A armadura pode corroer

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Uma semana depois e eu ainda pensava que estava em um imenso pesadelo longe de Alice. Não tinha caído a ficha de que nosso momento juntas tinha acabado e que dentro de algumas horas ela estaria embarcando para o outro continente. Será que o que tínhamos era o suficiente para aguentar o peso de cruzar um oceano? Eu não era capaz de responder. Apesar de ter tido momentos incríveis com Alice em Florianópolis, confesso ter saído de lá com outra visão e expectativa quanto ao que tínhamos.

É óbvio que eu a amava e que esse sentimento era recíproco. Tínhamos algo, uma história, uma conexão. Mas por que ela parecia ter medo de assumir isso? Eu estava confusa. Alice poderia ser um pouco mais clara comigo. Não é como se fôssemos casar daqui a três dias. Ou como se eu fosse terminar se ela simplesmente dissesse que não quer assumir um namoro nesse momento.

Ela só precisava me dizer o que realmente queria e eu tenho certeza de que daríamos um jeito nisso.

Nessa batalha interna, parte de mim realmente se esforçava para entender quaisquer que fossem os motivos de Alice. Eu sei que ela teve uma vida cheia de turbulências e talvez isso seja apenas uma reação a isso tudo.

Mas não era hora para isso. Não com ela indo pra tão longe de mim.

O dia estava ensolarado e bastante abafado. Depois de uma semana inteira com a minha mãe pegando no meu pé por conta da saudade acumulada, finalmente ela sossegou e me deu um espaço para respirar. Era a primeira vez em dias que eu simplesmente podia relaxar sem aguentar perguntas que eu não queria responder.

Não aguentava mais responder que Alice não era a minha namorada. E suportava menos ainda não poder dizer o que é que aquilo significava. Ficantes? Não acredito que seja o termo adequado. Afinal, para os amigos de Alice eu era a garota dela. Isso não me parece um relacionamento aberto.

E mesmo que fosse, tenho certeza que lidar com uma Alice só é o suficiente para me deixar completamente entorpecida e entretida. Eu não precisava de mais ninguém.

E torço para que ela também não.

Então éramos o que? Duas garotas com hormônios à flor da pele que, se estivessem perto, se pegariam pelos corredores do colégio tentando driblar a atenção das pessoas? Ou apenas boas amigas que dão beijos ocasionalmente? Por que as coisas tinham que ser tão complicadas?

Juntei as pilhas de papéis que estavam espalhados pela minha cama e comecei a me preparar para a nossa despedida. Estudar não era tão importante agora. Eu só precisava ter um pouco da minha dose diária de Alice.

Liguei o meu notebook e me conectei ao Skype. E, como sempre, ela estava me esperando. Iniciamos a chamada de vídeo.

— Floquinho – sua voz era um misto e entusiasmo com tristeza.

— Hey – respondi com um breve aceno.

Ela franziu o cenho.

— Você normalmente é mais animada. O que houve?

Suspirei.

— Não quero que você vá – admiti.

— Você só complica as coisas.

— O que posso fazer se eu sinto saudade? Não ter você aqui me enlouquece.

Ela levou as suas mãos ao rosto.

— Para, Júlia – ela suspirou – Ou vou trocar a passagem pra São Paulo e você vai ter que deixar eu dormir na sua cama, já que não tenho mais grana pra pagar o aluguel.

— Minha mãe te expulsaria do meu quarto em dois tempos.

Ela sorriu.

— Toda sogra tem pelo menos um defeito.

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora