O poder do coração

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A adrenalina corria por cada centímetro do meu corpo. Meus músculos já estavam doloridos, mas parar não era uma opção. Correr era a única coisa que ainda fazia afastar os pensamentos sobre ela.

Alice.

Já fazia quase uma semana desde o nosso último encontro e que ela havia voltado para Florianópolis. Honestamente? A sensação era como se eu vivesse aquele momento em um looping eterno. A imagem dela partindo aterrorizava as minhas noites de sono. Sua ausência tornava os meus dias gris. Seu silêncio estava a ponto de me enlouquecer. Mas eu era obrigada a respeitar. Afinal, eu tinha pedido por isso. Minha inteligência me impressionava às vezes. Era preciso ser muito inteligente pra chegar em um nível de burrice e teimosia tão grande.

Transcendia o aceitável.

O sol queimava a minha pele e o ar começava a ficar rarefeito. Só mais uma volta, pensei comigo mesma. Eu realmente precisava gastar energia com alguma coisa ou eu ia ficar maluca.

Ou eu simplesmente não queria encarar a realidade.

Antes de eu me aventurar nessa corrida, fiz a idiotice de mandar um SMS para Alice com o meu usuário do Skype. O cúmulo do egoísmo e da cretinice, mas eu precisava conversar com ela. Nem que fosse para terminar tudo de vez.

Na primeira vez que ela abriu seus sentimentos para mim, Alice se auto intitulou uma vadia covarde. Eu achava uma sandice ela pensar algo do tipo de si própria. De longe, ela era a pessoa mais corajosa e forte que eu já havia encontrado. Era inegável o seu histórico de perdas e feridas. Mesmo no meio dessa loucura toda, ela se manteve forte e capaz de fazer bem para os outros.

Foi capaz de me mostrar um mundo que eu sequer imaginei conhecer antes da sua chegada na minha vida. Alice recebeu do mundo dor e espalhou amor, sorrisos e conforto por onde passou.

Eu realmente era burra. Perdi a melhor pessoa do mundo por medo.

Se tem alguém covarde nessa história, com certeza não era a Alice.

Sem mais protelar, voltei para casa e fui direto para o chuveiro. Tomei um banho gelado, coloquei uma roupa fresca e liguei meu notebook. Confesso que demorei mais do que o necessário para entrar no Skype, com medo do meu pedido ser negado. Com medo de ser rejeitada.

Caso acontecesse, eu teria que aceitar. Porque eu escolhi isso.

Fechei meus olhos e cliquei no ícone do aplicativo, sem vê-lo abrir com medo do que poderia estar lá. Das duas uma: poderia surgir uma pop-up com o pedido de amizade dela ou só sobraria o silêncio. Eu entenderia.

Mas Alice era muito melhor do que eu, assim que entrei, uma notificação com um 'oi' seu subiu. Ela estava online. Céus! Senti meu estômago revirar e minhas mãos tremerem. A ansiedade havia se tornado a maior parte de mim. Como eu ia ligar? O que eu tinha pra dizer? Eu queria dizer algo? Ela queria me dizer algo? Afinal, tinha algo pra ser dito? O medo se instaurou dentro de mim, mas eu não podia amarelar. Não podia simplesmente continuar ignorando os meus sentimentos com medo de sentir.

Quando meu pai morreu, estava próximo do meu aniversário de sete anos. Gostaria de ter mais lembranças dele. Na nossa última noite juntos, mamãe tinha ido viajar para um congresso e chegaria pela manhã. De alguma forma, eu pressenti que algo não estava indo bem. Ou que algo iria acontecer. Uma das poucas lembranças que eu tinha é de que eu corri para os seus braços no meio da noite, chorando com medo daquela sensação. Meu pai fechou o livro que estava em suas mãos e, com um largo sorriso, me acolheu em um abraço.

— Não consigo dormir – eu estava a ponto de chorar, o medo de alguma coisa era iminente.

Ele passou seus dedos entre os fios desgrenhados do meu cabelo.

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora