Faça as suas escolhas

908 67 72
                                    

A semana passou voando e a minha vida tinha se tornado um caos ainda maior. As cobranças em casa estavam cada vez mais intensas, minha melhor amiga finalmente arrumou um namorado e parecia estar ocupada demais para qualquer outra coisa além de se atracar com ele pelos cantos. E não falei mais com Alice. Graças a Deus eu descobri a corrida, isso me ajudava manter a mente limpa.

Eu estava sentada com os meus colegas de classe no intervalo das aulas, discutindo qual era o melhor fast food. Pautas importantíssimas a serem tratadas.

— Quem no planeta gosta de Mc Donald's? O hambúrguer parece a sola do sapato do meu pai – Bernardo disse com toda a convicção do mundo.

— É um clássico! Você não pode falar assim de clássicos – Fernanda prontamente rebateu. – E pra você, Júlia? Qual é o melhor?

Todos os olhares da mesa se dirigiram para mim.

— Eu acho melhor não ter colesterol alto, mas se for pra escolher, BK tem mais sabor. – respondi enquanto brincava com o canudo do suco.

Bernardo abriu um sorriso e não perdeu tempo.

— Toma, Fernanda! Só você gosta daquela porcaria.

Os dois começaram a discutir novamente igual cão e gato. O canudo parecia mais interessante. Meus olhos vagaram pelo refeitório, analisando as pessoas ao meu redor e eu estava totalmente imersa nos meus pensamentos. Até os meus olhos encontrarem Alice. Ela parecia estar se divertindo com os seus amigos, sempre com um sorrisinho sarcástico nos lábios.

Não demorou muito e eu fui pega na minha espionagem. Nossos olhares se cruzaram e começamos a travar uma batalha onde nenhuma das duas parecia querer desistir. Para a minha surpresa seus olhos desviaram dos meus, em seguida pegou uma garrafa de água e desapareceu no meio da multidão. Suspirei. Por que isso era tão importante? Por que eu me importava?

Eu não era capaz de responder.

— Júlia, planeta terra chamando. Tá aí? – Fernanda me cutucou e quando me dei por mim, todos da mesa me encaravam

­­— Hã. oi.

— Tá pensando no que?

Arrumei minha postura e tentei parecer o mais natural possível.

— Ah, estava pensando se o Fábio vai passar nossas notas de cálculo hoje. Preciso fazer um simulado mais tarde e quero usar a nota de parâmetro. – estava torcendo para ser tão convincente quanto em minha cabeça. Não queria dar explicações. Não sobre isso.

— Credo, você só pensa em estudar! – murmurou Bernardo.

Esbocei um sorriso amarelo.

— É, só penso nisso mesmo. – juntei minhas coisas – Preciso ir agora. Até depois!

Eu precisava respirar e limpar a minha mente. Me sentei em um lugar afastado e peguei o livro que Alice me deu. Comecei a folhear as páginas, tentando me concentrar e fazer a minha mente pensar em outra coisa além desse afastamento repentino entre nós, mas lendo algo que tinha recebido dela tornava essa tarefa quase impossível.

— Finalmente consumindo uma leitura de qualidade, modéstia à parte. – Sua voz ecoou nos meus ouvidos como uma bomba. Eu realmente não esperava por isso. Meu estômago revirava em pura e extrema ansiedade. – Posso me sentar aqui?

Acenei positivamente com a cabeça e ela prontamente se sentou do meu lado.

— Você sumiu. – afirmei.

— Estava ocupada com outras coisas. Não pensei que fosse reparar. – seu olhar estava distante e sua mente parecia fazer o mesmo.

— Ninguém veio me perturbar, então ficou fácil assimilar a sua ausência – respondi com indiferença.

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora