17

234 31 93
                                    

Kenny

Quando o sol se pôs e a noite chegou, ouvi uma batida na porta. Era ele. Eu havia dito ao porteiro para deixá-lo entrar sem precisar ligar para mim pelo interfone. Eu podia fazer o que quisesse naquele local sem levantar suspeitas. Era um lugar completamente reservado, e ninguém nunca havia me visto por ali.

   Abri a porta e ele estava ali, com um quase sorriso, mas, ainda sim, nervoso demais. Usava uma camisa de gola alta e parecia incomodado com ela.

   Ontem eu havia dito que tinha algo para mostrar, quando na verdade eu só queria ter um motivo real para chamá-lo aqui. Eu não tinha algo interessante, então resolvi apenas falar que havia me esquecido. Ele pareceu um pouco decepcionado, mas tentei não me importar muito.

   Percebi que ele estava um pouco envergonhado, talvez por causa de ontem, mas não fiz nada para que se sentisse mais à vontade.

   – Eu ainda não entendo por que você não mora aqui. – Ele disse, analisando todos os detalhes da casa com uma olhar perplexo.

   Porque é aqui que eu me escondo da minha noiva e dos meus pais.

   – Porque aqui é muito distante.

   Nós começamos a conversar sobre assuntos aleatórios, e eu me surpreendi de como eu falava abertamente com ele. E como ele me escutava atentamente e como parecia interessado no que eu falava. Isso fez eu me perguntar quantas vezes ele trocava mais de duas ou três palavras com outras pessoas, e em como comigo era assim também.

   – Então, você não tem nenhum irmão? – Ele perguntou, com uma curiosidade genuína.

   – Não, eu sou filho único.

   – Eu não consigo nem imaginar como é. Você sabe, eu tenho três irmãos.

   – É. O mais velho meio babaca, a super nerd e o pirralho.

   – O Dylan não é babaca, ele só se sente muito responsável por coisas que não são dele.

   – Hum.

   Havia algo preso na minha garganta. Perguntas que eu queria fazer. Questionamentos que insistiam em não cessar. Eu queria saber como ele havia se sentido ontem, se estava se sentindo bem ou não. Mas nem eu mesmo me reconheci ao pensar nisso, e me senti estranho mais uma vez, por estar pensando daquela maneira. Eu estava deixando ele se aproximar demais. Mas algo em mim dizia que isso não era errado, que eu poderia deixar ele fazer parte da minha vida, porque ele era uma parte boa nela. Uma pequena parte boa em meio a tanto caos. E eu esquecia que vivia uma vida falsa e cheia de disfarces.

   – Alguém... hum... reclamou que você voltou tarde ontem?

   – Ahn... sim. Minha mãe. E o Dylan.

   – Bem, eu disse que o Dylan é um babaca.

   – Ele não é! – Ele falou, meio sorrindo, meio sério. – Mas, hum... tem uma coisa.

   – O quê?

   Ele havia ficado mais sério agora.

   – Ele meio que... hum... – Ele puxou um pouco a gola da sua camisa para baixo e vi algumas marcas escuras.

   – Uou. E ele viu isso?

   – É. Ele acha que... tem uma... garota. – Ele estava ficando vermelho.

   – Ah. É melhor assim, não?

   – Sim. Mas... ele está obcecado achando que vou engravidar essa garota... que nem existe.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora