Olhar Através

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Uma voz familiar lhe soou chamando atenção, quase na porta de seu quarto seu ar mudou completamente.

— Você é idiota?! Essa criança não é sua!

Essas seriam as últimas palavras esperadas, não tinham gosto algum... Nenhum paladar, ao invés disso houve tato, pois instigavam seus instintos como uma alfinetada dentre as costelas. A adrenalina da ruiva foi à mil contrastando com seus bons pensamentos de segundos atrás.

Virou-se sentindo seu primitivo vir à tona. Captou um contorno comum aos olhos. Os cabelos curtos e levemente louros, a atitude evasiva de expressão furiosa; suas sentenças de nada lhe causariam se houvessem saído daquela boca, a mesma que saíram tantas outras orações de tonalidade íntima e amistosa. A alfinetada cresceu como uma facada.

Kovalenko assumiu uma expressão igualmente raivosa conjunta com surpresa mesclada.

— O que... O que você disse?! — sua respiração falhou ao sair da frase tremulando.

Halsey acelerou o passo entrando e gesticulando arduamente.

— Você não pensou nisso por nenhum segundo?! — cutucou a própria têmpora. — Você, Alina Kovalenko, é estéril! Estéril, intersexual desde sempre!... Quer que eu diga de novo ou deu pra entender?!

— Não sabia que a ponta do meu pênis tinha um cérebro pra você se comunicar por telepatia com ele! — escarrou seu sarcasmo. — Se foi isso que ele disse então estava errado ou você é uma péssima médium.

— É provável que tenha um cérebro nessa coisa mesmo porque só assim você iria deixar de pensar com o seu! — exclamou em alto tom.

— Luna é bem mais do que isso... — tentou começar seu discurso; pensou melhor se interrompendo. — Como você se atreve, Ashley?!

A loura de cabelos curtos pisou forte grunhindo de ódio.

— Não me chame desse nome nunca! — gritou. — É Halsey! Halsey! — enfatizou. — É como nós duas combinamos que seria, Alina... Nada me tira da cabeça que essa garota é um maldito carma!

— Jamais diga esse tipo de coisa sobre ela, jamais! Ela é um anjo! — sentiu a serenidade de sua defesa tomar seu peito.

— Você sequer fala comigo ou com a Elle, éramos inseparáveis. — passou os dedos dentre os curtos fios. — Pela primeira vez eu pensei que uma única coisa boa na minha vida iria durar, mas... Mas essa garota apareceu um dia e você foi ficando distante. — sua voz ficou embargada. — Eu perguntava se você queria me ajudar nas festas: "Eu vou sair com a Luna"; mandava mensagem "Desculpe não responder estava com a Luna" ou até mesmo a droga do grupo de apoio que você nunca mais pisou!

Alina se aproximou mais dela fixando seus olhares batendo com o palmo no peito.

— É porque eu tenho o apoio que eu preciso agora! — empurrou os ombros da outra conforme gritou. — E você deveria encontrar o seu também, Ashley. Porque esse é o seu nome! — encontrou a alma da loura por dentro de suas pupilas; aos poucos seus lábios começaram a tremer. — Eu sei que esse nome te traz mais dor do que qualquer coisa por causa deles.

Halsey (ou Ashley) deixou suas mãos fortemente fechadas relaxarem, andou brevemente de um lado para o outro e tentou controlar seus impulsos, sua respiração passou com força pelas narinas que transmitiam ruídos pesados. Umedeceu os lábios e olhou novamente para a ucraniana que esperava ansiosamente uma reposta, nenhum movimento.

— Ela deve ter repensado aquele tal Zahid ou... Ou ela deve ter sido aliciada por alguém... Sabe, outras opções que fazem sentido... Não acho que ela seja tão santinha assim. Eu estou tentando te ajudar pra nossa amizade ser o que era antes, vai ver que ela é uma pirralha cínica como tantas outras que ficamos. — riu por impulso nervoso.

Onde Devo Estar (Spin-Off) (Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora