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Jack

   Abri os olhos subitamente. Não havia nenhuma luz acesa na sala, mas pude enxergar o local por meio das luzes da cidade que passavam pelas janelas. Eu estava desorientado demais. Olhei ao redor, Kenny não estava por perto. Ai meu deus, que horas eram? Só agora havia me tocado que já era de noite.

   Ouvi um barulho vindo do corredor, eu não sabia se ia ver o que era ou se simplesmente ia embora, mas a segunda opção parecia rude demais.

   – Kenny? – Chamei, me aproximando do corredor. Ouvi o farfalhar do que pareciam ser coisas sendo guardadas.

   – Oi... oi, espera aí. – Sua voz estava muito grogue e enrolada, e soava urgente. A porta do quarto que ele estava, se encontrava entreaberta e pude vê-lo, entre pequenos intervalos. Finalmente, ele saiu. Seus olhos estavam desfocados demais e ele parecia muito alheio. – Ei, eu disse para você esperar na sala.

   – Eu estava lá... mas...

   – Foda-se – Ele falou, me interrompendo. – Vá embora, você já devia ter ido a muito tempo.

   – Eu... eu... desculpe... – Eu não sabia o que dizer, tinha a impressão de que ele não escutaria nada. – Você está bem?

   – Por que você quer saber? Já disse para você ir embora. – Ele se lançou para trás e esbarrou em uma mesa que continha um abajur sobre ela, derrubando-o com um estrondo.

   Eu tentei segurá-lo para fazer meu corpo de apoio, porém, ele se esquivou.

   – Por que você não volta para a sua família problemática e me deixa sozinho nessa porra?

   – Porque você está bêbado! Você vai acabar se machucando! – Ele havia usado o que eu havia falado contra mim, me senti tão péssimo que quase desmoronei ali mesmo. Eu estava irritado agora, e ele havia percebido.

   – E por que isso é da sua conta? – Ele estava rindo, sendo sarcástico demais. Ele sabia que aquilo me irritava. Ele queria me afastar, fazer com que eu fosse embora, me irritando. – Eu não te trouxe aqui para ser minha babá, talvez para chupar o meu pau de novo, mas nem isso você fez! Como consegue ser tão entediante?

   Então, finalmente, eu me afastei dele. Ele havia conseguido o que queria. Eu estava pasmo demais para reagir, porém, pronto para ir embora. À essa altura, algumas lágrimas já desciam dos meus olhos. Era como se a conversa de horas atrás nunca tivesse existido para ele. Como se minhas confissões não passassem de corriqueiras histórias para dormir. Ele estava desconsiderando tudo em mim.

   Eu jamais faria aquilo com ele.

   Me virei de costas, não queria que ele visse as lágrimas que estavam se formando em meus olhos. Estava me sentindo muito frágil, e me odiei por isso. Tudo estava acontecendo rápido demais. Eu nem sabia o que ele significava para mim, mas sabia que aquelas palavras tinham doído.

   Abri a porta rápido demais e corri para longe daquele lugar, sem olhar para trás.

   Eu não fazia ideia de onde estava, nem de que horas eram, nunca havia andado por aquela parte da cidade. Estava com medo, por mais que não conseguisse definir exatamente do quê.

   Tentei não pensar em nenhum acontecimento anterior enquanto tentava me manter firme. Mas palavras doem demais.

   Depois de me deslocar por algumas ruas e perguntar as pessoas em que direção deveria ir, finalmente chegara à avenida cheia de bares que eu passava todos os dias e que conhecia muito bem. Chegar em casa agora era só questão de uma caminhada automática.

   E, por fim, depois de pouco tempo, eu estava em casa.

   Ao abrir a porta, percebi que a noite não havia acabado por ali.

   – Essa é a minha casa! E eu não quero nenhuma vagabunda grávida rodando por aqui. – Era o nosso pai.

   – Você não tem o direito de opinar sobre o que acontece nessa casa porque você não gasta um centavo com ela, só nas suas apostas ridículas que te fazem perder todo o seu dinheiro! – Dylan estava gritando demais. Sarah estava atrás dele, com lágrimas nos olhos e um olhar de fúria e tristeza ao mesmo tempo.

   Ninguém havia notado minha chegada, e eu agradecia imensuravelmente por isso.

   – Cala a boca, moleque, se eu quiser expulso vocês daqui agora mesmo!

  Mamãe estava no meio dos dois, tentando, sem sucesso, acalmá-los. Camila segurava Jimmy no colo, e estava se dirigindo para o quarto.

   – Você não manda em mim! – Rebateu Dylan, com um ódio imenso na voz.

   – Você vai ver. – Nosso pai se aproximou rápido demais de Dylan, afastando mamãe do caminho com uma cotovelada. E, subitamente, desferiu um soco arrebatador na boca dele. Instantaneamente, sangue jorrou do ferimento, e ele o cuspiu, indo para cima do nosso pai.

   – Por favor, parem! – Mamãe gritava em vão. Sarah tentou se aproximar, mas nosso pai lançou a palma da mão em sua bochecha. Foi aí que Dylan se soltou dele e correu para onde ela estava.

   Rápido demais, mamãe levou nosso pai para o quarto deles, e ficou por lá. Era possível ouvir ele gritando com ela, haviam muitos palavrões no meio.

   Dylan sentou Sarah no sofá, enquanto ela soluçava incontrolavelmente.

   Eu me aproximei correndo da geladeira e peguei um copo de água para ela. Não perguntei se estava bem, nem por educação, porque a resposta já estava óbvia demais.

   – Foi minha culpa. – Dylan estava com as mão na cintura, de forma impaciente, se recusando a olhar na direção de Sarah, como se fosse doloroso demais. Estava se castigando mantendo distância. Sangue ainda escorria de seu lábio cortado. Sarah foi até ele e o abraçou, encostando a cabeça em seu peito e ignorando qualquer sinal de retraimento dele. – Nós vamos embora daqui.

   – O quê? – Eu perguntei, rapidamente. – Para onde vocês vão? Você não pode ir embora, Dylan, você não pode... Para onde vocês iriam?

   – Eu não sei, Jack, eu não posso ficar aqui.

   - Não, por favor, você pode sim, a gente vai resolver isso. O papai vai esquecer, ele só está bêbado. Por favor, Dylan, vocês não podem ir embora...

   – Vem cá. – Ele me puxou para um abraço, e eu queria desabar agora, mas não o fiz. – Eu não vou deixar que ele estrague minha felicidade. Você vai ser tio, Jack!

   Sorri por um momento ao imaginar e o abracei mais forte. Bebês podem trazer muita felicidade, até mesmo quando vêm em horas não muito boas, e eu já estava feliz com o que estava por vir.

    Tentei não pensar em nada além disso.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora