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Jack

No fundo, eu sabia que não daria certo, mas fantasiei tanto, que comecei a acreditar que poderia acontecer.

– ... ele simplesmente recusou? – Alec perguntou, um pouco desinteressado, enquanto preenchia um formulário para um emprego. Nós estávamos sentados em uma mesa de um pequeno parque, que ficava perto de onde ele morava.

– Sim. Eu já imaginava que isso fosse acontecer, só não sabia que seria tão duro.

– Mas, mano, pensa... Ele é um cara conhecido, talvez não seria lá muito bom se alguém descobrisse que ele anda saindo com caras. Sei lá, o pessoal é meio preconceituoso... E seu homem é bem másculo, sabe. Eu não sei muito sobre ele, mas acho que já vi uma notícia falando que ele estava noivo. Já faz um tempo, relaxa, e também não sei se era ele, mas pensa, o cara que já foi noivo de uma garota, aparece com um novo "namorado"...

– Eu sei, mas ainda assim... – Tentei conter a surpresa com aquela história de noivado, talvez Alec tivesse se enganado. Eu nunca imaginaria Kenny noivo de alguém, ele não parecia se o tipo de pessoa que pretende passar o resto da vida com alguém ao seu lado. Mas isso não deixou de incitar a minha curiosidade.

– Cara, você tem que deixar de se preocupar tanto com os detalhes e simplesmente, sei lá, curtir o momento. Sua vida era uma merda até você achar esse cara. Ele deve gostar pra caralho de você para te fazer sentir tão bem, então só pega o trem e senta em cima dele.

Nós rimos juntos e ele voltou a preencher o formulário, me perguntando de vez ou outra como escrevia algumas palavras.

Kenny havia passado o dia sem dar notícias, imaginei que estivesse ocupado, então não mandei mensagem. Eu tinha um celular agora, ele havia me dado no meu aniversário de 19 anos, no mês passado. A ideia de receber um presente tão caro não me agradou, mas ao ver o objeto que seria meu, não tive como recusar. Falei para minha mãe que havia comprado com o dinheiro do trabalho que eu estava juntando, ela não gostou muito, mas não me julgou tanto, por ser meu aniversário.

Também no mês passado, eu larguei o emprego na fábrica e comecei a trabalhar em um restaurante grande, Kenny havia arrumado o emprego para mim, mesmo eu reclamando por ele se preocupar muito. Agora que eu estava mais velho, as coisas eram mais fáceis, e também, eu era muito ágil e rápido. Porém, o clima ali não era tão agradável. Os garçons brigavam para atender mais mesas e receber a gorjeta. Eu tentei não arrumar briga com ninguém, por isso o dinheiro extra que eu recebia não era tanto. Ainda assim, o salário era melhor que o da fábrica.

Depois do que Alec disse, eu estava determinado a voltar ao apartamento, mesmo que fosse apenas para brigar novamente. Quando meu trabalho no restaurante acabou, fui direto para lá, torcendo para que Kenny estivesse ali. Isso havia se tornado um hábito. Eu ia com frequência para lá, tinha a chave agora, eu nunca sabia se ele estaria ou não, mas sempre torcia para que sim. Eu gostava de acreditar que aquele lugar era como se fosse nosso mundo utópico, só nosso. Kenny havia me deixado à vontade o bastante para poder ir quando quisesse, ele estando ou não.

Ao chegar e ver que a porta estava aberta, notei que havia algo errado. Ele nunca deixava a porta aberta.

– Kenny?

Ele não respondeu. Passei o olhar pela sala. A televisão ainda estava ligada da noite passada e as cortinas estavam entreabertas, como as havíamos deixado.

Abri a porta do primeiro quarto, e ele estava lá, jogado na cama, de bruços, dormindo profundamente.

– Kenny! – Me aproximei e virei seu corpo para cima. Seu cabelo estava desgrenhado como nunca e ele tinha cheiro de... álcool. – Kenny! O que aconteceu? Por que você está dormindo à essa hora?

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora