Um dos maiores erros que a minha mãe cometeu foi ter me deixado com tempo livre. Ela poderia ter feito essa gentileza quando Alice ainda estava aqui. Agora só me resta tempo ocioso e uma cabeça confusa. Era difícil lidar com as pessoas quando a sua cabeça aponta apenas para uma longe demais da sua vista. E de você.
Em pleno sábado de manhã eu estava acordada, olhando pro teto e pensando um monte de questionamentos inúteis só para não pensar no quanto eu sentia falta da Alice. Isso é o que chamam de fim de carreira.
Mamãe foi trabalhar, Sofia estava viajando com o namorado e meus outros dois amigos próximos provavelmente estavam se pegando em algum canto da cidade.
— Deus me livre, mas quem dera – Falei comigo mesma.
Suspirei.
Eu precisava arrumar alguma coisa para espairecer a mente.
Aprender uma nova atividade?
Ler um novo livro?
Tudo parecia entediante.
Me pus de pé e procurei uma roupa de ginástica na bagunça que eu chamava de armário. Precisava dar um jeito nisso. Urgente. Assim que me vesti, coloquei meus fones de ouvido e saí para correr na vizinhança.
Comecei com uma caminhada leve e fui aumentando progressivamente. O embalo da corrida fazia o meu sangue pulsar com força em minhas veias. Não demorou muito e eu já estava ofegante, mas parar não era uma opção. Não ainda.
Como era possível eu estar no momento com mais pessoas ao meu redor e conseguir me sentir tão sozinha? As coisas eram mais fáceis quando minha mãe só pensava em trabalho, eu só tinha que lidar com Sofia e os outros eram apenas antigos amigos que se tornaram colegas.
Talvez eu tenha entendido de verdade o que são relações. Daria qualquer coisa pra ouvir o Bernardo falar o quão estava apaixonado pela Fernanda ou sobre todas as qualidades ilusórias que a Sofia via no Guilherme.
Passar uma tarde com a minha mãe também seria ótimo. Estar com Alice seria o paraíso.
Mas nesse momento eu não tinha nada disso. Apesar do momento ser efêmero e durar no máximo um dia, eu apenas queria aproveitar o tempo ao lado de alguém. Valorizar as relações incríveis que eu havia construído. Ou talvez eu tenha acordado carente.
É uma teoria bem plausível. Minha mãe estava na correria com as coisas do trabalho, meus amigos todos estavam namorando e a Alice estava em outro estado. Apesar de quase me encaixar nesse lance de namorar – não que fosse uma realidade – eu estava sozinha.
Mesmo tendo alguém eu estava sozinha. Segurando vela de todo mundo e lidando com a saudade. O tempo todo. Não me sentia forte o suficiente pra lidar com isso.
O ar ficou rarefeito em meus pulmões e decidi que era a hora de dar um descanso pra eles. Voltei caminhando para casa e sem pestanejar fui direto tomar um banho. Assim que terminei, peguei meu celular e fui checar as minhas notificações. Para a minha surpresa, tinha um SMS da Alice.
Me liga qdo puder, floquinho.
Será que ela estava sem internet? Não demorou muito e o meu celular tocou.
— Oi, terceira idade – eu podia sentir um tom de provocação em sua voz.
— Oi, chata. O que quer?
— Seja mais carinhosa, Júlia.
— O que quer vossa excelência? – respondi séria.
— Sem ironia.
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Sete Luas
RomanceApós uma tragédia familiar, Júlia se fechou para o mundo e tudo o que envolvesse sentir. Ela se encontra em uma fase turbulenta da adolescência e no meio de milhões de questionamentos: escola, família, vestibular, amizades e o que escolher para o se...