O que há por trás?

696 59 86
                                    

Eu não tinha certeza do que mais me assustava: a possibilidade de Alice ter alguém ou de eu estar sentindo algo por ela. Meu Deus, o que eu estava fazendo? Como eu pude deixar isso acontecer? Deve ser coisa da sua cabeça, Júlia. A carência da minha melhor amiga estava me deixando louca.

Mas e se eu não tivesse? E se eu realmente sentisse algo além de amizade por Alice?

Como eu poderia resolver isso?

O resto da manhã passou se arrastando e cada guinada do relógio parecia uma faca rasgando as minhas vísceras. Mal podia ver a hora de ficar com Alice e tirar essa dúvida cruel. O sinal tocou e eu sentia o meu coração bater sem compasso algum. Não era possível que eu pudesse ser tão burra em não perceber isso. Tão idiota ao ponto de ignorar todos os sinais.

Precisava limpar a minha mente.

Voltei para casa, organizei as coisas e aguardei Alice chegar. Esperá-la nunca foi tão complicado e agonizante. Em pouco mais de trinta minutos, escutei a campainha tocar. Aja naturalmente.

— Hey – tentei parecer o mais normal possível.

Alice me encarava com dúvida.

— Certo. Eu só queria deixar claro que não apoio o uso de drogas – ela sorriu – Que diabos está acontecendo com você hoje?

Droga.

— Nada – apontei pra dentro de casa – Vamos?

Alice entrou em silêncio e eu podia sentir seus olhos me examinando com um misto de dúvida com inquietação. Nos sentamos no sofá e um silêncio enlouquecedor se instaurou entre nós. Hora de quebrar o gelo.

— Qual é o plano? – perguntei tentando parecer indiferente.

— Exorcismo.

Meus olhos arregalaram.

— Como assim?

Alice começou a gargalhar.

— Só isso pra te deixar normal de novo – ela encostou no sofá – O que tá pegando?

Pegando? Nada...

— Não sei.

— Que tal começar me contando do começo?

Reuni toda coragem dentro de mim.

— Quem é aquela menina que estava com você hoje?

Eu estava me odiando nesse exato momento. Maldita boca!

— Depende – ela deu de ombros – Qual delas? Estive com muitas garotas hoje, inclusive você.

— A ruiva.

Eu pude ver um sorriso no canto do lábio da Alice.

— Sara. Por que o interesse?

— Ela estava flertando com você.

Alice começou a gargalhar como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Céus, só minha avó usaria o termo flertando. Continue. Por que tirou essa conclusão?

Senti o meu rosto queimar. Talvez tenha sido uma péssima ideia entrar nesse assunto.

— Ela estava se jogando em cima de você.

Alice tornou a se encostar no sofá, dessa vez com um sorriso mais proeminente nos lábios.

— Eu sei.

— Sabe?

Ela parecia indiferente.

— Aham. Ela me disse com todas as letras que gostaria de fazer coisas obscenas comigo – ela fez aspas com os dedos – Acha que sou lésbica.

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora