Pode chamar isso de amor?

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Já estávamos quase no final de setembro e a minha vida estava uma verdadeira loucura. O fim do ano se aproximava, a correria do último bimestre, meus estudos e minha vida social. Ou a inexistência dela, para ser mais clara. Confesso que ficar tão dependente da presença de Alice não foi a melhor das decisões. Agora que ela não está mais aqui, me sinto completamente desnorteada. Quer dizer, ela ainda estava.

Combinamos de nos falar todos os dias em um horário fixo; dessa forma a gente podia matar um pouco da saudade. Eu já podia esperar: 23h o celular ia tocar. Nos primeiros dias eu sentia meu estômago embrulhar de tanta ansiedade quando o nosso horário estava próximo. E agora não está muito diferente.

Era mais uma manhã na escola, sentada na mesma mesa e com as mesmas pessoas. Exceto pela presença de Felipe, um amigo bem babaca do Bernardo.

— Quem é o homem da relação? – Felipe perguntou com um tom de deboche. Seus olhos me encaravam, claramente estava tentando me desestabilizar.

— Ninguém. Somos meninas – dei de ombros.

— Você tá errada, Júlia – Sofia me interrompeu – Pra serem meninas de uma relação, não teria que ter uma relação primeiro? – sua expressão era divertida e eu mostrei a língua em resposta.

— Como vocês se conheceram mesmo? – perguntou Fernanda enquanto apoiava a cabeça no ombro do Bernardo. De nada, pensei comigo mesma.

— Ela puxou assunto comigo no Villa Lobos e desde então a gente tem se esbarrado por aí – eu não queria dar muitos detalhes, até porque nem eu mesma sabia de todos os detalhes. As coisas com Alice simplesmente aconteceram.

— Não imaginava que você fosse lésbica – Fernanda ponderou – Pelo menos sei que você não vai dar em cima do Bê – suas mãos foram em direção da bochecha dele e apertou.

— Vocês são nojentos – soltei em meio a uma risada – Nem eu sabia. Sigo sem saber até hoje.

— Como assim? – Sofia perguntou.

— Eu gosto da Alice.

— Isso te faz lésbica – Bernardo respondeu enquanto enfiava um monte de batata frita na boca. Ogro.

— Talvez. Mas quem sabe? – dei de ombros – Eu só gosto da Alice.

— E qual é a diferença? – ele perguntou.

— Se Alice fosse um poste e me fizesse sentir do jeito que ela faz, provavelmente eu gostaria – fiz uma pausa – O que quero dizer é que não se trata de ser uma mulher, mas de quem ela é. O lance é a Alice.

— Então você é bissexual? – Fernanda perguntou.

— Li em um lugar que chamam isso de sexualidade fluída – Sofia soltou.

— Gente, não tem nome. Eu posso ser lésbica, posso ser bi, posso ser hétero. Isso não importa. Eu gosto da Alice e isso é esclarecedor o suficiente.

— Pra mim você é sapatão – Felipe resolveu quebrar o silêncio.

— Que ótimo. Pra mim você é um imbecil – respondi.

— Não te faz menos sapatão.

— E não te torna menos babaca – sorri – Pra sua sorte, não ligo pra sua opinião.

— Aposto que você concorda que a Alice é uma gostosa.

— Cai fora. Agora.

— Ou o que?

— Eu vou tirar você.

Todos da mesa arregalaram os olhos. Se eu estivesse me vendo de fora, provavelmente faria o mesmo. Que diabos eu estava fazendo?

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora