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1998

Suspirar. Levantar.

Deveria ser a centésima caixa que eu arremessava no caminhão naquele dia.

Minhas costas estavam doendo e eu não podia reclamar, afinal, por que faria isso? Para quem eu reclamaria dos inchaços nas mãos, do suor incessante e dos braços latejantes de dor?

Eu não podia reclamar, simplesmente não podia. Aquele emprego tinha sido a salvação dos últimos dois meses.

– Mais rápido, Summers!

Alec adorava provocar minha fúria. Por mais que houvesse pouco tempo que nos conhecemos, já considerava-o meu melhor amigo. Ele, assim como eu, trabalhava duro naquela pequena fábrica, ambos precisávamos do dinheiro, afinal. Pagavam-nos semanalmente, um mísero salário, inferior a qualquer coisa que você possa imaginar. Mas, ainda assim era um saldo positivo.

Acelerei o ritmo dos meus braços, e, por mais que meu corpo inteiro doesse em protesto, o pensamento de chegar em casa o mais rapidamente possível e deitar e relaxar as costas no meu colchão, fez meu cérebro esquecer por um minuto o quão pesadas estavam aquelas caixas.

Depois de mais alguns caixotes, tudo já estava dentro do caminhão e eu estava pronto para ir embora.

Hoje receberíamos o pagamento de mais uma semana e amanhã estaríamos de folga. Eu havia trabalhado duramente toda a semana, esperando ansiosamente que aquele dia chegasse. Amanhã eu poderia acordar mais tarde do que 4h da manhã e talvez poderia até ir à praia, dar um mergulho. Me despedi de Alec, depois que todos estávamos saindo e virei a rua na esquina. Para chegar em casa, eu atravessava uma avenida muito movimentada, cheia de barzinhos caros demais e pontos comerciais de luxo. Hoje, a temperatura estava mais baixa, e, ao atingir minhas costas, atravessando o fino tecido da minha blusa, o frio invadiu minha pele e me fez tremer involuntariamente. Eu não tinha uma roupa suficientemente quente para dias como esse, então torci silenciosamente para que a temperatura subisse.

Eu estava andando rápido demais, e, à medida que eu saía do centro da cidade e adentrava nas periferias, as ruas iam ficando mais esburacadas e os muros pichados eram mais frequentes. Eu estava perto de casa, então acelerei ainda mais o passo para chegar rapidamente. Virei à esquerda em um beco e, logo depois, em outra rua, a minha rua, onde já dava para ver a minha casa. Havia inúmeras crianças brincando e correndo descalças, e pude avistar meu irmãozinho mais novo, Jimmy, no meio delas. Ele acenou para mim e falou que já estava indo para casa.

Ao abrir a porta enferrujada e entrar em casa, com o intuito de ir direto tomar um banho e deitar em seguida, percebi que precisaria adiar um pouco esse momento ao avistar minha mãe tentando levar algumas caixas e sacolas para a pequena dispensa, parecia estar suada e ofegante, então, rapidamente fui ajudá-la, eram só mais algumas caixas a serem levantadas, as últimas do dia.

– Aonde está o Dylan? Por que você não pediu ajuda a ele?

– Ele está com a Sara, não quis incomodar – ela responde, com uma voz cansada, o que instantaneamente me leva a pensar que ela já está ficando um pouco velha para trabalhar o dia inteiro, e que eu não tenho motivos para reclamar do meu emprego temporário, porque estou ajudando ela a trabalhar um pouco menos, e me sinto conscientemente agradecido por isso, e, por um minuto, o peso de todas aquelas mercadorias e caixas não parece tão pesado, e a dor nas minhas costas não parece tão grande.

Dylan era meu irmão mais velho, porém, eu era bem mais responsável. Ainda assim, ele trabalhava tão duro quanto eu e tinha quase a mesma vontade de ajudar a nossa família. Ele namorava Sarah desde que eu era pequeno, e eu não conseguiria imaginá-lo sem ela.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora