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Jack

A verdade era que eu queria fugir dele.

Não sabia como agir.

Eu andei pela rua, como na outra vez. Não me importei em acertar o caminho, porque não queria ir para casa.

A última coisa que eu queria pensar era que eu estava certo. Ele só queria uma noite. Mas eu não queria estar certo. Eu queria que tudo fosse mentira. Eu queria nunca ter saído de casa naquela noite idiota e nunca ter conhecido o Kenny. Porque ele fez o que eu mais temia e fodeu a minha vida em tão pouco tempo. Porque ele me fez querer viver além da minha vida ridícula, mas nem percebeu isso. Ele nem se importou em pronunciar o que ele achava sobre aquele relacionamento, ou o que quer que fosse, porque nem era isso que nós tínhamos. Mas, talvez, eu é quem estivesse querendo demais. Era evidente que ninguém se importaria em deixar claro qualquer coisa que seja para um garoto bobo da periferia.

E agora, mais do que um mero sentimento de inferioridade, havia a certeza de sua existência.

– Ei – Alguém segurou no meu braço, me puxando. A rua estava escura, então tive medo. Porém, era ele. – Você pode me encontrar aqui, amanhã à noite? Tenho uma coisa para mostrar.

Minha expressão estava totalmente confusa. Eu nem sabia o que falar.

– Eu acho que... sim.

– Olha, esses dias têm sido muito... únicos. Te vejo amanhã, então. – E me beijou. Ali mesmo. Fiquei tão surpreso que nem retribuí o beijo direito.

Quando cheguei em casa, meu pai ainda não havia chegado, e minha mãe, estava muito brava comigo.

– É a segunda vez que você chega a essa hora. O que você estava fazendo, Jack? – Ela disse.

– Eu estava... com o Alec. A gente foi comer na casa dele. – Me surpreendi com a facilidade que menti.

– Vai dormir, Jack! – Dylan gritou do sofá, com uma voz sonolenta.

Minha mãe confirmou com a cabeça e foi para seu quarto.

– Onde está o papai? – Perguntei para Dylan.

– Ah, sei lá, deve estar bebendo. Ou apostando. Ah, a Sarah tá dormindo na sua "cama". Eu disse para ela ir para lá. Ela estava se sentindo mal e você não havia chegado.

– Tá.

– Eu pensei se ela não podia dormir lá agora. Ela tá grávida. E você pode dormir aqui no sofá. Eu passei minha vida inteira dormindo nele, e não é tão ruim assim.

– Ok.

– Ah, cara, eu te amo. Eu tinha preparado isso umas duzentas vezes.

– Era só você me pedir logo.

– É, eu percebi. Mas vem cá, você tá estranho ultimamente. Nem ache que eu não percebi, eu tenho quase a sua idade e sei quando tá acontecendo alguma coisa.

– Não é nada. Eu só estou cansado.

– Você conheceu alguém?

– Não, é claro que não. – Respondi, rápido demais, e esse foi meu erro.

– Ok, se você não quiser me contar, está bem. Mas pelo amor de deus, não engravida ela, ok?

– Para de ser maluco, eu... – Parei de falar quando ouvimos o barulho da porta de entrada e nosso pai chegou. Dylan de repente ajeitou a postura e ficou rígido.

– O que vocês estão fazendo? Já deveriam estar dormindo. – Ele não estava bêbado, mas havia uma mancha roxa no seu olho, parecida com a minha, que já estava saindo. Não perguntei o que havia acontecido porque eu sabia que ele não ia falar, e talvez, eu não quisesse mesmo saber.

Ele nos ignorou e foi para o quarto.

Dylan saiu do sofá e me ofereceu.

– Não precisa. Hoje eu durmo por aqui mesmo. – Falei, apontando para o chão.

– Ah cara, valeu, minhas costas estão me matando. Eu não vou nem contestar. Ei, espera... o que é isso? – Ele falou, apontando para o meu pescoço. Instintivamente o cobri com a mão. – Olha, cara, se as coisas continuarem rápidas assim eu tô vendo que não vou ser o único pai aqui. Olha o tamanho desse chupão.

– Para com isso, Dylan. – Falei, me levantando e indo rapidamente para o banheiro, talvez eu estivesse corando.

Olhei pelo pequeno espelho que tinha lá. Havia uma marca, a que Dylan viu. Eu me desesperei rapidamente, estava bem escura, não dava para escondê-la. Baixei um pouco a gola da blusa, e havia outra lá. Instintivamente, fechei a porta e retirei a blusa. Arregalei os olhos. Haviam marcas de chupões por todo o meu abdômen, fazendo uma trilha até minha virilha. Ouvi um barulho na porta e Dylan entrou no banheiro, rápido demais. Coloquei a blusa na frente do meu corpo, mas ele tentou tirá-la, o que conseguiu fazer rapidamente, levando em consideração que tinha mais força que eu.

– Para! – Eu gritei.

Ele arregalou os olhos.

– Que porra, Jack. Você transou mesmo. – Ele falou, mas não estava brincando.

Eu estava me sentindo exposto demais com seus olhos presos em mim, com aquela expressão indignada.

– Olha, eu não estou brincando, se aparecer alguma namorada sua grávida aqui, eu arrebento a sua cara! Eu não tomei cuidado, e você viu o que aconteceu. E quase arrebentei eu mesmo a minha cara. E um erro desses não pode ser cometido duas vezes na mesma casa. Principalmente com a gente. Nós não temos nem o que comer direito, Jack! – Ele estava falando alto demais, e ele nunca falava daquele jeito comigo, e eu estava com vontade de gritar e chorar agora, porque ele tinha me pegado.

– Eu não transei com ninguém e nenhuma garota vai aparecer grávida aqui, Dylan, eu te garanto! – Aquilo não parecia o ter acalmado, ele estava obcecado demais com essa história. Talvez estivesse remoendo o próprio erro. Eu queria acalmá-lo, certificar que não havia como eu engravidar alguém. Mas aí eu teria que contar a verdade, e aquilo estava longe de ser considerado.

Nós havíamos acordado a casa inteira, e antes que alguém chegasse, eu tomei minha blusa de sua mão com uma expressão magoada e a vesti rapidamente.


Interajam comigo, escrevam o que quiserem aqui (não precisa ser sobre o livro), quem são vocês que lêem as porcarias que eu escrevo?

Outra coisa, se vcs voltarem no capítulo 1, vão ver que eu fiz uma alteração logo na primeira linha. Isso é porque eu havia esquecido de localizar vcs no tempo em que a história ocorre, que é na década de 90, mais precisamente em 1998. É isso.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora