Epílogo

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Dizem que o tempo é um processo de restauração, tudo fica melhor.

Mas nada fica.

O tempo não é uma medicação, e não é um protótipo de cura.

A dor, qualquer dor, não acaba com o tempo, apenas é tirada do centro do peito, se torna algo menos impossível de se conviver, quase como uma companhia constante.

Ao passar do tempo, a dor angustiante se torna uma dor propicia, que talvez só acabe juntamente com a morte.

Faziam dois anos que Jack havia morrido, e talvez não houvesse um dia sequer no decorrer desse tempo em que eu não pensasse nele.

Estilhaços pesarosos de um passado tão presente. Me atormentavam.

Inóspito passado.

Resignado.

Padecido.

Estilhaços de lembranças. Primeiro beijo. Primeira conversa. Último beijo. Último toque. Último tudo.

Jack era uma sensação boa de fim de inverno, quando tudo começa a ficar mais vivo e intenso.

Jack era a vida da estação.

Era capaz de te fazer explodir em glória ou ruir em cinzas. E talvez, depois que ele se foi, uma parte de mim se desfez juntamente à sua presença, resquícios do que já havia sido uma tentativa falha de preencher um vazio incessante. Fragmentaram-se.

Eu gostaria de acreditar que não estava ciente que nossa última conversa seria a última. Mas de alguma forma, eu sabia. Aquela conflituosa troca de súplicas exasperadas era o nosso fim. E então, eu o deixei ir. Pela última vez, sem contestar absolutamente nada. Não imaginava que doeria tanto. Eu não lembro do seu cheiro, do seu gosto, da sensação de beijá-lo. Gostaria de dizer que ainda consigo senti-lo. Que ele ainda está presente aqui, como se estivesse materializado à minha frente. Que minhas lembranças são suficientemente boas para suprirem sua ausência por qualquer tempo que seja. Mas tudo se foi junto à ele.

A verdade era que eu amava Jack.

Mas nunca seria capaz de fazê-lo feliz.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora