15

203 36 41
                                    

Kenny

  A sensação de vê-lo ali, na minha frente, daquela maneira, me provocou algo estranho, eu sentia uma necessidade inquietante de permanecer em sua presença. Até mesmo agora, quando estávamos no sofá, um do lado do outro, ele ainda mantinha a expressão de surpresa. Eu não me incomodava em ficar pelado, mas ele parecia desconfortável, então, passei meu braço por cima dele e peguei sua cueca no chão, entregando-a. Ele pareceu agradecido e a vestiu em silêncio.

   Quando nossa respiração se regulou, ele disse:

   – Você... hum... já fez isso muitas vezes?

   Eu ri com a pergunta, mas ele não deve ter gostado.

   – Já.

   – Ah... é... foi uma pergunta idiota.

   Nesse instante, ouvi o toque do meu celular vindo do quarto.

   – Droga. – Xinguei. Eu havia esquecido do mundo lá fora. Eu já estava fora de casa há... o quê? Quase dois dias?

   Saí do sofá e vesti a parte de baixo rapidamente.

   – O que foi? – Jack perguntou, preocupado, mas eu estava apressado demais e ignorei sua pergunta, me dirigindo rapidamente para o quarto.

   Olhei a tela para ver quem era. Não era minha mãe. Era Rachel. Ótimo, era a última coisa que eu precisava.

   Olhei para a porta para ver se Jack havia me seguido, mas ele havia continuado na sala.

   – Alô. – Falei, quase sussurrando. Eu não sabia por que estava tentando tanto esconder dele que eu tinha uma noiva. Não é como se tivéssemos algo sério, na verdade, nem tínhamos nada. Não éramos nada. Eu que já tinha deixado ele se aproximar demais, até havia o trazido para cá. O que eu estava pensando?

   – Oi, amor! Onde você está? Sua mãe e eu estamos preocupadas, ela disse que você sempre faz isso e... – Afastei o celular do ouvido e pigarreei. Eu não estava com paciência suficiente para ouvir a voz agitada e simpática dela.

   E, por um momento, como um súbito flash de memória, eu soube. Eu não queria que ele fosse embora, por isso que não havia revelado o quão desprezível eu sou, pelo menos, não totalmente. Ele estava na sala agora, e era lá onde minha mente estava vagando, e eu queria que ele continuasse no meu campo de visão, comigo. E, se ele fosse embora, isso não seria possível.

   Aproximei o celular da orelha.

   – ... então eu resolvi ligar para você, mas você só atendeu agora.

   – Rachel, eu estou resolvendo umas coisas do trabalho.

   – É claro, baby, eu sei. Mas eu queria passar um tempinho com você... Sabe, eu comprei uma lingerie nova e tenho certeza que você vai adorar... – Ela deu um sorrisinho, tentando soar sexy.

   – É, eu sei que sim. Mas podemos deixar isso para depois.

   – Oh, assim eu vou ficar chateada. – Ela falou, com uma voz forçada e melosa demais. Eu nem precisava estar do seu lado para saber que estava fazendo um biquinho de indignação agora. – E, ainda tem os preparativos do casamento! A degustação do bolo é daqui a três semanas!

   – Exatamente. Faltam três semanas. – Falei, com desinteresse. Ouvi um barulho na sala e me apressei para desligar. – Eu tenho que ir. Tchau.

   Não esperei sua resposta, desliguei antes que ela pudesse protestar.

   Por mais que, felizmente, faltassem meses para o casamento, Rachel queria deixar tudo pronto. Ela estava tão ansiosa com tudo, e isso fez eu me perguntar em que merda eu tinha me metido. Todos sabíamos que, tanto o relacionamento, quanto o casamento eram meramente negócios, um acordo. Mas ela pareceu se esquecer disso na segunda semana em que estávamos "namorando".

    Quando voltei ao cômodo, Jack já estava inteiramente vestido. Liguei a luz da sala, que ainda estava iluminada apenas por a luz fraca do abajur. Deu para perceber quando ele corou ao me ver melhor, apenas de cueca.

   – Você já vai? – Indaguei.

   – Eu não tinha percebido que era tão tarde, já devia estar em casa.

   – Ah. Sua casa é longe daqui? Porque se for por aquele caminho que você sempre percorre, aparentemente dá uma boa caminhada.

   – É. Eu... vou pegar um ônibus, talvez.

   – Você tem dinheiro?

   – Sim...

   Eu não ofereci levar ele para casa. Parecia o certo a fazer, já que havia sido eu quem o trouxe, mas algo me dizia que não devia fazer isso.

   – Você tem certeza? – Questionei, levantando uma sobrancelha.

   – Não... Mas eu vou a pé, já fiz isso antes... – Ele respondeu, relembrando a noite passada, com um traço de mágoa.

   Fui até o meu casaco e peguei umas notas. Assim que percebeu o que eu estava fazendo, ele disse:

   – Eu não... preciso do seu dinheiro. – Ele estava visivelmente magoado agora. Aparentemente, eu estava ferindo o pouco de orgulho que ele tinha. – Eu já vou. Hum... tchau...?

   De alguma maneira, aquilo parecia uma despedida. E pensei que seria melhor assim.

   – Tchau.

   E ele sai por a porta.

JackOnde histórias criam vida. Descubra agora