11

250 45 76
                                    

Jack

Ao acordar na manhã seguinte, a última coisa que passava pela minha cabeça era trabalhar. Eu tinha que ignorar todas essas coisas, eu não podia deixar minhas prioridades em segundo plano.

Tentei sair antes que todos acordassem, para não ter que falar com ninguém. O sol ainda nem havia aparecido.

Pude perceber as pessoas em volta, que andavam apressadas para pegar um ônibus e chegar ao trabalho, olhando feio, e talvez assustadas, para mim, como se eu fosse anunciar um assalto a qualquer hora, mas não me importei.

Talvez eu estivesse muito disperso, qualquer um poderia ver isso também. Porém, ao notar que eu havia desviado o trajeto para a fábrica, me perguntei aonde eu estaria indo. A resposta veio em poucos segundos.

O único lugar que ele sabia que me encontraria era no banco distante da avenida, e foi para lá que ele havia ido. E, para mim, aquele lugar era o prédio que eu o vi pela primeira vez, e era para lá que eu estava indo. Me surpreendi com a facilidade que eu havia decorado as ruas e o caminho certo.

Depois de um tempo, eu já podia ver o portão grande da entrada, e então, dois pensamentos me ocorreram. Primeiro, talvez ele não gostaria de ser visto comigo, eu não era ninguém. E, segundo, eu não fazia a mínima ideia do que estava fazendo ali, eu deveria manter distância depois do que aconteceu na noite passada.

Vi um carro se aproximando, como na outra noite, porém, quem saiu não foi ele. Era uma mulher, sua postura era um pouco... rígida demais. A mãe de Kenny. Virei o rosto rapidamente para que ela não me reconhecesse, por mais que tivesse uma certa dúvida se ela o faria, já que nem olhou direito em minha direção naquela noite. Ela estava apressada e parecia angustiada. Entrou rapidamente no prédio.

Eu não queria que ninguém me visse, sabia que deveria sair o mais rápido possível dali, mas algo no fundo da minha mente gritava para eu ficar.

Permaneci um tempo observando apenas a entrada, as poucas pessoas que chegavam, e seus motoristas levando seus carros para um estacionamento. Depois do que pareciam horas, a frustração de esperar tanto tempo por nada, me fez pensar em como eu havia sido irresponsável em deixar de ir para o trabalho para ficar aqui, me remoendo. O mesmo sentimento frustrante não me deixava ir embora, pois eu estava sem energia demais para refazer o trajeto de volta.

Toda existência tem seus momentos de epifania. Quando tudo de repente se explode em acontecimentos e existem coisas demais para você entender o que se passa, e tudo acontece rápido demais. Foi assim quando levantei o olhar e vi Kenny sair do mesmo prédio que eu observava a horas, com as mesmas roupas da noite anterior. E quando ele, surpreendentemente, olhou para o lado, exatamente na minha direção, e seu olhar parecia desesperado demais. E eu não senti quando ele pegou na minha mão e me levou em alguma direção, que só depois percebi que era o estacionamento do prédio. Ele abriu a porta do carro rápido demais e me jogou no banco do passageiro. Eu ia perguntar o que estava acontecendo mas nada saiu. Minha garganta estava seca e minha respiração, desregulada. Os pneus fizeram um barulho arrastando em protesto quando ele deu a ré e virou para a esquerda muito rápido. Nós estávamos se distanciado do prédio. Ao olhar para trás, pude ver que a mãe dele saía pelo portão, acompanhada por quatro homens grandes demais que usavam terno, com a mesma expressão de antes. Eles olharam para os lados, mas não pude ver o que fizeram depois, porque Kenny virou à direita na terceira rua.

Eu estava com receio de perguntar o que havia acontecido, estava procurando o momento certo para isso, mas parece que nunca chegaria.

– Não precisa ficar se perguntando o que aconteceu, garoto. – Ele falou, sua voz estava distante e ele parecia disperso demais.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora