O sol estava no centro do céu denunciando o meio do dia. O calor queimava a minha pele, mostrando ser a hora de procurar uma sombra. Mais uma volta, pensei comigo mesma. Enchi os meus pulmões de ar e continuei correndo até voltar para o local que eu havia me instalado.
Hoje eu não queria me preocupar com mais nada.
De longe avistei Sofia mexendo no celular enquanto me esperava no lugar que havíamos escolhido para fazer um piquenique. Apertei o passo e em poucos instantes eu estava parada ao seu lado completamente ofegante. Ele notou a minha presença e virou o corpo na minha direção com um sorriso.
— Cansada? – assenti enquanto abria uma garrafinha de água – Podia dar mais umas três voltas pela sua melhor amiga!
Coloquei um pouco de água na mão e joguei em seu direção. Sofia se esquivou rindo.
— Idiota – respondi enquanto me sentava ao seu lado – Estou exausta.
Seu olhar era despreocupado enquanto mexia no celular.
— Imagino. Com a raiva que você estava correndo, aposto que deve ter feito um buraco no chão – seus olhos foram na minha direção – Se sente melhor?
— Não.
Deitei no lençol estirado no chão e cobri o meu rosto com as mãos, tentando driblar os raios de sol.
— Por que recusou o convite da Mel? – perguntou. Eu a odiava por isso.
Há dois dias Melissa havia me chamado para sair, alegando saber que eu era lésbica por ninguém menos que o imprestável do namorado da Sofia.
Idiotice dela insistir nesse assunto.
— Nem eu sei se sou lésbica, Sofia. Nem sei se sou capaz de gostar de outra menina que não seja a Alice, por que insistir nessa idiotice?
— Justamente pra você descobrir!
— Eu estou com a Alice.
— Não estou dizendo para trair a Alice, mesmo que vocês não tenham nada sério. É só conversar com a menina, ampliar o horizonte. Sabe que não posso te ajudar nesse assunto.
— Nosso lance é sério – afirmei.
— E por que não assume?
Levantei as minhas costas abruptamente para olhar nos olhos de Sofia.
— Não sei! – esbravejei – Você sabe que eu não quero falar disso, por que insiste?
— Porque você tá ignorando a sua dor, Júlia.
— Não tem dor nenhuma. Estou bem, obrigada – respondi enquanto deitava de novo.
— E por que estava chorando esses dias?
Odiava quando ela fazia isso!
— Era TPM.
— Júlia! – sua voz era nervosa. Sofia me puxou pelo braço, me fazendo encará-la – Me escuta. Quem convive com você desde que você nasceu?
— Minha mãe, porque sou dois meses mais velha que você.
Ela revirou os olhos.
— Quem é sua melhor amiga desde sempre?
— Você.
— Eu te conheço, idiota. Convivo com você há dezessete anos, que tal você abrir o jogo?
— Você está insuportável.
— É o meu papel – ela deu um leve empurrão no meu ombro – Desembucha.

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Sete Luas
RomanceApós uma tragédia familiar, Júlia se fechou para o mundo e tudo o que envolvesse sentir. Ela se encontra em uma fase turbulenta da adolescência e no meio de milhões de questionamentos: escola, família, vestibular, amizades e o que escolher para o se...