Mayu e Ayumi estavam sentadas num grande tapete no chão do quarto. O pacote estava entre elas. As duas arrancaram os grampos que lacravam a grande sacola e verificaram o conteúdo. A primeira coisa que se podia ver ao abri-la era um tecido preto. Ayumi o pegou e o levantou. Era um disfarce. Um macacão de tecido fino que esticava. Era pequeno demais para uma adolescente, então Ayumi deduziu que era feito de collant. Haviam dois deles e dois óculos à prova de balas que possuíam elásticos para prendê-los à cabeça. Pareciam óculos de airsoft. Além disso, lá dentro estavam quatro botas pretas do mesmo tamanho, quatro luvas pretas e duas máscaras. No fundo da sacola havia uma pequena maleta de alumínio. Mayu a tirou cuidadosamente e destravou as duas trancas. Lá dentro havia uma pequena bomba que não passava de dois explosivos ligados por fios a um cronômetro. Era uma bomba relógio. Além disso, havia outra coisa na maleta: uma espécie de controle com dois botões redondos e vermelhos. Cada um tinha um nome gravado abaixo. "Countdown" e "stop". Com o pouco de inglês que sabia, Mayu deduziu que eles serviam para iniciar e parar o relógio da bomba.
-É, parece que a bomba é verdadeira. - disse Ayumi.
-Temos o explosivo, mas e agora? - disse Mayu.
-Agora é só esperar a segunda-feira chegar.
Mayu olhou para a maleta por alguns segundos, e um sentimento de incerteza foi aos poucos surgindo.
-Ayumi, você tem um plano?
-Relaxa. Já está tudo aqui. - Ayumi aponta para a própria cabeça.
Apesar do entusiasmo da sua amiga, Mayu ainda estava com receio de fazer aquilo. Mesmo tendo prometido ao Tadashi, mesmo tendo jurado matar todos que um dia lhes fizeram mal, ela desde pequena foi ensinada a viver sempre dentro da lei, e que criminosos e terroristas são seres desprezíveis. Entretanto um pensamento surgiu para motiva-la a prosseguir com o plano. Se ela fosse presa, Mayu teria que dar a luz na cadeia, além de ficar anos longe do seu bebê, para cumprir pena. Sem falar na imensa decepção que tomaria o coração de sua mãe e de seu tio policial. Por isso ela estava disposta a fazer aquela atrocidade, pela família dela e pelo seu futuro filho.
E por falar em filho, a Mayu ficou bem pensativa na noite anterior. Enquanto Ayumi quebrava a cabeça pensando num jeito de conseguir a bomba, Mayu, deitada em sua cama no meio da noite, pensava com seus botões, refletindo que uma pessoa teria que amar muito outra para assumir um filho que não é dela.
No dia anterior sua amiga declarou seu amor e afirmou que o fato da Mayu estar grávida não lhe tirava o desejo de ser sua namorada.Uma namorada. Mayu nunca se imaginou tendo uma. Nunca em sua vida seus pais se sentaram com ela para conversar sobre heterossexualidade ou homossexualidade, por isso sua orientação sexual atual foi fruto de tudo o que ela viu na vida. 99% dos casais que a Mayu viu ao logo dos seus anos eram heteros, por isso ela chegou a conclusão de que homens só podem se relacionar com mulheres, e vice-versa. Outro fator que engrandeceu essa opinião foram suas primeiras aulas de biologia e anatomia. Entretanto um indivíduo do sexo feminino assumiu seu amor a ela, confissão que botou a cabeça da jovem Yamazaki para trabalhar. Mayu rejeitou Ayumi, mas ficou pensando nela durante a noite. "Uma mulher como par romântico", a jovem se perguntava se aquilo era pra ela. Para discordar dessa questão, o pensamento que perdurava desde que a jovem descobriu como os bebês eram feitos apitava em sua cabeça, dizendo que esse tipo de paixão é biologicamente absurda. Yamazaki até poderia ter aceitado a confissão da amiga se não considerasse aquilo tão errado. Mayu se sentia-se mal por ter rejeitado a amiga. "Talvez tenha sido egoísmo com a Ayumi colocar fatores biológicos acima de sentimentos..."
Apesar dos seus fortes ideais, Mayu tentava se imaginar lésbica. "Como deve ser? Será que há diferença?", ela se perguntava. A jovem estava realmente confusa diante da sua sexualidade, até que chegou numa conclusão. "Eu sou jovem e ainda não experimentei outros amores e sensações para afirmar se gosto de homens ou mulheres". Além disso, uma das razões mais fortes para ela, por toda a sua vida, ter se imaginado casando-se com um homem é o desejo de ser mãe. Razão que se tornou descartável a aquela altura, já que como ela estava grávida, e foi rejeitada pelo pai da criança, não importa mais com quem ela se case, ela vai ser mãe de qualquer maneira, o que a deixava livre para se relacionar com quem ela quisesse. A questão é: quem seria o par ideal para a jovem? Um garoto ou uma garota?
Pensando nisso Mayu tentou usar a lógica junto com suas experiências para decidir qual o gênero ideal para ela, tipo uma competição que ela criou na cabeça. A primeira coisa que lhe veio à mente foi que tudo o que ela conseguiu com os homens foram sequelas de estupro e um óvulo fecundado. Realmente Hiroshi, Satoru e Itou eram uma desgraça para o seu gênero. Isso dava -3 pontos para os meninos na competição. Mas pensando bem, as garotas também não foram excepcionalmente amáveis com a Mayu, principalmente o trio liderado pela Haruka, que davam -3 pontos para as garotas. De pessoas jovens cuja a Mayu não tem nenhuma relação sanguínea só restavam a Ayumi e o Tadashi para avaliar. Obviamente os dois eram pontos a favor de seus gêneros. Com isso tudo em mente o resultado da "Competição Para a Escolha do Gênero Ideal Para a Mayu" terminou num empate de -2 a -2. Realmente o resultado negativo era uma prova de que, independente do gênero, a humanidade é uma merda. Segundo a lógica do empate negativo então a Mayu teria que assumir que nenhum gênero servia para ela, mas é claro que ela não iria decidir sua orientação sexual baseada em apenas 8 pessoas que ela conhece.
Dizem que essa coisa de uma pessoa não saber direito se é hetero ou gay é só uma fase da vida. A Mayu estava passando por essa fase. "Homens, Mulheres ou os dois?", "Hetero, Lésbica ou bi?", "O que eu sou? Do que eu gosto?" Ela passou um tempo refletindo sobre essa questão, até que cedeu ao cansaço e adormeceu.
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Mayu
Mystery / ThrillerNo friends, no life. Essa era a vida de Mayu Yamazaki, uma estudante de 16 anos que vivia sua vida sendo torturada por três colegas de classe que só faziam aquilo por diversão. Ela vivia apenas com a perpétua esperança de que tudo poderia ser melho...