Efeito Deacon

1K 143 89
                                    

Roger estava de bom humor.
Tinha chorado de manhã? Sim, mas isso faz parte da rotina dele. Um chorinho aqui, outro ali... Já se tornou comum.
Ok, não era um bom hábito. Mas Roger nunca foi de ter bons hábitos.

Estava decidido a ir a biblioteca.

Se estava com medo? Muito. Muito mesmo, mas precisava ver John. Precisava sentir o cheirinho dos livros novamente.
Colocou uma roupa boa. Apesar da camisa estar meio amarrotada e a calça ser de seu pai, parecia um ser humano decente. Ajeitou a boina na cabeça e colocou os sapatos.
Foi até a porta, e colocou a mão sobre a maçaneta.

Travou.

Por que pensou que seria tão fácil?
Talvez as palavras de Bri tivessem o encorajado. Mas não era fácil.
Era terrivelmente assustador.
Sentiu vontade de chorar de novo.
Não queria mais ser tão covarde.
Tirou a mão da maçaneta. Sentou no chão e abraçou as próprias pernas. Se sentia como uma criança boba. Era lamentável.

Roger Taylor era um adulto, mas não conseguia nem sair de casa.

Queria parar. Queria parar de se isolar do mundo e viver trancado em seu apartamento. Mas a ideia de parar era assustadora.
Começou a pensar consigo mesmo que com Deacon, estaria seguro. Não importa o que acontecesse, estaria com Deacon. Mas para estar com ele, teria que passar pela porta. Pela maldita porta.

Ouviu duas batidas. Era como Bri anunciava sua chegada. Antes mesmo do homem conseguir escrever algo, Taylor começou a falar.

- Quero ir ver o John hoje, Bri. Mas estou com muito medo.

O bilhete foi passado por debaixo da porta.

"Então vá."

- Eu queria que fosse simples assim.

"Você pode tornar simples."

- Como, Bri? Me diz, como?

"John é uma pessoa muito especial pra você, não é? Pra coisas boas acontecerem, a gente precisa sacrificar algumas coisas. Como o conforto da nossa casinha. E eu sei que não é simples assim, eu sei, porque eu sei o quanto você sofre. Mas pensa que por ser tão forte do jeito que você é, você vai receber uma grande recompensa. Vai ver o John, porque conseguiu passar por tudo isso. Desde a ideia assustadora de abrir a porta, até ir a biblioteca. Porque você é forte, incrível e capaz. E eu acredito em você."

- Você... Acredita em mim?

"Com toda certeza :)"

Algumas lágrimas sorrateiras ousaram descer pelas bochechas macias de Roger. Ficou feliz, porque alguém acreditava nele. Alguém tão incrível e admirável quanto Bri acreditava que ele era capaz.

- Eu vou tentar. Eu prometo que vou. Mas, por favor, não me leve a mal, eu quero que saia do corredor antes. E-eu não quero te magoar, sério! Você não me deixa desconfortável nem nada, mas eu tenho vergonha de aparecer na sua frente. Desculpa por ser tão bobo e envergonhado assim, sério, mil perdões, por favor, não fica magoado...

- Eu entendo.

Ouviu uma voz masculina dizer isso atrás da porta. Poderia jurar que seu coração pulou uma batida. A voz que tinha acabado de ouvir era a de Bri? Aquela voz? Não tinha conseguido gravar mentalmente, ficara tão perdido. Desejava que Bri falasse mais uma vez. Só mais uma vez para ele poder ouvir e gravar. Foi tão de repente. Claro que não esperava um aviso de 24 horas de antecedência vindo de Bri dizendo que diria algo em voz alta, mas se bem que gostaria de ter recebido um, apenas para se preparar para aquilo. Era uma voz bonita, apesar de não reconhece-la.
Isso atiçou ainda mais a curiosidade do loiro. Ficava imaginando aparências variadas para Bri. Era mais alto ou mais baixo? Os cabelos eram escuros ou claros? Os olhos eram de que cor? Gostaria muito de saber. Se tivesse uma maneira de ele ver Bri sem Bri o ver, gostaria de conhece-la, apenas para poder admirar o rosto do rapaz por horas e horas. Com certeza era bonito. O dono de uma voz daquelas deveria ter um rosto tão doce quanto.
Até se esqueceu que iria ver John. Para falar a verdade, não tinha coragem realmente. Só havia falado aquilo para Bri não se decepcionar.

Havia feito Bri ir para casa por causa de uma mentira. Se sentiu mal. Poderia ter passado a tarde toda conversando com ele se não tivesse mentido.

"Amanhã eu vou ver o Deaky." Pensou. Gostaria que fosse verdade, mas temia ser outra mentira. O jovem dos olhos azuis nunca gostou de mentir, mas sempre foi obrigado a realizar tal ato. Algumas coisas exigem que outras sejam outras inventadas, apenas para omiti-las.

Se não fosse ver Deaky, se sentiria culpado. Por deixar ele por tanto tempo.

Será que John sentia saudades de Roger?

Esperava que sim. Porque o loirinho sentia muita saudade de John. Tanta que se sentia como se fosse explodir. Todos os melhores momentos de sua vida ou grande parte deles foram passados ao lado do rapaz. Todos os seus aniversários a partir dos treze anos, os bailes do colégio, seu primeiro beijo com um garoto.
A primeira vez que foi chamado de "bicha" pelos seus colegas de sala.
Não foi um bom momento. Mas haviam passado isso juntos. E estar com ele amenizava a dor. Era como se Deacon fosse tão radiante que sugasse toda a tristeza de Taylor e jogasse pelo ralo.

Esse é o "Efeito Deacon", que caiu sobre as garotas - E muito provavelmente sobre os garotos também - de sua época no colegial. Quem não era apaixonado naquele sorriso? Naqueles olhos, em tudo. No charme. O jeito de falar, a simpatia. Era mágico. Ele lembrava aqueles príncipes saídos diretamente de contos de fadas, que sempre estava impecavelmente encantador.

Se sentiu uma garota adolescente boba apaixonada novamente. Apesar de não estar mais apaixonado por John. Ou pelo menos gostaria de pensar que não.

Na verdade, não queria estar apaixonado. O amor só lhe causara dor. Temia se apaixonar de novo. Mas era mais do que inevitável, visto que, qualquer pessoa que mostrasse se importar já fazia o rapazinho soltar lágrimas e mais lágrimas.

Mas tinham pessoas especiais, também.
Como Deaky.
E Bri. Bri era, definitivamente, único e especial.

Letters for Roger TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora