A Garota furiosa

0 0 0
                                    

O céu amanheceu cinza naquele dia. Hiro foi trabalhar cedo. Às 5 da manhã já estava na recepção cumprimentando os colegas que terminavam o turno da noite.
Drake do laboratório apareceu com boas novas.

-Chefe, finalmente estou com o resultado da análise daquelas digitais e da amostra de sangue que o senhor me pediu.

-Obrigado.

Hiro entrou em sua sala pronto para abrir o documento. Ele ficou apreensivo. O conteúdo do envelope determinaria se sua sobrinha estava ou não envolvida com os crimes da Nipon Mumei. O detetive sentou-se na cadeira e colocou o documento em cima da mesa, o observando por um tempo. Decidiu que isso não o levaria a lugar nenhum e pegou o envelope determinado a abri-lo. Pegou o abridor de cartas, posicionou, mas foi interrompido por um dos funcionários da D.P.

-Chefe, estou aqui com o relatório da madrugada. - disse o homem. Estava cabisbaixo.

-O que ocorreu de mais grave? - perguntou Hiro.

-Bom, só alguns bêbados causando baderna na principal, um acidente de carro sem fatalidades... e um homicídio. Em nome de todos do departamento, eu quero expressar as minhas mais sinceras condolências.

-Do que está falando?

-Da sua irmã, senhor...

Hiro ainda não estava sabendo do ocorrido. Ele não quis acreditar quando soube. Quase desmaiou. Ficou em choque. Largou tudo, inclusive o envelope, e correu até a casa dos Yamazaki.

O funeral foi no dia seguinte pois o corpo ficou por 24 horas com a perícia. Mayu não pregou os olhos nesse tempo. Chorou incessantemente por horas, sentada na cama dos seus pais. Ayumi teve que dar banho nela pois nem motivação para isso a jovem tinha. Saíram às 8 em ponto de casa. Foram num carro preto para o velório que aconteceria na casa de velórios da funerária. Yamazaki tinha lembranças terríveis de um lugar como aquele. Há muito tempo não ia a um funeral, a última vez fora quando seu pai morreu. Pisando os pés lá, imediatamente foi transportada para a aquele fatídico dia. Lhe veio a mente a imagem da sua mãe chorando sobre o caixão do marido, seu tio Hiro abalado por ter perdido o melhor amigo, e a pior lembrança de todas, a imagem do seu pai deitado, pálido, morto. Na época Mayu não entendia bem as coisas da vida mas sabia que nunca mais veria seu papai. Agora, 11 anos depois, ela teria que passar pela mesma coisa.
Entrando pela porta da frente da casa de velórios acompanhada por Ayumi, Mayu foi bem recebida pelas pessoas, todos de preto. A jovem pôde rever alguns parentes e amigos distantes que vieram prestar homenagens. Todos foram cumprimentá-la. Eles sabiam que de todas das pessoas ali presente, Mayu era quem mais estava sofrendo pela perda. Ela permaneceu mais calma por uma hora. Tomou um chá calmante e conversou com algumas pessoas. Durou pouco tempo. Assim que a jovem viu os funcionários da funerária carregarem o caixão para dentro, ela não resistiu. Desmaiou e acordou pouco tempo depois. A jovem passou o resto do dia ao lado da mãe, chorando e sussurrando coisas como se estivesse conversando com ela. Sua namorada não saiu de perto dela por nem um segundo, prestando todo o apoio. Não comeu, não bebeu, não falou com mais ninguém. Seu tio Hiro estava por lá também, sempre sério, também não quis papo com muita gente. A verdade é que ele estava arrasado mas não queria chorar na frente da sobrinha, então se trancou por meia hora no banheiro para desabafar sozinho. Outra que apareceu foi Masami, obviamente triste por ter perdido a melhor amiga que tinha acabado de voltar para a sua vida. Acompanhada a ela veio Akari. Uma das últimas pessoas que Mayu queria ver, portanto a jovem simplesmente a ignorou... exceto por um momento. Todos os presentes conversavam distraídos, apenas Akari estava sozinha, olhando de longe, até Mayu lançar um olhar repleto de ódio para garota. Ela se assustou pois nunca recebeu um olhar tão perturbador. Com medo, ela foi para perto da mãe.

Com o velório chegando ao final era a hora de todos prestarem as últimas homenagens. Quem quisesse, poderia ir até o púlpito ao lado do caixão e falar algumas palavras. O primeiro que se dispôs foi Hiro.

-Hinata Yamazaki foi uma mulher forte. Criou uma filha sozinha por muito tempo. Ouso dizer que foi a primeira melhor amiga que tive. Me lembro da primeira vez que a vi. Eu era uma criança e ela tinha acabado de nascer. Ela estava no colo da nossa mãe no hospital. Minha irmã parecia tão frágil, era tão pequena, que naquele dia eu jurei protejê-la. - Hiro olha para o caixão - Eu falhei. Peço perdão. Você foi a melhor ir na que eu poderia ter tido. Vai fazer falta. Obrigado.

Todos ficaram em silêncio esperando que a próxima pessoa fosse falar.

-Mayu, você quer falar algo? Sussurrou Ayumi.

A jovem mexeu a cabeça em negação. A ruiva então decidiu que precisava dizer algo. Ela levanta e vai até o púlpito.

-Oi. Muitos aqui não me conhecem. Meu nome é Ayumi Saito, sou namorada da Mayu. Eu não passei anos com Sra Yamazaki como a maioria aqui, mas mesmo com tão pouco tempo pude perceber a mulher de ouro que ela era. Ela me convidou pra dormir na casa dela sem nem me conhecer. Abençoou minha relação com sua filha quando muitas mães achariam isso um absurdo. Me acolheu em sua casa, me deu um lar. Eu lhe sou eternamente grata. Vai fazer muita falta. Posso dizer que eu a amava, pois nesses últimos anos a Sra Yamazaki foi o mais perto que eu tive de uma mãe. E eu prometo a ela... Eu juro que farei até o impossível para cuidar da sua filha e do seu neto que está vindo. Obrigada.

Ayumi voltou para o lado da namorada. Mayu sorriu e agradeceu.

-Eu quero falar algo. - disse Mayu, se levantado. - Eu não sei por quê alguém faria algo assim com a minha mãe. Mas esse alguém merece pagar pois ele fez o mundo perder uma mulher maravilhosa. A maior mágoa que tenho é saber que meu filho nunca vai conhecer sua querida avó por causa desse sujeito. Mas algo me diz... Eu sinto que o mundo fará justiça!

O cortejo estava prestes a partir quando Hiro veio falar com sua sobrinha em particular.

-Mayu, sobre o que você disse, não se preocupe. Eu farei de tudo para pegar o culpado.

-O culpado vai pagar, tio Hiro. De algum jeito ele vai.

-Quero falar outra coisa. É claro que você pode vir morar comigo. Eu sei que está grávida, é um momento delicado e vai ser difícil daqui pra frente, portanto eu estarei disponível para qualquer coisa, e Masami também se dispôs a ajudar.

-Eu agradeço, mas Ayumi e eu vamos morar sozinhas. Vou receber pensões do governo até poder me sustentar então dinheiro não vai um problema tão grande. Vai ser complicado mas vamos nos adaptar.

-Bom, nesse caso se precisar de qualquer coisa não hesite em me procurar.

O resto do velório ocorreu como planejado. O enterro ocorreu às 17 horas no cemitério do bairro. Mesmo após todos irem embora, Mayu ficou ajoelhada em frente ao túmulo por um tempo, chorando. Hinata foi sepultada bem ao lado do seu marido. A jovem rezou pela alma dos dois e pediu proteção.
Mayu ainda estava destruída. A pessoa mais importante da sua vida lhe foi arrancada. Num momento toda a tristeza que ela sentia se transformou em ódio. Ela agora só pensava em assassinar brutalmente o desgraçado que ousou tocar em sua mãe. Um sentimento que brotou do lugar mais obscuro do seu coração. Uma fúria inimaginável. Mayu enfiou a mão no bolso, e de lá tirou um anel. Um anel prateado, com as inscrições "H&H". Ela o encontrou na cozinha da sua casa junto ao sangue da Hinata. A jovem encarou a joia e já sabia quem ela deveria procurar. Mayu se levanta. Seus joelhos estavam vermelhos do tanto de ela ficou ajoelhada, e limpou os olhos inchados. Ela deixa o anel sobre o túmulo e caminha até a porta do cemitério onde Ayumi a aguardava.

-Vamos! - disse Mayu.

-Vamos aonde?

-Matar um certo alguém.

MayuOnde histórias criam vida. Descubra agora