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Os dias passam rápido se você estiver ocupado com alguma coisa, por isso concentrar toda a minha atenção no trabalho pesado da fábrica, me fez passar meses apenas trabalhando, quase de forma automática. Às vezes, minhas costas doíam devido ao chute que eu havia levado, mas tentava ignorar a dor. Minha mãe quase surtou quando me viu machucado naquela noite, mas Dylan inventou uma história que eu nem me dei o trabalho de escutar. Ele olhava toda hora para o meu pai com um tom acusador.

Eu havia recebido um aumento, estava tão feliz por conseguir meu próprio dinheiro, e focar naquele pensamento era o bastante para eu levantar outra caixa, depois outra, e mais uma, transportando tudo para o caminhão.

Saí da Indústria me sentindo extremamente leve, talvez estivesse radiante. Estava frio, com ventos fortes, característicos do fim do inverno, mas não me importei dessa vez. Eu juntaria aquele dinheiro com o que eu vinha acumulando, no lugar mais escondido que o quarto desprovido de muitos móveis permitia. E, depois que eu conseguisse juntar mais dinheiro ainda, entregaria à minha mãe. Tudo que eu havia ganhado era exclusivamente dela. É claro que ela não aceitará no começo, irá demonstrar relutância, mas eu vou conseguir convencê-la de aceitar tudo.

Porém, por mais que eu juntasse o máximo que conseguisse, nunca seria o suficiente. O pensamento me desanimou um pouco, mas tentei afastá-lo de minha cabeça. Eu devia me concentrar apenas em ganhar mais dinheiro.

Ao chegar em casa, tomei um rápido banho, molhando meu cabelo, para melhorar meu estado, e fui para o que agora passarei a chamar somente de cozinha, por mais que tivesse um sofá ao lado da geladeira.

Dylan não estava em casa, devia estar com Sarah.

– Onde estão a Camila e o Jimmy? – Perguntei à minha mãe, que estava cozinhando alguma coisa, que fez meu estômago revirar de fome.

Camila era mais nova que eu, por mais que nossas idades tivessem pouca diferença. Ela era a única lá em casa que frequentava a escola, e era extremamente inteligente. Jimmy tinha cinco anos, ele era muito apegado à ela.

Sentei à mesa pequena da cozinha e comecei a brincar com uns farelos de pão que estava sobre ela.

– A Camila foi dar uma volta no Jimmy, que não parava de chorar. – Ela respondeu. – Agora vem cá ver se essa sopa está do jeito que você gosta, eu temperei o caldo exatamente como você me pediu.

Caramba, como eu amo minha mãe.

Afastei a cadeira para me levantar, porém, me desequilibrei e sentei de volta, me assustando com o barulho vindo da porta de entrada.

Meu pai entrou sem nenhuma cerimônia, afastou minha mãe do fogão, jogou o conteúdo da pequena panela em um prato que estava ao lado da pia e sentou bruscamente na mesa, à minha frente.

Seu cabelo estava bagunçado e suas roupas, emaranhadas.

– Isso é para os meninos, eles estão com fome. – minha mãe estava visivelmente zangada, pela sua expressão, mas tentava manter sua voz calma e inalterada, era assim que ela agia com o meu pai.

– Eu também estou com fome, mulher. – Ele respondeu, meio grogue. Estava bêbado, e todos sabíamos que não era aconselhável brigar com ele naquele estado, talvez em nem qualquer outro também.

De repente, eu estava me sentindo preso, queria ir embora para não ter que ver meu pai zangado e minha mãe tão triste. Anunciei que iria sair e passei por a porta, sem esperar para ver a reação da minha mãe. Eu era um imenso covarde e sabia disso.

A temperatura não havia subido, e ao entrar em contato com aquele frio cortante, meus pelos se arrepiaram e meus dentes começaram a ranger. Água escorria do meu cabelo molhado e caía na minha blusa. Eu queria entrar de volta, mas, ao mesmo tempo, eu tinha vontade me afastar correndo dali. E foi o que fiz.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora