Capítulo 1 - Preparativos Para o Anjo

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— Minhas costas doem... — murmurou minha mulher.

A morena latina ficou assistindo TV na sala junto a mim, ela usa uma camiseta branca de tecido muito fino assegurando que não a apertaria demais nem o busto muito menos o ventre. De complemento usou uma calça confortável de cor cinza, estamos assim na beirada da chegada do bebê, uma menininha está prevista para o próximo mês... Camila deu para sentir dor na coluna, dor nos pés, dor de cabeça, dor nas costelas e briga com a inquieta menina em seu ventre a implorando para que pare de chutar e lhe esmurrar as entranhas, nada posso fazer a não ser acalmá-las e rir disfarçadamente. Minha mulher me faz rir com tudo o que faz propositalmente e por acidente (quem me conhecer um pouco mais que um desconhecido sabe muito bem disso).

Apesar de tanto reclamar das costas e do tronco continua sendo o ser mais gracioso do universo.

Podem dizer e até dizem que sou uma otária por ela... Não irei amputar a verdade pelo osso dizendo que é mentira! Sou bastante otária por ela e é daí que sei que nos amamos, ela também é otária por mim. Esse termo mesmo que muito ofensivo e degradante ao orgulho traz em sua definição mais polida o que realmente somos uma para a outra. Mutualmente otárias.

Prezo em dizer que a vendo frágil em demasiado tem derretido o meu coração e alertado todas as minhas paranoias sobre sua sua segurança. Seu estado emocional me deixa confusa sobre o que ela deseja, hora chora por um comercial do Greenpeace, noutra irrita-se por eu ter olhado a bela mulher do comercial de cerveja e não tardando muito está de volta às gargalhadas assistindo desenho com nossos filhos. Falando em desejos confusos tem se entupido de todo tipo de combinação esquisita de comidas, em geral frutas (banana) com condimentos inusitados ou usa a lógica duvidosa de que se juntar duas comidas boas resulta numa maravilhosa.

Errou feio nesse cálculo!

Banana na pizza, banana com molho chipotle, banana com atum... Uma infinidades de nojeiras. E eu não poderia amá-la mais do que a amo. Mais sentido seria dizer que não poderia a amar menos, porque é impossível haver desencanamento com ela, é sempre mais e mais amor, infinitamente. Carregando uma criança nossa consegue ser o duplamente adorável.

— Você fica olhando pro traseiro dela! — exclamou me esmurrando o braço referindo-se à mulher da televisão.

Olhei assustada para os lados e esfreguei onde doía.

— Eu não olhei pro traseiro de ninguém! — me expliquei.

Sua expressão irritada começou a ficar trêmula, eu soube na hora que seu pranto viria.

— Eu sei que estou parecendo uma baleia encalhada no sofá mas você não precisa me lembrar disso! — escondeu o rosto com os palmos e deixou-se deitar no móvel.

Tentei consolá-la sem muitas palavras em mente, fiquei perdida sem saber o que dizer ao certo, de certa seria nada mais que uma reação exagerada.

Mama Tigue! — chamou distante aquela vozinha adorada. — Mama! — chamou também minha mulher.

Estiquei mais o pescoço tentando olhar a escadaria, o menino estava no alto da escada parado, sonolento, fazendo beicinho, de cabelos bagunçados e coçando os olhinhos. Arrastando pelo chão um tigre de pelúcia, sempre esperava uma de nós ou um dos gêmeos ir buscá-lo para subir ou descer as escadas com segurança.

— Estou indo, mí amor! — avisei ao menino.

Beijei o ombro de Camila que continuou encolhida, penso que até tenha esquecido fácil as emoções e esteja cochilando. Levantei-me do assento e fui subindo as escadas devagar e no topo dela Matty foi esticando os braços para mim, o segurei deixando entre nós o espaço de apenas dois degraus que ficaram triviais diante do anseio do encontro, com ele apoiado no meu antebraços descemos de novo.

Onde Devo Estar (Spin-Off) (Intersexual)Onde histórias criam vida. Descubra agora