A Garota Suspeita

9 2 4
                                    

Masami entra sem bater.
Dentro de sua sala, o detetive direcionava toda a sua atenção em algumas folhas de papel que ele segurava.

-Chefe? - disse a mulher. Hiro estava tão distraído que só percebeu sua presença quando ela chamou.

-Ahn? Sim, Masami? - olhou para ela, com um sorriso estranho. Algo nos papéis pôs esse sorriso em seu rosto.

-Desculpe te incomodar. Eu só queria confirmar se a sua reunião com o diretor da Nipon Mumei ainda está de pé.

-Claro que sim! Principalmente agora. - Hiro voltou seu olhar para o papel.

A moça ruiva ajeitou seus óculos de arame, e se aproximou do chefe.

-Parece feliz hoje. É raro te ver sorrindo no trabalho. - comentou.

-Isso não é bem felicidade. Posso dizer que estou intrigado e ao mesmo tempo surpreso.

-E o que te surpreende?

Hiro pediu para sua estagiária/secretária se sentar para poder lhe explicar melhor.

-Depois de muito tempo a equipe de análise forense me entregou o resultado da autópsia da Sakura Hashimoto e da análise feita no smartphone que foi encontrado junto ao corpo.

-E qual foi o resultado?

-Os resultados da autópsia foram o que eu já esperava: ela quebrou o pescoço. O que mais me chamou a atenção foi o celular. - Hiro claramente estava entusiasmado ao explicar isso para alguém - Na memória do dispositivo foram encontradas centenas de fotos, e a maioria delas são do Hiroshi Fukushima. Intrigante, não? O que a Sakura fazia com o celular, que segundo o dono, foi roubado? Como você deve se lembrar, há algumas semanas uma garota da Nipon Mumei foi estuprada por dois indivíduos. Esse crime ocorreu depois dessa garota receber um torpedo de alguém pedindo para ela encontrar esse alguém nas docas, e lá ela foi estuprada. O dono do celular que enviou o torpedo alegou que lhe tinham roubado o celular no vestiário da escola. Segundo duas testemunhas, um indivíduo não identificado estava bisbilhotando os armários do vestiário. E agora esse telefone apareceu despedaçado bem ao lado do cadáver da Hashimoto. Agora eu vejo. Os dois crimes estão ligados! Não dá pra bater o martelo e dizer que foi a Sakura quem armou tudo mas ela é a principal suspeita.

-Mas e quanto à morte da garota? Foi suicídio ou assassinato? - Arriscou a pergunta. Apesar de as informações e fatos sobre os casos da D.P., segundo outros agentes da mesma, não serem da conta de pessoas comuns com cargos simples na delegacia como a Masami, a mulher se mostrava curiosa diante desse caso, mesmo correndo o risco de receber um "isso não diz respeito à uma mera estagiária/secretária."

Não passaram nem dois segundos desde que Masami fez a pergunta, quando ela mesma interrompeu o detetive que estava prestes a falar.

-Esqueça. Essa informação é sigilosa, certo? - e esboçou um sorriso envergonhado.

-Sim, é. E eu não a passaria para qualquer um, porém, apesar de ser minha secretária, você também é uma agente em treinamento que estuda para ser minha parceira, então eu acho que posso confiar essa informação a você.

Masami sorriu timidamente. Isso a fazia se sentir especial, e que valia a pena estagiar como uma pessoa que só atende ligações e agenda compromissos se fosse para trabalhar ao lado daquele homem que ela amava.

-Fico feliz que confia em mim. - suas bochechas coraram.

-Bem, quanto à sua pergunta, eu não sei bem se foi suicídio ou assassinato. Se for ela a mandante do crime, podemos sugerir que ela não suportou o peso na consciência e se matou. Entretanto... - Hiro fechou os olhos e suspirou - Podemos considerar que a garota estuprada descobriu quem armou tudo, buscou vingança e assassinou a Sakura...

-Acha mesmo que uma colegial seria capaz de matar sua colega?

-Seria injusto não suspeitar da garota estuprada... Mesmo que eu reze para que eu esteja completamente equivocado dm minhas suspeitas. Eu não poderia aceitar... Eu me recuso a aceitar que ela seja uma assassina.

-Por quê se importa tanto com isso? Se Yamazaki for mesmo uma assassina, ela não passará de uma criminosa comum, será julgada, condenada e então o caso estaria encerrado.

-Masami, eu sou o chefe dessa D.P. e tenho que estar atento a todos os casos que ficam sobre nossa responsabilidade, mas sabe o porquê de eu ter um interesse tão grande neste caso em especial?

-Não, e já que tocou nesse assunto, os outro se perguntam a mesma coisa.

-A verdade é que Mayu Yamazaki, a garota estuprada, é minha sobrinha.

-Nossa... - Masami ficou surpresa.

-Agora entende o meu medo?

-É compreensível.

-Eu até estava sorrindo surpreso por esses casos estarem tão ligados, mas quando parei pra pensar na minha suspeita... - Hiro respira fundo e tenta se mostrar maus positivo - Bom, nenhuma suspeita deve ser levada como verdade absoluta até que se prove, e ainda há muito para se investigar. Eu sou adulto e não devia me preocupar assim.

Masami sorri para o detetive.

-E não deveria mesmo.

Masami e Hiro se levantam e caminham um em direção ao outro. Eles se abraçam e Hiro beija a mulher. Masami teve que se por nas pontas dos pés, para compensar a nítida diferença de altura.

Interrompendo aquela demonstração de amor e afeto, um dos policiais invade a sala com notícias urgentes.

-Detetive Mahiro!

O casal se assusta com o jeito que o policial entrou.

-Daishi! O que significa isso?!

-Senhor, acabamos de receber uma ligação! Houve uma explosão no colégio Nipon Mumei!

-O quê?!

Quando todos se deram conta, uma semana havia se passado. O suposto atentado terrorista na Nipon Mumei High School foi notícia em todo o país. No total foram 23 mortos, incluindo funcionários e alunos da escola e nenhum ferido. Todas as escolas daquela região foram fechadas por uma semana, e a rede de escolas públicas que gerenciava a Nipon Mumei declarou que o colégio seria permanentemente fechado. Durante essa semana, os conselheiros decidiram que cada turma da escola destruída seria recolocada em uma escola diferente, já que nenhuma outra instituição da rede tinha estrutura para abrigar tantas turmas e tantos alunos.
Mayu e seus colegas foram imediatamente matriculados na Asahi Gakko, que fica mais longe, o que obriga a Mayu e outros alunos a pegarem o trem.

Mayu acordou no horário de sempre naquela segunda-feira. Levantou-se sonolenta e foi para o banho. Seu uniforme estava pronto, passado e pendurado em um cabide na porta do guarda-roupa. Para Mayu, aquela roupa nem se comparava ao clássico uniforme da Nipon Mumei. Primeiro ela vestiu a saia xadrez com tons de verde escuro, em seguida a camisa social branca onde estava costurado o brasão da Asahi Gakko. O brasão era feito de um escudo do tipo heater, e dentro do escudo a imagem de um sol nascente nas cores verde e branco. Abaixo do brasão, uma faixa vermelha com a inscrição:

              Asahi Gakko High School
                                1957

Mayu deu o nó em sua gravata vermelha vinho e colocou seu blazer verde escuro e o abotoou por cima da camisa, deixado a parte de cima da gravata a mostra.
Mayu não se sentia bem vestindo aquele uniforme, pois ele a lembrava do fim trágico que levou a sua antiga escola e seus professores. A imagem da Momokino agonizando de dor ainda a perturbava. Depois do corpo ser liberado, Momokino foi cremada. Mayu, que apesar de querer ter ido ao funeral e sua mãe ter insistido para ela ir, não se achou digna de ver sua professora favorita uma última vez.
Mayu, durante a semana, se sentiu a pessoa mais suja e egoísta do mundo por ter sacrificado a vida de muitos em troca do seu próprio bem estar.
Ela estava a salvo? Sim. O plano que ela quis executar foi bem sucedido? Claro. Mas isso teve um alto custo.
Ayumi telefonou algumas vezes para perguntar se a amiga estava bem. A ruiva não entendia o porquê da Mayu estar tão triste e abalada sendo que ela mesma teve a ideia de explodir a escola. Ao que parece, o plano parecia menos traumatizante na cabeça da Mayu.
Mayu não queria ficar com raiva da Ayumi por ela ter executado Momokino a sangue frio. Ela é sua melhor amiga e estava cogitando ter um relacionamento com ela, então Ayumi simplesmente a perdoou, afinal a ruiva só queria ajudá-la.

Mayu terminou de se arrumar e vai para a cozinha. De lá ela consegue ouvir uma notícia que passava na TV:

" -Nesta manhã, milhares de alunos irão retornar às aulas nas escolas em torno de Minato-Tóquio. A segurança foi reforçada em áreas próximas a região. Carros de polícia farão a ronda em torno das escolas. Há uma semana ocorreu a tragédia da escola Nipon Mumei, que matou 23 pessoas, e até agora nenhum grupo terrorista assumiu responsabilidade ao atentado..."

-Bom dia mãe. - disse Mayu.

-Bom dia, meu amor. - Hinata levou para a mesa um super café da manhã para a filha. Ela fez misoshiro, chá verde, omeletes, ovos fritos, bacon, torradas com manteiga, suco de laranja, peixe grelhado e frango frito com curry.

-Mãe, o que é tudo isso? - Mayu se maravilhou. Tudo o que ela gostava num café da manhã estava lá.

-É pra você, meu bem. - Hinata sorriu.

-Alguma ocasião especial?

-Não. Só quis fazer um café especial pra minha filhinha.

Hinata estava de folga no dia da explosão na escola. Ela viu a notícia no primeiro plantão e se desesperou imaginando que o pior havia acontecido com a Mayu. Quando viu que sua filha estava bem, Hinata chorou abraçada nela por 10 minutos. Agora ela levantou cedo para fazer esse agrado para sua filha para lhe desejar um feliz primeiro dia de aula e como uma prova de seu amor por ela.
Mayu sentou-se a mesa e comeu com o maior bom gosto. Aquilo animou sua manhã.
Hinata sorria vendo sua filha cheia de vida comendo.
Mayu comeu bastante, mas quando ela terminou nem um quinto do que estava sobre a mesa desapareceu.

-Estou cheia. - disse Mayu dando uns tapinhas na barriga.

-Estava bom?

-Estava ótimo! Obrigada pela comida.

-Tudo por você, meu amor.

Mayu, só naquele momento, notou um embrulho em cima do balcão.

-O que é aquilo?

-É que hoje é o aniversário do seu tio Hiro e eu comprei um presentinho. Antes de eu ir pro trabalho, vou fazer uma visitinha surpresa pra ele lá no D.P.

As vezes Mayu se surpreendia com o quão atenciosa sua mãe era.

-Acho melhor eu ir antes que eu perca o trem. - disse Mayu, se levantando.

Hinata acompanhou a filha até a porta.

-Tenha um bom dia.

Hinata, sem aviso, abraçou sua filha. Mayu não esperava por aquele gesto aleatório. Hinata acariciava sua cabeça e beijava sua bochecha.

-Eu te amo tanto, minha preciosa. - disse a senhora Yamazaki, que não largava a filha por nada - Meu bem... Meu amor... Meu tesouro...

-M-Mãe...?

-Ah, desculpa. Estou te atrasando, né? - Hinata sorriu envergonhada - Pode ir. Se cuida.

-Certo. Também te amo, mãe. - Mayu a abraçou. Hinata sentiu um calor confortável em seu coração.

Mayu partiu para sua nova escola e seu primeiro dia de aula.
Durante seu percurso a pé até a estação de trem, Mayu se encontrou com a Ayumi, que ficou feliz ao vê-la.

-Oiii! - A ruiva veio correndo e acenando.

-Bom dia, Ayumi. - Mayu sorriu timidamente.

No D.P. os policiais estavam começando a vir para trabalhar.
Masami, que acabara de chegar, foi até a sala do chefe para cumprimentar seu namorado. Antes de entrar ela ajeitou sua blusa florida e sua saia branca

-Bom dia amor. - disse ela.

-Bom dia. - Hiro não tirava os olhos de alguns papéis. Ele estava sério.

-O que é isso tudo?

-Resultados e relatórios sobre o caso da Nipon Mumei.

-Algo de bom?

-Digamos que demos um belo salto em outras investigações.

-Como assim?

-Por favor, feche a porta e sente-se que eu te explico.

Masami obedece.

-Todo mundo pelo país e até gente de fora... Todos estão dizendo que o que aconteceu foi terrorismo mas eu digo que não!

-Por quê você acha que não?

-Primeiro, não foi terrorismo e nem acidente. Olhei o resultado das autópsias feitas nos corpos e a maioria morreu com a explosão, com a exceção de dois: a professora Hatsune Momokino e o diretor Harold Kojima. Kojima não teve seu corpo completamente consumido pelas chamas, isso possibilitou que a equipe notasse uma ferida em seu pulmão. Algo extremamente afiado penetrou em seu peito, atingiu e atravessou o órgão e saiu nas suas costas. E foi assim que ele morreu.

-Pode ter sido um escombro.

-Impossível. Nada, além de uma lâmina afiada, poderia fazer um corte tão limpo. Mas o que mais me chamou atenção foi a Momokino. Ainda que seu corpo estivesse destruído na autópsia, não foi a explosão que a matou. O pessoal descobriu um furo bem no meio da sua testa. Um buraco de bala calibre 38 disparada a queima roupa que fez um estrago danado. Alguém entrou lá depois da explosão e terminou de matar essas pessoas.

-Bom, isso tudo faz sentido, mas não descarta a hipótese de terrorismo ou ajuda em outros casos.

-Calma, vou explicar. - Hiro tira da gaveta da mesa um saco transparente. E dentro dele tinha um livro: " Black Cat". O mesmo que a Mayu perdeu.

-Um livro? - perguntou confusa.

-Sim, eu o encontrei nos escombros e tenho certeza de que ele pertence ao assassino.

-Mas Hiro, lá é uma escola! Deve ter milhares de livros por lá!

-Foi isso o que eu pensei antes de dar uma investigada. Eu li nas regras da escola que cada livro que chega deve antes ser carimbado com o símbolo da escola antes de ir para a biblioteca e que cada professor deve escrever seu nome em seus próprios livros para não serem confundidos com a propriedade da escola. Este livro não tem carimbo nem assinatura. Ele está limpo! E o mais importante: eu pedi, por curiosidade, para o Drake do laboratório comparar as digitais encontradas no smartphone encontrado perto do corpo da Sakura Hashimoto com as digitais encontradas neste livro, e adivinha só? Foram encontrados três tipos de digitais no celular. Uma da Sakura. Uma do Hiroshi. E outra desconhecida que não está no nosso banco de dados. Só foi encontrado um tipo de digital neste livro. Essa digital combina perfeitamente com aquela não identificada no telefone! Isso quer dizer que o dono daquele livro tocou naquele celular antes da Sakura morrer, isso aumenta a minha suspeita de que ela foi assassinada. Outra coisa: a professora Momokino marcou pra mim uma reunião com o diretor Kojima. Ele iria me contar detalhes e suspeitas que só ele sabia sobre a morte da Hashimoto e no mesmo dia da reunião ele morre! Não é certo pensar assim mas acho que alguém não queria que eu me encontrasse com ele e o matou, e essa pessoa que o matou provavelmente matou a Sakura e está envolvida com o estupro da Mayu Yamazaki!

-Então está dizendo que...?

-Os três crimes estão ligados. Há por aí uma pessoa que está envolvida nessas três ocorrências e muito provavelmente é um aluno da turma 2-1 da Nipon Mumei.

-E o que você pretende fazer?

-Por enquanto investigar mais. É também pensei em dar um nome para o nosso assassino. Pensei nesse livro. Esse livro chamado Black Cat era o preferido do meu melhor amigo. O infeliz me fez o ler página por página. Ele conta a história de um assassino estrategista conhecido como Black Dar que se envolve em uma série de assassinatos. Pensei em apelidar nosso cara de Black Cat.

-Bom nome.

-A parte ruim disso tudo é que agora a minha sobrinha é a minha maior suspeita. Nem vou contar isso pra mãe dele, senão ela vai surtar. Mas devo ter fé que não é ela. - Hiro se levanta da sua cadeira - Vou pegar esse assassino!

Masami vai até ele.

-Meu herói, sei que você vai pegar o desgraçado.

Hiro a abraça e a beija.

-Mas, amor, mudando de assunto, nós já namoramos há meses, quando você vai contar pra sua família sobre nós? - diz Masami.

-Logo amor... logo.

-Bem, aproveitando que você não está ocupado... - Masami tira uma caixinha da bolsa. A caixa de um relógio de pulso.

-Oh, Masami... - Hiro sorri.

-Não achou que eu tinha esquecido, né? Feliz aniversário, meu amor!

-Obrigado. Hmm, um relógio?

-Sim. Você sempre reclama que os daqui estão sempre atrasados. Desculpe, não deu tempo de embalar. Foi a minha filha que escolheu.

-É lindo. Agradeça a ela por mim.

Hiro preparava-se para beijá-la novamente, quando Hinata entrou na sala e os pegou no flagra.

-Hiro?

MayuOnde histórias criam vida. Descubra agora