendo aqui? — Bruno saiu, a cara amassada. Ele tinha juntado as coisas na cozinha. — Uau, Manu. Olá. — Ele se escondeu atrás de mim, já que estava só de cueca e uma camiseta larga.

— Oi, Bruno. — Manu puxou uma blusa qualquer do varal e vestiu do avesso. — Eu não esperava ver meus chefes numa situação dessa. Você me põe em furada, Ártemis. — O gato miou. — Ne me parle pas comme ça, Artemis.

— Acabou de falar francês com a gata? — Bruno perguntou.

— Ela ainda não se acostumou com o idioma local. — Manu falou como se fosse óbvio. Ela saltou do meu colo e atravessou a tábua de madeira, voltando pro seu apartamento. Miou para Manu umas três vezes e entrou para a casa de nariz e rabo empinado. — Vous devez perdre cet engouement des animaux de la rue! — Manoela olhou para mim. — Desculpe por isso, eu pago o conserto da tela.

Depois disso, fomos todos dormir.

xxx

No outro dia, cedo, estava chovendo muito. Eu iria ficar com o carro do Bruno até o meu sair do conserto, por causa do pneu. Eu e ele descemos as escadas juntos, Lena já estava com as crianças. Ao chegar no térreo, vi uma Manoela olhando a porta esperando algo. Estava pensativa e então notei o enorme tubo telescópico que ela tinha preso às costas. Ela provavelmente estava analisando para ver se a chuva iria diminuir ou se teria que pedir um uber até a empresa.

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