Ensaio Materno

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— Adorei a visita... Só acharia mais agradável se não tivéssemos nos atrasado tanto. — falei enquanto andava apressadamente pelo vasto piso branco.

— Foi ótima vê-la e recebê-la, obviamente... Mas... Ela não poderia ter ligado? — a voz quase ofegante de Camila indagou; por pouco não abafada pelo clicar de seus saltos na cerâmica.

— Ela nunca fica para o jantar, poderíamos assistir um filme juntas mais tarde... — sugeri chegando bem próxima ao consultório.

Dei batidinhas modestas na porta. Girei a maçaneta tentando não fazer demasiado barulho adentrando o consultório. Meus olhos captaram o que havia em primeiro plano em minha cabeça, Luna deitada sobre a cama do recinto, ainda com a barriga melada do líquido translúcido. Obviamente corri acelerei para segurar a mão da minha maior razão.

— Nos desculpe, princesinha. — acariciei a mãozinha delicada de Luna. — Veronica chegou do nada na porta de casa...

— Mãe 'Lo. — chamou-me atenção. — Olha ali — apontou para a tela cinzenta. —,é o meu bebê. — sorriu aliviada e orgulhosa.

Eram milhares de pontinhos pretos e brancos. A tecnologia parecia ridícula neste momento. Até que seria mais elegante desta forma, é mais agradável aos olhos de mães ver uma sequência de contrastes em preto do que uma azeitona rosada (e um tanto deformada), guarde então suas expectativas em alta definição às crianças mais crescidas, quando o rostinho está visível e pacífico; os membros bem definidos até que possam ver a graça dela sugando o próprio polegar.

Sinceramente, a manchinha preta com som de libélula está me fazendo umedecer os olhos. Fico até envergonhada de chamar então minha filha (quase uma mulher) de 'Bebê ou 'Princesinha'. Quando vi pela primeira vez meu Bebê Tigre ou a pequena Angel foram momentos sagrados em que minhas fichas como mãe e protetora caíram, todo meu esforço começara a fazer sentido.

— Lauren... — minha esposa sussurrou trêmula.

Abraçou-me o braço aconchegando em mim, ela estava deixando as lágrimas caírem pelas maçãs-do-rosto. Se isso me atingia em cheio, deve atingir dez vezes mais em Camila... A situação gera muita preocupação, porém, floresceu em ambas uma felicidade enorme em saber que tudo estava indo bem.

— O bebê está saudável? — Camz perguntou olhando para ambas.

— Tudo indica que sim. — a ruiva falou com um sorriso tortuoso. — Eu vi isso centenas de vezes com cachorros, gatos e até furões... — riu pensativa. — Deus...!Estou falando bobagens mas... Esse... Filhote bem ali é meu. — engoliu a seco e rindo da própria sentença.

— Nosso filhote! — Luna afirmou animada.

Minha esposa olhou-me comprimindo os lábios quase adivinhando meus pensamentos, esfregou-me o bíceps tentando me acalmar.

— Vero quer muito ver você hoje. — Camila falou vendo a menina sentar-se sobre a cama.

— É! Quer muito saber de você, fique um pouco para vê-la. — segurei sua mão beijando dedo por dedo. — E se não se importar é melhor irmos agora, deixamos seus dois irmãozinhos sendo 'cuidados' por ela e existe uma pequena probabilidade dos dois ainda estarem vivos e uma menor ainda dela não ter tido um ataque psicótico por causa deles. — falei vendo Camz concordar.

— Alih... — olhou para a ruiva que ficou desconfortável.

A mesma imediatamente forçou um sorriso dando o consentimento de que ambas iriam.

Alina não me dirigiu palavra sabendo que eu também nada a diria, nada pessoal (ou extremamente pessoal), entretanto hei de dizer que a presença dela ainda me causa a sensação de evasão. Não me sai da mente que ela é a rebeldia que desencadeou os maus alvoroços, ela simplesmente chegou.

Onde Devo Estar (Spin-Off) (Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora