Alice estava encostada em uma parede próxima ao Burger King, mexendo no celular completamente distraída. Seu cabelo estava solto, preso por uma mexa atrás da orelha e eu podia ver o seu cenho levemente franzido como se algo a preocupasse. Com passos firmes, caminhei em sua direção e não demorou muito para ela perceber a minha presença. A expressão preocupada se dissipou com um sorriso.
— Então você veio mesmo. – disse enquanto me analisava. — Pensei que eu fosse comer sozinha.
— Tá dizendo que não cumpro com a minha palavra? – provoquei.
Alice levantou as duas mãos para o alto em sinal de defesa.
— Ei, vai com calma garota! – ela piscou – Estou em missão de paz. Vamos?
Assenti com a cabeça e segui Alice para dentro do restaurante, mais precisamente no lugar que nos sentamos quando viemos aqui a primeira vez. Era inegável como eu me sentia confortável do seu lado. Apesar de toda implicância, seu jeito provocativo e a maneira como ela conseguia me dobrar em duas, eu tinha a sensação de que alguma forma alguém finalmente me entendia. Não que isso não acontecesse com a minha mãe ou com a minha melhor amiga Sofia, mas era uma espécie de entender diferente. E que eu não havia sentido antes.
— Vai me matar com colesterol alto novamente?
Alice abriu um sorriso tímido.
— Não, pode ficar tranquila. – ela examinou o ambiente – Como eu disse, estou em missão de paz.
— Alice! – uma das atendentes gritou seu nome.
— Espera um minuto.
Não demorou muito e Alice estava vindo em minha direção, suas duas mãos estavam ocupadas com dois copos e uma delas equilibrava uma embalagem de papel, provavelmente com os lanches. Prontamente me pus de pé e ajudei Alice, pegando um dos copos e a embalagem de suas mãos. Apoiamos a comida na mesa e nos sentamos novamente.
— Custava você pedir ajuda? – bufei.
— Talvez – ela sorriu – Vamos comer?
— Eu te convidei e era pra eu pagar.
Alice pegou um hambúrguer enquanto sorria.
— Você me chamou para vir aqui e não disse que iria pagar, então não deveria. – ela empurrou a sacola com os lanches na minha direção – O seu está na embalagem de isopor.
Revirei os olhos. Meu orgulho era grande demais para permitir essas cortesias. Espera. Desde quando o Burger King vende algo em embalagem de isopor? Abri e fiquei surpresa com o que vi. Um sanduíche integral?
— Isso aqui é um sanduíche natural.
— Aham – Alice respondeu enquanto devorava o seu lanche.
— Por que fez isso?
Alice terminou de mastigar, limpou os lábios e bebeu um longo gole de refrigerante.
— Você é a menina anticolesterol. Pensei que fosse uma boa ideia pra você se sentir mais confortável.
— Muito gentil da sua parte. Obrigada.
— Por nada.
Passamos um bom tempo comendo em silêncio, o que era algo bem atípico vindo da Alice. Eu perdi alguma coisa e não estava sabendo? Assim que acabamos de comer, comecei a arrumar as coisas para jogar no lixo e me pus de pé.
— Aonde você vai? – Alice perguntou enquanto segurava meu braço.
— Jogar as coisas fora pra gente ir embora. – dei de ombros.
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Sete Luas
RomansApós uma tragédia familiar, Júlia se fechou para o mundo e tudo o que envolvesse sentir. Ela se encontra em uma fase turbulenta da adolescência e no meio de milhões de questionamentos: escola, família, vestibular, amizades e o que escolher para o se...