Jack

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Jack

– Vocês só precisam andar lentamente com as bandejas próximo às mesas, e parar para servir alguém. Não conversem. Não derrubem nada. Não encarem ninguém. Lembrem-se, vocês estão aqui somente para servir. Tentem não fazer nada errado.

Um homem que estava com uma mistura de roupa de chef de cozinha e terno – Thomas, eu acho, não havia feito questão de decorar seu nome – estava lançando esse discurso super animador para mim e mais uma dezena de pessoas vestidas igualmente, minutos antes do tal evento começar. Eu ainda não sabia direito do que se tratava, e ninguém havia feito questão de explicar, pois, como o homem havia dito, estávamos ali somente para servir.

Depois de algum tempo, fomos liberados para entrar no lugar, que era incrivelmente grande e bem decorado. Haviam mesas redondas que pareciam haver sido reservadas para pessoas especificas; e um pequeno palco no começo. Depois de algum tempo, começaram a chegar homens de terno, juntamente com suas famílias, ou acompanhados por mais homens de ternos. Não pude evitar lembrar de Kenny. Esse era o tipo de evento que ele evitaria participar, eu conseguia até imaginar o porquê. Aquela diplomacia forçada parecia muito cansativa só de assistir, eu não queria nem imaginar como era participar dela. E, de repente, eu pensei que estava sentindo falta dele como nunca. Tentei afastar rapidamente o pensamento da minha cabeça. Eu tinha que me concentrar agora.

O local havia começado a lotar rapidamente, e logo começamos a servir as entradas, passando pelas mesas. Eu estava um pouco apreensivo, só queria que aquela noite acabasse logo e eu pudesse voltar para casa.

Por enquanto, estava indo tudo bem. Eu podia ver a cara de tédio de algumas pessoas mais novas que estavam nas mesas, talvez os filhos dos homens de terno. Alguns conversavam desinteressadamente, e outros mexiam distraídos em seus copos.

– Ei, o que tem aí? – Uma mulher cheia de joias me perguntou, olhando para o que tinha na bandeja que eu estava segurando. Notei que ela não fazia muita questão de ser tão simpática comigo, como era com as pessoas das outras mesas.

– Camarões em crosta de coco e cubos de manga com cebolas crocante e salada de folhas verdes. – É claro que havíamos sido minimamente treinados para apresentar as entradas do jeito certo. Mas eu não fazia a mínima ideia do que se tratava aquela comida e muito menos se era gostosa. Eu não tinha interesse de provar, e nem podia.

Ela assentiu com a cabeça e reconheci o sinal para lhe servir.

Enquanto eu me movimentava pelas mesas e servia mais entradas, subitamente algo no mínimo trágico aconteceu. Eu estava muito concentrado em analisar quem me chamava, e então, tropecei em alguma coisa no chão. No começo, não vi direito o que havia acontecido, porém, ao me levantar, vi que havia um mulher, a mesma que eu havia servido a pouco tempo, gritando de raiva, parecia estar chamando alguém, e, o pior, estava apontando para mim. Olhei para baixo rapidamente para ver em o que eu havia tropeçado, e vi uma perna estirada propositalmente no meio do caminho. Olhei para cima e vi que era de um garoto que agora estava rindo descontroladamente. Mas ninguém parecia estar repreendendo ele.

Quando voltei o olhar novamente para o desastre, o homem do discurso de mais cedo estava quase em cima de mim, com a cara tão vermelha de raiva que eu comecei a tremer. Ele me levou para a cozinha e começou a gritar inúmeros xingamentos comigo. Eu estava tão atordoado que nem escutei o que era. Minhas mãos estavam tremendo. Alguns cozinheiros tentavam ignorar o que aconteciam, e outros, ao cruzar o olhar com o meu, abaixavam rapidamente e voltavam a atenção para o que estavam fazendo. Eu estava com tanta vergonha. Ele estava gritando tão alto comigo. E a única coisa que eu conseguia fazer era manter meu olhar abaixado.

– Ei, o que está acontecendo aqui? – Escutei um voz familiar e levantei a cabeça para ver que o chefe do restaurante, Marcus, entrava pela cozinha. O homem que estava gritando comigo começou a explicar tudo para ele, que escutava sem muita atenção. – Eu sei o que aconteceu. A Srta. Baker está mais calma agora e algumas pessoas testemunharam quando um garoto pôs o pé na frente do Jack. Já está tudo bem. Pode voltar ao seu trabalho, Jack. E Thomas, você também.