Jack

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Jack

   É incrível como o tempo pode ser seu maior inimigo, ou o seu maior aliado. Os meses com Kenny foram extraordinariamente intensos, e também, inusitados. Foi um período de autodescoberta para mim, e, pude perceber, para ele também, mesmo que não soubesse. E é assombroso como esse período pareceu anos, não apenas meses.

   Assim como é pesaroso pensar em como os meses que seguiram ao nosso término foram dolorosos. Ao decorrer do tempo, era como se houvesse algo apertando o meu peito, e sempre estava lá, fazendo os dias parecerem longos demais.

   Ás vezes doía antes mesmo de eu abrir os olhos, e algumas lágrimas caíam no travesseiro antes que eu as secasse. Os piores dias eram os domingos, quando eu não trabalhava e tinha que arrumar algo para ocupar a mente. Eu fazia qualquer coisa para não ter tempo de pensar em nada. Às vezes, tinha vontade de voltar naquela noite, e deixar o egoísmo se apossar de mim e me impedir de ir embora, como eu havia feito. E dói mais ainda quando eu penso nisso.

   Porém, meu plano funcionou.

   Acompanhei pelo jornal quando Kenny se casou, meses depois.

   E quando ele assinou novos acordos políticos que eu não sabia o que significavam.

   E quando ele participou de reuniões e assembleias.

   Eu podia ver seu rosto nas fotos imprimidas dos jornais. Parecia cansado demais, e eu preferia acreditar que era por estar trabalhando muito. E tentei ignorar os traços de infelicidade que permaneciam no seu rosto.

   Dylan e Sarah haviam conseguido uma casa em um bairro melhor - Dylan havia trabalhado muito para isso - e Bobby, o bebê, estava ficando enorme agora. Eu estava morando com eles, havia um quarto só para mim. Era pequeno, mas eu achava perfeito. Bobby chorava toda noite, e às vezes eu poupava Dylan e Sarah e ia ver do que ele precisava.

   Dylan estava feliz como nunca, e eu tentava ao máximo parecer bem quando estava com ele, porque ele conseguia saber exatamente como eu estava, e eu não queria que se preocupasse.

   - Jack, você pode cuidar do Bobby hoje? - Dylan perguntou. - É aniversário de namoro meu e da Sarah, e, você sabe, ela gosta de comemorar essas coisas.

   Eu tinha planos de ir para a casa de Alec, mas Dylan estava tão animado que não tive como recusar.

   Depois de algumas horas, eu estava na cozinha tentando achar alguma coisa para comer. Eu finalmente havia conseguido fazer Bobby dormir, e agora que a casa estava tão silenciosa, eu estava me sentindo muito sozinho. Tentei não pensar em nada que agravasse a minha melancolia, mas quando percebi, eu estava no meu quarto, tirando as fotos de Kenny, que eu havia recortado dos jornais, de dentro de uma caixinha que eu escondia debaixo das roupas. Eu sentia tanta saudade dele que doía. Eu não queria mais chorar e me sentir sozinho, mas nunca desejei tanto vê-lo como estava desejando agora. Subitamente, uma agonia misturada com tristeza me atingiu em cheio, e eu senti vontade de gritar, de correr, e ir embora dali. Nem percebi quando, minutos mais tarde, meu corpo estava jogado sobre a cama. Abafei minha boca com o travesseiro e comecei a gritar, tentando despejar toda a minha desolação por meio dos gritos. Fiquei com o rosto pressionado contra o travesseiro quando as primeiras lágrimas vieram, e eu já estava me desintegrando em pequenos fragmentos de infelicidade. Permaneci com o choro abafado até finalmente meus olhos começarem a pesar e eu sentir necessidade de fechá-los.

***

   Havia acontecido tanta coisa nos últimos meses, e eu estava pior do que nunca. Porém, alheio a tudo, mesmo depois de perder meu dinheiro e meu emprego, eu só conseguia pensar em Kenny. Ele que era o motivo das minhas lágrimas. Porque só tinha ele na minha cabeça. Eu queria tanto abrir os olhos agora e encontra-lo na minha frente. Queria tanto que doía. Doía a certeza de saber que ele não estaria ali, mesmo que eu gastasse toda minha energia implorando aos céus. Meu peito estava doendo tanto que nem o monte de lágrimas que saiam aliviava aquela sensação de aperto. Eu me sentia mais sufocado do que nunca.