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Jack

Nós transamos. Como nunca.

Enquanto ele me beijava, meu corpo implorava pelo seu toque. E, então, aconteceu.

Eu não sabia se havia sido por causa do tempo que passamos sem se ver, mas eu não conseguia explicar a intensidade de como tudo havia acontecido.

Quando acabou, eu estava tão sem energia, que apenas deitei de lado na cama. Ele fez o mesmo, me abraçando levemente por trás.

– Kenny...

– O quê?

Eu havia reparado que tinham inúmeras garrafas vazias e restos de cigarros pelo apartamento, que ele nem havia feito questão de arrumar.

– Eu... senti a sua falta. – Eu falei, e ele me abraçou mais forte.

De repente, me perguntei como havia deixado aquilo acontecer. Eu estava ali, com Kenny. O mesmo Kenny que me fez me foder tanto. O mesmo Kenny que acabou com toda a minha disposição. E era incrível como eu não conseguia sentir nem um rastro de raiva dele. Eu me odiei mais ainda. Eu não devia estar ali, e muito menos fazendo isso. Tudo aconteceu tão rápido, e única coisa que eu conseguia pensar naquele momento era que eu devia pôr um ponto final, agora.

– Mas... justamente por isso, eu não quero mais ficar com você...

Eu falei, colocando em prática o que eu vinha planejando nos últimos minutos. Ele havia dito que não se casaria mais, e, pelo pouco que eu sabia da sua vida complicada de negócios e imagem social, estava na cara que, de alguma forma aquilo traria complicações inusitadas para ele. Eu não podia ser egoísta ao ponto de foder a vida dele daquele jeito.

– Como assim, Jackie? – Eu estremeci de melancolia quando ele me chamou daquele jeito. Eu não queria continuar, não queria seguir em frente e fazer aquilo, não queria acabar nada. Queria apenas ficar com ele ali. Seu corpo continuava encostado inteiramente no meu, e eu sentia sua pele quente e suada.

– Nós não podemos continuar... Não daria certo. Mesmo que você não se casasse mais, o que a gente faria? Esconderia nosso relacionamento aqui o tempo inteiro?

– Não está bom para você? – Ele falou, e percebi que sua voz estava começando a ficar urgente.

– Kenny... eu não quero mais ficar com você. – Falei, me afastando dele com uma dificuldade tremenda e cruel, e me levantando. Doeu tanto em mim, ao ter que falar aquilo e imaginar a dor ele ao ouvir. Eu queria gritar que era mentira, que eu queria ficar com ele sim, o tempo que eu pudesse, mas eu não podia fazer aquilo. – Eu decidi nesse tempo que... eu prefiro ficar sozinho.

– Para com isso, Jackie. – Ele falou, também se levantando da cama. Eu comecei a vestir minhas roupas. – Espera! O que você tá fazendo? Você vai embora mesmo?

– Eu preciso fazer isso...

– Não precisa! – Ele falou, gritando muito alto, me fazendo estremecer. – Jackie... não vá embora. Desculpa pelo que eu fiz com você. Eu faço qualquer coisa para consertar. Eu juro. Não vá embora, Jackie.

Eu não falei nada, porque sabia que se abrisse a boca para falar qualquer coisa, eu desabaria nesse mesmo momento.

Comecei a me dirigir para fora do quarto. Ele vestiu a cueca rapidamente e me alcançou, segurando o meu braço.

– Você não precisa ir embora. Por favor, não vá. Eu sei que sou um idiota, mas eu posso mudar. Eu posso parar de beber... eu faço o que você quiser... e eu vou ficar com você. A gente pode ficar juntos, Jackie, como antes.

– Você tem uma noiva, Kenny! – Falei, numa tentativa de afastá-lo e fazer ele parar de me seguir pela porta, mas sem tanta raiva como antes. – Eu tenho que ir...

Ele apertou mais o meu braço, estava me machucando agora, mas eu sabia que ele não estava ciente disso. Eu me soltei com dificuldade e caminhei até a porta.

– Então, é isso? Você não quer mais nada?

– Não, Kenny... pode seguir a sua vida agora. – Eu falei, limpando bruscamente as lágrimas que começavam a cair.

Saí do apartamento e fechei a porta atrás de mim. E, finalmente, desabei. Fiquei ali por um momento, sentado no carpete do chão, abraçando minhas pernas, sem energia para fazer nada, nem voltar para casa. Eu ouvi quando algo foi arremessado contra a parede e se espatifou no chão. Uma das garrafas vazias, talvez. Eu ouvi quando ele começou a gritar. Senti quando ele começou a esmurrar violentamente a porta. E, nessa hora, eu quis entrar e impedir que ele continuasse se machucando daquele jeito. Mas eu não podia fazer isso. Não quando a causa de ele estar fazendo aquilo era justamente eu. Ele continuou esmurrando a porta com força, e imaginei que seus punhos estariam sangrando agora. Mas ele não parou.

Quando eu estava prestes a desistir e entrar, os socos cessaram. Porém, logo em seguida, ouvi outra garrafa ser quebrada contra a parede. E depois, outra. E mais gritos de agonia.

Eu me levantei, com dificuldade, e corri dali, lutando desesperadamente contra o desejo de voltar e entrar no apartamento.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora