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Assustado era o mínimo para definir o meu estado. Ele me levara para uma sala escura, havia uma enorme mesa no centro, e atrás dela, janelas de vidro que iam até o chão, deixando entrar a luz do luar no local, fazendo dissipar o breu da sala. Agora estava claro o bastante para eu enxergar alguns detalhes que estavam postos sobre a mesa, alguns souvenirs de viagens anteriores. Mas ainda assim, havia uma penumbra aterrorizante, que me fez desejar que ele ligasse logo as luzes do local.

   Ele não ligou.

   Foi até a mesa, e sentou na cadeira enorme e luxuosa que havia atrás dela, cruzando os braços, me fazendo sentir pequeno de novo.

    – Então, qual é a sua reivindicação? – Ele falou, subitamente, me assustando com sua voz grave, que havia ficado ainda mais medonha com o eco da sala vazia.

    – C-como assim?

    – Você chegou até mim com um discurso, certo? Então, qual era o seu propósito com ele?

   Eu não sabia o que responder, eu não queria reivindicar nada para ele, apenas lançar meu ódio. Mas o que ele estava dizendo fazia sentido.

   Ao perceber meu silêncio diante de sua pergunta, ele continuou.

    – Você pode falar o que quiser para mim, só eu estou ouvindo. – Sua afirmação me fez instantaneamente percorrer os olhos pela sala, onde havia câmeras em cada um de seus cantos, eu não sei por que aquilo me incomodava, mas a ideia de alguém estar me observando em uma tela, oprimia qualquer vontade que eu tivesse de me expressar.

    – Estão desligadas. – ele falou, ao ver para onde eu estava olhando, parecendo ler a minha mente. E voltou a esperar a minha resposta para seu questionamento anterior.

    – Eu... eu só estava com raiva. – Resolvi ser sincero, porque algo dentro de mim sentia que ele não estava prestando muita atenção nas minhas palavras.

    – Com o quê, exatamente? – Ele perguntou avidamente, levantando uma sobrancelha, fazendo eu derrubar minha teoria de que ele não estava concentrado na conversa.

   Eu permaneci olhando para o tapete vinho com estampas douradas discretas.

    – Céus, você está um lixo. – Ele falou, me fazendo olhar para cima, para ver sua expressão indagadora. 

    – Eu andei muito. – Respondi.

    – Você mora muito longe?

    – Sim

    – E o que te trouxe até aqui? Você queria ver como eu sou fascinante? – Sua expressão era totalmente sarcástica, e eu não gostava do jeito que ele falava comigo.

    – Eu... queria sair de casa.

    – Você fugiu de casa?

    – Não, apenas queria dar uma volta.

    – Para comer, talvez? Você parece estar faminto.

   Eu não respondi.

    – Na sua casa não tem comida? É por isso que você estava brigando comigo?

   Depois de um tempo, quando eu não respondi, ele levantou da cadeira, me fazendo olhar para cima, encontrando o seu olhar.

    – Eu... só queria ajudar minha mãe. – Seu olhar para mim me arrancou a confissão, e eu me senti estúpido por sucumbir a ele.

    – Cadê seus pais?

    – Eles... eles estão... em casa.

    – Já está tarde para uma criança ficar andando por aí na rua.

    – Eu não sou uma criança. – Havia ficado evidente que ele estava falando aquilo só para me irritar, eu já era grande o suficiente para passar uma noite fora de casa, se eu quisesse.

    – Ah, é? – Ele indagou, me analisando. Se aproximou da frente da mesa, onde eu havia permanecido de pé, e se encostou nela. – Então, me chupa. – Ele falou, apontando para baixo.

   Eu arregalei os olhos e demonstrei uma expressão confusa. Se aquilo fosse um sonho, já estava maluco demais e talvez fosse a hora de eu acordar no meu colchão duro e frio.

    – Você disse que queria ajudar a sua mãe, certo? – Ele falou, tirando uma enorme quantia de dinheiro de algum lugar que eu não havia visto e pondo em cima da mesa, com um estralo.

   Ele lançou um sorriso malicioso com a minha expressão de confusão, o sorriso dele era diferente da mulher do bar, era mais convencido, quase me fazia querer sorrir também, alheio às circunstâncias.

   Depois de um tempo, que eu não sabia determinar quanto, eu olhei para ele, com uma expressão diferente de confusão. Me abaixei lentamente e fiquei de joelhos.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora