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– Era esse o garoto, Senhora Johnson? – Perguntou um policial, se dirigindo para a senhora enfeitada.

– Não, ele era mais velho. – Ela falou, com uma espécie de pena misturada com nojo dirigida a mim na voz.

Depois disso, os policiais começaram uma conversa sobre o ocorrido com mulher, estavam ocupados demais dedicando uma atenção privilegiada para ela. Eu não estava esperando um pedido de desculpa, e juntei todas a minhas forças para não desabar ali. Eles achavam que eu era um mendigo, e me bateram injustamente por algo incerto. Eles não acreditaram nas minhas palavras. Me pergunto o que fariam se fosse aquela senhora no meu lugar.

Tentei o máximo possível não olhar para ele, para o mesmo homem que havia feito eu me sentir tão pequeno naquela noite. Porém, os acontecimentos de hoje me haviam feito perceber que aquela noite não fora nada em comparação.

Olhei em sua direção. Ele estava com as mãos nos bolsos, de forma casual, parecendo alheio à situação. Me encarava intensamente.

Seus cabelos continuavam com o mesmo tom de loiro, e sua expressão continuava sarcástica demais. Mas ele parecia mais novo.

Seus olhos eram de um tom castanho muito escuro, quase pretos e seu olhar estava abaixado, fixo em mim. Só aí percebi que eu ainda estava no chão. Levantei imediatamente, fazendo os policiais olharem em minha direção. Não parecia haver qualquer traço de arrependimento no rosto deles, e ainda olhavam para mim com desprezo, talvez se perguntando o que eu ainda estava fazendo ali.

– Kenny, querido, volte sozinho para casa, eu tenho que ir prestar queixa. – A mulher, que era a sua mãe, disse, olhando na direção dele.

Kenny. Era o seu nome. Kenny Johnson.

Nesse momento, os policiais vieram em minha direção e começaram a falar comigo, algo sobre como era a aparência do homem que passara correndo por mim. Pareciam estar alheios ao fato de que à 10 minutos estavam me batendo sem motivo, como se fosse um erro comum demais para necessitar de um pedido de desculpa. Eu não estava prestando atenção, por mais que meus olhos estivessem fixos neles. Eu queria ver para que direção Kenny estava indo, não sabia exatamente o porquê. Porém, os policiais atrapalharam minha visão, e quando olhei novamente, ele não estava ali.

Depois do que pareceram horas, consegui sair dali. Não vi Kenny em nenhum lugar quando percorri os olhos pelos arredores. Não achei que estivesse ali, então, comecei a andar a caminho de casa. É incrivelmente... deprimente (?) em como as coisas acontecem ao acaso. Algo completamente injusto havia acontecido e depois, passado em branco. Por mais que eles tivessem me socado apenas em um lado do rosto, parecia que todas as partes dele estavam machucadas devido a dor. Estava latejante agora, e queimava. Havia uma mancha ainda clara no lugar onde eu havia levado um chute, e talvez ficasse escura demais mais tarde.

Apesar de tudo, não pude deixar de soltar um pequeno riso triste – que mais pareceu um grunhido de dor – com toda a situação. Se eu não tivesse me atrasado com os sacos de carvão, que me deixaram tão sujo, eu teria passado mais cedo por aquele lugar, e agora já estaria de volta para a tensão que era minha casa. O que será que eu diria para eles quando vissem meu rosto? Eu não queria que ficassem ainda mais estressados, eu faria qualquer coisa para evitar isso.

– Uau, você está um trapo.

Olhei instantaneamente na direção de onde vinha a voz para ver que Kenny estava sentado de maneira casual – tudo nele era casual – em um banco, do meu lado direito.

– Você vai ficar só aí me encarando como se eu fosse um policial prestes a te dar uma surra? – Isso me despertou do provável transe que entrei ao vê-lo e devo ter feito uma expressão de injúria para ele. Mas eu não sabia se, com isso, ele desejava que eu continuasse em frente ou sentasse ao seu lado.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora