De qual lado vai jogar?

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Eu estava há quarenta e cinco minutos olhando para o teto, na tentativa frustrada de entender o que tinha acabado de acontecer. De onde eu tinha tanta raiva acumulada? Talvez Sofia tivesse razão. De alguma forma, as respostas e o posicionamento de Alice eram importantes pra mim. Tão importante a ponto de me fazer perder o completo controle da situação e praticamente vomitar tudo o que eu sentia numa ligação.

Tinha sido necessário. Muito provavelmente eu não escolheria esse momento, essas circunstâncias e o modo que foi dito, mas ainda bem que havia sido feito. Alice precisava acordar pra vida e perceber que eu quero isso tanto quanto ela, mas não mais do jeito antigo.

Com um total de zero surpresa, Sofia rompeu a porta do meu quarto como se fosse dela. Privacidade era algo quase nulo pra mim.

— Você quer me matar do coração, Júlia? Se quiser, me avisa que eu mesma coloco uma faca no peito! – disse no ápice do seu drama. Sofia sendo Sofia.

Suspirei e girei o meu corpo na sua direção.

— Por acaso já te ensinaram o que é privacidade? – perguntei ácida – Se eu desliguei o celular, é porque eu não quero falar com ninguém. Inclusive você.

Sofia caminhou na minha direção e sentou na ponta da cama. Ela não parecia nem um pouco abalada com as minhas palavras.

— Não ligo pro seu discurso de raiva – seus olhos me encaravam fixamente – Estou preocupada com você, Júlia.

— Eu vou ficar bem.

— Quando? Só vejo você piorar! – sua voz era preocupada – Por que saiu de lá? A Melissa fez algo de ruim pra você? Se ela fez eu vou puxar aquela garota pelos cabelos e...

— Você não vai fazer nada – ela me olhava confusa – Melissa me ajudou.

— E quem eu tenho que matar?

Soltei uma gargalhada irônica.

— Alice, serve?

Seus olhos se arregalaram e ela ficou visivelmente pálida.

— O que aconteceu, Júlia?

— Bom – disse enquanto me sentava na cama – Melissa veio me avisar que, por conta da história que o seu namoradinho espalhou, uma das fãs da Alice está furiosa comigo e decidida a atrapalhar as coisas entre nós para ficar com ela.

— Quem é a vadia?

— Isso não importa, Sofia. Eu não ligo pra essas meninas afim da Alice. Ela sabe ser conquistadora e não é novidade nenhuma que deva ter alguma outra pessoa querendo ela – abri um sorriso sem graça – Acontece que ao saber dessa história voltei correndo para casa pra contar pra Alice, na esperança dela me dizer como agir até ela chegar.

Ela parecia confusa.

— E aonde isso deu errado?

— Na minha conversa com a Melissa, ela deixou expressamente claro que – fiz aspas com os dedos – "Eu faço o número dela" e que se tivesse a oportunidade – pigarrei – Ela sairia comigo. A Alice tinha conhecimento disso e surtou achando que eu estivesse em um encontro com a Melissa e, segundo as palavras dela, descumprindo o nosso acordo.

— Mas vocês não têm nada oficial – Sofia afirmou.

— Exato – suspirei – Resumindo a história, não gostei da cobrança da Alice, joguei um monte de coisa na cara dela e disse que se ela quiser ter algum poder de posse, que me assuma em primeiro lugar. Porque eu não quero mais ficar em cima do muro.

— E aí?

— Ela disse que tudo bem e eu desliguei.

Sofia parecia atônita.

Sete LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora