Na mão direita segurava um grande guarda-chuva colorido, na mão esquerda um pão de mel. Não era tão bom quanto o que Bri havia lhe trazido, mas ainda sim era gostoso. Foi muito difícil pedir aquele doce. Não estava acostumado a sair e muito menos a comprar muitas coisas, então não sabia muito bem o que fazer. Mas conseguiu sobreviver.
Tentava se lembrar do caminho até a biblioteca, seguindo as ruas que lhe eram familiares. Não poderia pedir ajuda para as pessoas que por ali passavam, era muito tímido e assustado para tal coisa. Preferia fazer por sí mesmo, mesmo que fosse difícil.
Franziu os olhos para poder enxergar melhor. Talvez precisasse de óculos, mas não lhe incomodava muito com isso. Parou em frente à uma grande construção, e imediatamente pôde ler a placa em letras garrafais que dizia "Biblioteca Municipal". Entrou apressado, quase tropeçando em seus próprios pés, mas retomando o fôlego, porque isso seria uma situação muito constrangedora até mesmo para Roger.
Olhava em volta, foi até o bom e velho balcão que tanto costumava ver e tentou olhar se havia alguém ali. Ninguém. Deixou os dois livros que havia pego meses atrás ali em cima, direcionando-se até as estantes. Tinha medo de John não estar lá.
Olhava seção por seção. Romance, ficção, infantil, e até os livros de matemática, apesar de sempre ter odiado matemática. Foi na sessão de livros de fantasia, uma que ficava aos fundos, que pode encontrar uma cabeleira castanha. Observou de longe o rapaz com cinco livros empilhados ao seu lado e um aberto em seu colo. Quem quer que fosse, era um leitor assíduo.
Deu uma risadinha. John era bem assim.John...
John?
O homem levantou a cabeça, aparentemente, procurando o dono daquela risada. Pousou seus olhos sobre o loiro parado ao final do corredor, arregalando-os.
Voltou a observar o livro em suas mãos, posicionando o marca-página na página 63 e o fechou.
Levantou e logo foi andando em passos apressados até a silhueta que via.Roger se assustou um pouco. Entretanto, assim que foi podendo enxergar o rosto do rapaz com clareza, entendeu. Era Deacon. Sorriu. Não pensou que realmente estava acontecendo. Não conseguiu acreditar. Estava tão, tão feliz. Correu um pouco, apressando a colisão dos dois corpos, dando um grande e apertado abraço no garoto a sua frente.
Podia sentir cheiro de perfume masculino, café e livro. Todos misturados, que formavam um cheiro viciante, pelo menos para Taylor. Estranhou a demora dos braços de John o rodeando, mas logo vieram, apertando-o também. Sorriu e algumas lágrimas ameaçaram cair.Não queria chorar na frente de Deaky.
Não na frente do seu Deaky.Então limpou com a manga da camisa antes que qualquer aguaceiro viesse, levantando o rosto apenas para poder encarar o jovem.
Deacon estava a mesma coisa. Claro, não esperava mudanças drásticas, não faziam anos, apenas meses. O cabelo estava mais fofinho e armado do que como costumava ser. Sorriu. Achou tão adorável.
Devia estar todo horrível. Não retocava as madeixas loiras fazia algum tempo, não dormia direito então tinha olheiras evidentes, não comia direito também, e devido a isso, estava mais magro do que antes.Se sentiu envergonhado por aparecer daquele jeito na frente de seu melhor amigo. Soltou seu corpo, separando o abraço, e passou a olhar em seus olhos, coisa que não fazia com ninguém. Não por ser mal educado. Era porque tinha medo. Se sentia intimidado.
Mas tudo bem olhar daquela vez, porque era John.Abriu a boca para falar, mas desistiu e a fechou. Queria ouvir. Ouvir um oi primeiro, porque adorava aquela voz.
- Oi, Rog.
O sorriso do rapaz de cabelos castanhos assemelhava-se aos raios de sol. Era um sorriso tão brilhante e cheio de vida que Roger poderia jurar que cegaria seus olhos azuis se encarasse por muito tempo.
- Deaky.
- Quanto tempo.
- Eu posso explicar!
Deacon apenas ficou o olhando, e cruzou os braços, franzindo uma sobrancelha.
- ...O que você 'tá olhando, Deaky?
- Estou esperando você explicar, oras.
- Oh. É que... Não tem explicação, na verdade. Desculpa.
Encarava os próprios tênis, como uma criança envergonhada. A verdade é que realmente não tinha uma explicação pronta. Pensou tanto em John que nem se lembrou de pensar em uma desculpa.
Mas não esperava sentir a mão do jovem afagar seus cabelos loiros.
- Tudo bem. Você não precisa me dizer.
- Não ficou bravo?
- Por que ficaria? - Se sentou no mesmo local aonde se encontrava anteriormente, colocando o livro novamente em seu colo. - Eu devo é ficar feliz de te ver depois de tanto tempo, Rog. Não estou em posição de sentir raiva. Você não fez nada de errado. Não tem que me dar satisfação.
- Mas eu sumi e nem avisei ou te liguei...
- Eu sei. - Sorriu.
- Desculpa...
- Ei, eu já disse que está tudo bem. Venha, sente aqui. Vou ler pra você.
- Você me trata como se eu tivesse oito anos. "O Pequeno Príncipe" de novo?
- É meu livro favorito, você sabe.
- Não quero esse. - Sentou no chão, de frente para John. - Gosto da poesia. Dos livros com poemas.
- Entretanto, você odiou Romeu e Julieta...
- Shakespeare era poeta mas Romeu e Julieta é uma história. E muito ruim, por sinal.
- O pior romance de todos?
- O pior romance de todos.
- Eu adoro. Como você pode não gostar de Romeu e Julieta?
- Quem sabe se fosse Romeu e Júlio eu gostaria mais.
- Não sabia que gostava de romance gay.
- Eu sou gay, Deaky.
- Você é o Roger. Gostar de homens é apenas um detalhe.
- Você e esses seus discursos anti rótulos. Qual o problema?
- Problema nenhum. Mas não faz sentido? Gostar de homens, de mulheres ou dos dois, são só detalhes que vem em conjunto com as pessoas. Nada disso interessa, o que importa é se o indivíduo em questão sabe apreciar um bom chá.
- Você é tão culto.
- E eu nem vou para a igreja.
Ficaram em silêncio por um tempo, com o moreno lendo atentamente seu livro e o loiro apenas observando seus movimentos.
- Eu 'tô feliz, Deaky.
- Por que, coração? - Virou a página, sem tirar os olhos do livro.
- Estamos conversando normalmente. Mesmo depois de eu ter sumido. Você nem questionou. Não ficou bravo, nem nada. Pensei que ficaria com raiva de mim.
- Confesso que fiquei confuso. Pensei que tivesse se cansado de mim, sabe. - Virou a página mais uma vez - Mas eu também pensei que você tem motivos. Todo mundo precisa de um tempo. Com você não seria diferente.
- Parece que tudo é como antes.
- Mas tudo é como antes, Roger. - Olhou para ele e sorriu - Você ainda é meu melhor amigo.
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Letters for Roger Taylor
FanfictionBrian Harold May constantemente se perguntava por que seu vizinho chorava todos os dias na sacada de seu apartamento, então resolveu passar pequenas cartas anônimas por baixo da porta do rapaz tentando descobrir o motivo de tanta tristeza. Como reme...