A Garota do prédio em pedaços

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A jovem Yamazaki caminhava em direção à mais um dia de aulas. Na esquina de sempre ela encontrou a jovem Saito, a esperando para que elas pudessem seguir para a estação de trem.
Ayumi notou sua namorada chegando e correu até ela.

-Oi. - disse Ayumi.

-Bom dia.

Saito notou una vermelhidão na bochecha da Mayu.

-O que foi isso? - perguntou.

-Acabei apanhando da minha mãe. - respondeu Yamazaki.

-Ela reagiu tão mal assim?

-Na verdade ela reagiu melhor do que eu esperava. Isso foi porquê escondi a gravidez dela. No geral ela ficou chateada pela minha irresponsabilidade mas vai me apoiar no que for.

-Menos mal.

As duas se cumprimentaram com um beijo e seguiram caminho.

-Minha mãe quer conversar com você. - disse Mayu.

-Sobre o bebê?

-Isso.

-O que você acha que ela vai dizer pra mim?

-Nada de mais. Coisa de mãe, sabe? Ela só quer ter certeza de que você está pronta para assumir essa criança.

-Estou prontíssima. No orfanato eram as garotas mais velhas que cuidavam dos bebês que chegavam. Eu fiquei responsável por um recém nascido abandonado, por 6 meses. Fiquei meio pra baixo quando ele foi adotado. Quando você cuida de alguém assim todos os dias acaba se apegando. Claro, eu não era a única que cuidava dele, tinham outras que ficavam com o carinha quando eu ia pra escola ou saía pra dar uns amassos...

Mayu fechou a cara.

-Não sei se quero saber das suas ex namoradas.

-Ex ficantes. Nunca namorei, você é a minha primeira.

-Ex ficantes. Por favor, não fale mais nelas.

Ayumi encarou Mayu com um sorriso.

-O quê? - perguntou Mayu, ainda de cara fechada.

-Você.

-O que tem eu?

-Nada. - Ayumi ri.

Na escola, já no intervalo do meio dia, Haruka andava pelos corredores do terceiro andar. Procurava por seu namorado que sumira da sua vista quando o sinal tocou. Em suas mãos ela carregava dois almoços guardados em potes plásticos personalizados com o nome do casal H&H. Começando a ficar irritada, Haruka virou à direita no corredor e avistou seu namorado próximo à uma grande janela de vidro conversando com uma bela moça de pele morena. Os dois riem bastante e a garota parecia muito à vontade com o Hiroshi. A senhorita Nishizawa chegou perto do namorado.

-Hiroshi! Quem é ela?

-Ah, nem vi você chegando, Haruka. Essa é a Amara, uma estudante de intercâmbio da Nigéria.

Haruka olhou Amara dos pés à cabeça.

-Vamos comer antes que nosso almoço esfrie. - Nishizawa puxou o garoto pelo braço.

-Ei, estamos tendo uma conversa aqui!

-Não quero saber!

Ela o puxa com mais força e o leva para um lugar mais particular.

-Quem é ela?! - perguntou enfurecida.

-Eu já disse, uma estudante de intercâmbio.

-Quero saber o porquê de você estar falando com ela!

-Ora, é uma velha amiga. Tem um tempo que não a vejo.

Haruka respira fundo.

-Você já transou com ela?

-O quê...? Claro que não!

-Eu te conheço! Não mente pra mim!

-Tá, perdemos a virgindade juntos na sexta série, tá feliz?

Haruka fecha os olhos. Suas mãos tremiam muito. Ela cerrou os punho e gritou o mais alto que pôde. O som ecoou pelo corredor vazio. Os almoços que segurava caíram espalhando comida pelo chão. Em seguida ela socou a parede várias vezes. Hiroshi se espantou com a reação da Haruka. A mão dela sangrava. Ela ergueu-a como se fosse bater no garoto, mas se conteve. Nishizawa limpou as lágrimas que acabaram escorrendo dos olhos e olhou, quase chorando, para o jovem. Pegou sua carteira no bolso da saia e, com a mão ainda trêmula, entregou 12 mil ienes para o Hiroshi.

-E-Eu pagarei para que você nunca mais fale com ela... e... pagarei extras pra você aparecer na escola com o seu anel e me beijar...

Hiroshi, hesitante, pegou o dinheiro. Em seguida Haruka tira um frasco amarelo de comprimidos do bolso e engole um.

-Conto com você para chamar alguém pra limpar essa bagunça. Use seu dinheiro para comprar outro almoço, e se precisar de mais é só me pedir. - ela dá meia volta e sai - Preciso esfriar a cabeça.

Mais tarde, saindo da estação de trem, o casal de jovens retornava da escola.

-Então, hoje finalmente vai ser o dia que vou conhecer a sua casa? - perguntou Mayu.

-Tem certeza de que quer ir hoje? Ela está um pouco bagunçada e empoeirada.

-Sim, ainda mais depois de ouvir isso! Tenho que me certificar do quão desleixada você é.

-Isso é só com a casa! Cuido bem do meu corpo. Não me importo com a bagunça ao meu redor se eu estiver plena e linda. - Ayumi joga uma piscadela para a namorada.

-Vai se importar quando seu quarto virar uma colônia de bactérias.

Após alguns minutos de caminhada, Ayumi anunciou:

-Chegamos.

Mayu olhou o prédio da base ao topo. A construção parecia ter mais de meio século de idade, e com certeza não recebia uma reforma há tempos.
O casal adentrou a recepção. Lá só havia um homem dormindo com os pés sobre o balcão. Adormeceu lendo o jornal, agora caído em seu peito. Ayumi cutucou-o, o que fez acordar bruscamente, quase caindo da cadeira.

-Porra menina! Não sabe respeitar o sono de um homem?!

-Preciso que abra a porta pra mim. - disse Ayumi.

-Tá, tá! Pronto! - com o toque de um botão ele destravou a porta que dava nas escadas. Ele tenta dormir novamente.

O casal chegou na grande escadaria de madeira. Mayu ficou relutante sobre subir nela. As tábuas dos degraus pareciam ser frágeis. Ayumi prometeu que era seguro. Yamazaki foi devagar. As tábuas rangiam muito a cada passo.
No primeiro andar as duas foram paradas por uma senhora idosa, de roupão e sandálias.

-Oi filha, você viu o Jack por aí? - perguntou a velha, de fala lenta.

-Não, senhora Takeda, e acho que ele não vai voltar. - respondeu Ayumi.

A velha sorri para a ruiva.

-Não, tenho certeza de que ele vai aparecer! O pobrezinho ainda não comeu o atum do almoço. Se você o vir por favor me avise.

-Sim, senhora.

As duas voltam a subir as escadas.

-O gatinho da Sra Takeda morreu há quase um ano, mas ela ainda acha que ele vai voltar.

No segundo andar, sentado no chão, estava um homem de macacão cinza fumando um cigarro. Quando o sujeito viu a Ayumi, levantou rapidamente e passou correndo desesperadamente pelo casal e desceu as escadas, quase caindo.

-O que foi isso? - perguntou Mayu, espantada.

-Aquele é o Sr Sho. O zelador do prédio.

-Tenho dúvidas sobre a qualidade do seu trabalho, mas qual o motivo dele ter reagido assim?

Ayumi riu.

-Ele é assim comigo desde o nosso pequeno incidente.

-Defina esse "pequeno incidente".

-Quando eu me mudei pra cá o Sr Sho me ajudou a carregar minhas tralhas, e no final ele quis um pagamento. Pediu pra eu chupar o pinto dele. Eu me recusei, ele ameaçou me estuprar, mostrei meu revólver e ele me deixou em paz desde então. Tinha que ver a cena! Eu não sabia que um bêbado podia correr tão rápido! - Ayumi gargalhou com a lembrança.

-Olha, eu realmente estou ficando preocupada com a quantidade de gente estranha perto de você!

-Você acaba se acostumando com esse pessoal.

O casal subiu mais uma vez a escada para o terceiro andar, onde a ruiva morava.

-Prontinho. Apartamento 302.

Mayu entrou primeiro. Lá ela pode ver a situação deplorável do lugar. Não havia sequer um móvel. As roupas da ruiva estavam jogadas numa mala pois não havia guarda roupa. O chão de madeira era coberto de poeira, a tinta da parede, descascada. Havia una única lâmpada incandescente pendurada por um fio. A cama da Ayumi era só um colchão velho no chão.

-Lar doce lar. - disse a ruiva sorridente.

-Ok, você não vai mais morar aqui.

-Como se eu tivesse escolha. Além disso, não é tão ruim viver aqui.

-Ayumi, eu só estou aqui há 30 segundos e já posso apontar tudo o que pode te fazer mal. Aquela janela perto do seu colchão me parece ligeiramente emperrada, e eu duvido que aquele ar condicionado funcione. Tá cheio de poeira e não tem ventilação. - Mayu caminhou até a cozinha e verificou os armários - Panelas com resquícios de ferrugem, comida guardada indevidamente num local devorado por cupins. Aliás, comida não, besteiras! Aqui só tem biscoitos e miojo! Não vejo filtro de água, então presumo que você beba direto dessa torneira velha, água essa que tenho medo de descobrir a procedência. Eu poderia continuar mas acho que você já entendeu onde quero chegar.

-Como eu disse antes, não é tão ruim assim.

-Ayumi!!!

-É por isso que eu não queria te trazer aqui! Eu sabia que você iria se preocupar. Claro que eu gostaria de morar num lugar melhor mas não está no meu controle! O Jackie tá lutando pra me sustentar. Eu só estou vivendo aqui provisoriamente até ele...

-...Te levar pra uma cidade mais pacata pra se esconder?

-Pois é... Eu tinha me esquecido disso... m-mas eu não vou! - Ayumi vai até a namorada e segura sua mão - Tenho um compromisso com você e nosso bebê. Vou avisar ao Jackie que vou ficar aqui. Fique tranquila pois não vou te abandonar.

Mayu abraça Ayumi.

-Acredito em você. Mas não vou ficar tranquila sabendo que você vive nessas condições.

-Bom... O que posso fazer?

-Pode vir morar comigo.

-Oh... Mayu... isso é uma proposta e tanto... Mas... Não posso fazer isso... Não posso te dar esse trabalho.

-Não se diminua assim. Vai ser ótimo te ter em casa! Vou conversar com a minha mãe.

Ayumi abraça novamente a namorada.

-Você é incrível, sabia?

-Só estou cuidando da pessoa que amo.

Mayu notou alguns papeis sobre uma cadeira e foi verificar, desconfiada. Eram três cartas.

-Ayumi, o que significa isso?

-Ah... Eu devia ter jogado isso fora antes de te trazer aqui...

-Não me respondeu. - disse com a cara fechada.

-São cartas... cartas de amor. Recebi de alguns garotos da escola. De vez em quando recebo algumas declarações.

-Hum...

-M-Mas não se preocupe, eu rejeito todas!

-Uhum...

Ayumi nota o rosto vermelho da Mayu e ri.

-Ai que fofo! Você está com ciúmes!

-Aaah! É claro que estou com ciúmes! Tem gente mandando cartas de amor pra minha namorada!

-Você também estava assim hoje de manhã quando falei das minhas ex ficantes.

Saito vai até Yamazaki e a abraça.

-Eu nunca senti ciúmes. - disse Mayu - É estranho, não gosto disso. É só que... Você é tão bonita. Você atrai olhares por onde passa, tantas pessoas te desejando...

-Bom... eles podem até ver... - Ayumi lança um olhar sedutor para a namorada - ...mas só você pode tocar. Fico feliz por você sentir ciúmes. É sinal que me ama.

-É claro que te amo! E não me olha com essa cara de tarada. Não sei quando ou onde vamos transar pela primeira vez mas com certeza não vai ser em cima daquele colchão.

Ayumi ri. Em seguida as duas se beijam.

-Prometo falar com a minha mãe hoje. Essa vai ser a última noite que você dorme aqui, eu juro!

As duas se despedem e Mayu volta para casa. Hinata já estava de volta do trabalho terminando de assistir seus blu-rays.
Mayu se aproximou.

-Mãe?

-Oi filha. - respondeu sem tirar os olhos da TV.

-Eu queria te pedir um enorme favor.

-Que seria?

-É um pedido um pouco incomum e repentino. E eu sei que não estou na posição de pedir coisas, já que estou grávida na adolescência e...

-Filha... - Hinata a interrompe - Eu te amo, você é a luz da minha vida, mas até você tem que concordar que esses seus momentos dramáticos antes de me falar algo estão ficando um pouquinho chatos. - Hinata ri.

Mayu ri envergonhada.

-Então vou ser direta. A Ayumi pode morar aqui?

-Já estão querendo juntar os trapos?

-Não é isso, é que o lugar onde ela mora me preocupa.

-Algum problema com a casa dela?

-Na verdade a casa dela é o problema. É num prédio velho, em más condições. Tem gente estranha morando lá. Ela dorme no chão e não tem dinheiro pra viver num lugar melhor. Ela não queria me mostrar a casa dela mas hoje consegui ver o estado do lugar onde ela vive. É horrível, mãe! Não vou ficar bem sabendo que ela está lá!

-Entendo a sua preocupação. Mas, como vocês disseram, ela recebe bolsa do governo pra morar aqui. Ela recebe tão pouco assim.

-Ah... sabe como é o governo... - mentiu Mayu.

Hinata se levanta do sofá, desliga a TV e pega sua bolsa no balcão da cozinha.

-Aonde você vai?

Hinata sorri.

-Vocês não pensam em dormir juntas numa cama de solteiro, né? Vou comprar uma maior.

-Sério?

-Como vocês duas vão ter um filho, uma hora ou outra teriam que morar juntas. E que lugar seria melhor do que aqui? Assim posso ficar de olho e ajudar. Meu salário não é lá essas coisas, mas se juntarmos com a minha pensão de viúva e o pouco que a Ayumi ganha poderemos viver bem nós 3.

Mayu corre pra abraçar sua mãe.

-Como você pode ser uma mulher tão boa assim? - disse a jovem.

-Tenho que te compensar pelo que vou fazer com o seu filho. Neto meu vai ser tão viciado em yaoi quanto eu! - risos.

MayuOnde histórias criam vida. Descubra agora