O silêncio era ensurdecedor e até aquele instante eu não conseguia agir. Eu podia sentir a respiração pesada de Alice do outro lado da linha.
Resolvi tomar uma atitude.
— Alice? – perguntei receosa.
Ela soltou um longo suspiro do outro lado da linha.
— Nada, Júlia – sua voz parecia perdida – Vamos fazer isso funcionar. Certo?
Pela primeira vez não senti firmeza em suas palavras. Não parecia ser a Alice.
— Tem certeza?
— Absoluta – ela fez uma pausa – Minha mãe postiça está me chamando para jantar. Posso te ligar mais tarde?
— Claro.
— Te amo, floquinho. Não se esqueça jamais disso – sua voz parecia embargada, mas eu não podia afirmar com certeza.
— Também amo você.
Se eu já estava me sentindo mal com essa situação toda, agora eu estava dez vezes pior. O que tinha acabado de acontecer? Por que Alice parecia tão receosa? Será que ela estava pensando em desistir? Eu provavelmente não teria essas respostas tão cedo. E nem sei se gostaria de tê-las.
Levantei e comecei a pegar os livros que estavam no chão. Fiz uma pilha com todos eles e coloquei na mesinha de cabeceira.
Suspirei.
Nem parecia que eu tinha tido dias maravilhosos em menos de um mês. O que tinha mudado no meio do percurso? Por que tudo parecia diferente? Não sei se eu estava tão feliz com isso tudo.
Voltei para a cama e me afundei nos meus travesseiros. Eu sentia como se houvesse um vazio dentro de mim que não podia ser preenchido. Livros no parque, corridas pelo quarteirão, estudar na biblioteca da escola. Na parecia ser suficiente para me manter ocupada o bastante. Ou preencher o vácuo que havia se instaurado dentro de mim.
A solução tinha um sorriso lindo e mil tiradas na ponta da língua. E estava em outro continente. Isso era ridículo.
Eu sempre tive a minha rotina, os meus hobbies e a minha liberdade. Sempre tive os meus amigos, o meu mundo e tudo estava bem! Eu estava confortável. Não ligava para relacionamentos, apesar de ter flertado com a ideia uma ou duas vezes.
Nunca achei que fosse necessária a companhia de uma pessoa. Mas Alice mudou essa percepção somente com o poder da sua presença nos meus dias. Era como se existisse uma corrente elétrica que nos conectasse e fizesse tudo entrar em colapso. Mas de um jeito bom.
Eu sentia falta de me sentir assim. Da conexão, dos momentos, dos sinais. De absolutamente tudo que envolvesse a nossa realidade e eu simplesmente não conseguia preencher isso.
Senti meu telefone vibrar, era a Sofia.
— Oi, Sofia.
— Júlia! Se troca, coloca uma roupa bonita, vamos te pegar em 15 minutos na sua casa.
— Não quero sair – respondi mau humorada.
— Você não tem escolha, bebê – escutei um sorrisinho – Até já!
Droga.
Odeio isso na Sofia!
Já que eu não tinha escolha, me pus de pé e comecei a procurar uma roupa. Eu não ia gastar muita energia com isso, afinal, nem de casa eu queria sair.
Assim que terminei de me arrumar, peguei o meu celular e liguei para a minha mãe. Se ela chegasse em casa e não me visse, provavelmente ela teria uma síncope.
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Sete Luas
RomanceApós uma tragédia familiar, Júlia se fechou para o mundo e tudo o que envolvesse sentir. Ela se encontra em uma fase turbulenta da adolescência e no meio de milhões de questionamentos: escola, família, vestibular, amizades e o que escolher para o se...