Depois de alguns minutos no meu colo em meio a carinhos, Alice parecia ter voltado a ser a pessoa doce e animada que eu conhecia. Sua expressão era calma e seu toque gentil. Parecia ser uma boa hora para conversar.
— Que tal você me explicar o que aconteceu? Eu não entendi nada do que aconteceu.
Alice torceu o nariz.
— Tem certeza de que quer conversar sobre isso? – sua voz não era nada animada.
— Sim.
— O que ganho com isso? É a última coisa que eu queria falar com você aqui – Suas mãos foram para o meu rosto, brincando com a minha bochecha.
— Tem carta branca.
Alice arqueou uma sobrancelha.
— Não prometa o que não pode cumprir, Júlia.
— Estou dando minha palavra.
— Ok – ela se endireitou no sofá – Lembra que eu disse que dar a notícia para os meus pais não seria tão fácil?
— Lembro. O que tem a ver?
— Tudo, Júlia – ela suspirou – Minha mãe não é tão boazinha como você viu. Ela basicamente estava esperando você dar o primeiro passo em falso.
— Então ela estava mentindo? – a cada palavra de Alice eu ficava mais confusa. O que estava acontecendo?
— Na verdade, não. Meus pais sabem ser gentis e receptivos. Se você fosse somente a minha amiga, a história teria sido bem diferente – ela sorriu – Até porque eu jamais te levaria especificamente pra conhecer os meus pais.
— Pode ser mais clara? – perguntei.
Alice fez uma careta. Provavelmente não queria falar sobre.
— Não pense que eu odeio a minha mãe ou algo do tipo. Tirando esse pequeno fato, ela é exatamente a pessoa que você viu – ela fez uma pausa – Mas tem um sério problema em aceitar a minha sexualidade depois do ocorrido – seus olhos ficaram perdidos, eu sentia que essa história não acabava ali – Tive que conversar com eles e explicar porque eu fazia tanta questão de ter você aqui.
— E então?
— Eu disse a verdade – ela sorriu – Contei que eu estava perdida, meio solitária e você conseguiu me deixar bem no meio do caos – sua expressão se tornou séria – Meus pais são gratos e por isso te trataram bem. Eu teria amado se tivesse sido apenas isso.
— Não é? – perguntei curiosa.
Alice sorriu.
— Nem de perto – Alice deitou no meu colo e se endireitou – Minha mãe pegou uma raiva descomunal por lésbicas e coisas do gênero. Meus pais te amaram – ela segurou minha mão – Mas enquanto você é a minha amiga certinha que aparentemente me botou na linha. Se eu tivesse te deixado ali e ficado mais trinta minutos, ela com toda certeza tentaria descobrir se temos algo a mais e partiria para essa parte desagradável. Eu não queria estragar o nosso dia por causa desse tipo de idiotice.
— Agora eu consigo quase entender seu comportamento – admiti – E por que você ficou tão incomodada?
— Ah, Júlia. Eu não acho justo você ter que passar por essa babaquice – seus olhos estavam fixos em mim – Realmente entendo a preocupação deles, mas é desnecessária a forma como agem. Poderiam simplesmente conversar comigo e perguntar diretamente, mas preferem fazer joguinhos e isso me tira do sério. Além de que te tratariam de uma forma que você definitivamente não merece.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sete Luas
RomanceApós uma tragédia familiar, Júlia se fechou para o mundo e tudo o que envolvesse sentir. Ela se encontra em uma fase turbulenta da adolescência e no meio de milhões de questionamentos: escola, família, vestibular, amizades e o que escolher para o se...