- Eu nunca mais vou sair de casa, Deaky. - Encolhido em posição fetal em cima do colchão macio e fofinho, o choro era contínuo. Não parava desde que haviam chegado ao apartamento do loiro, dando uma dor de cabeça para John. Estava preocupado, e Roger não queria o dizer o que havia acontecido. Não iria o forçar, mas não podia fazer muita coisa sem saber do que se tratava.
- Você não pode passar o resto da vida vida trancado, Rog...
- Eu não devia ter saído. Eu nunca devia ter saído. É tudo a sua culpa! - Abriu os olhos, soluçando e fungando, e em seguida, tacou um travesseiro no rosto do rapaz de cabelos castanhos. - Se você não fosse tão importante, eu nunca teria saído, porra! - Engoliu seco, fungando e tentando limpar as lágrimas que não paravam de escorrer.
- Que bom que eu sou importante então. - Sorriu - Se você saísse, eu não poderia te ver novamente.
- Você tá feliz por causa disso?
- Parcialmente. Não estou feliz por você estar triste, mas por ter saído de casa.
Abraçou o outro travesseiro que lhe restava, se sentando na cama, encostado no canto da parede, deixando apenas seus olhos azuis aparentes, já que o travesseiro cobria seu rosto. Encarava John.
- Eu me odeio, Deaky.
- Eu te amo.
Arqueou uma sobrancelha, com uma expressão duvidosa. Não entendia como ele conseguia agir tão calmamente em momentos assim.
- Nathan Hansen.
- O que tem ele?
- Ele me viu na lanchonete.
E o rosto tão inexpressivo e indiferente do jovem se tornou espantado. Não esperava por isso.
- Nathan Hansen? - Foi apressado até a cama onde Taylor se encontrava, sentando-se ao lado do rapaz e segurando seus pulsos com firmeza, mas não força o suficiente para machuca-lo. - Roger, pelo amor de Deus... O que ele fez com você, meu bem?
- O mesmo de sempre.
- Não tem o mesmo de sempre! Não é algo a se acostumar, Roger! O que ele fez?
- Me chamou de coisas...
- Que coisas?
- ...Coisas...
- Que coisas, Roger Taylor? - Mantinha um olhar sério, de autoridade.
- Bicha. Viadinho de merda, e... - Já fungava, chorando novamente. Os soluços voltaram logo depois, e a respiração descompassada tentava se normalizar, sem sucesso.
- Para. Não precisa falar. - Soltou os braços finos do garoto, encostando as costas na parede, numa postura mais reta. Deu dois tapas em sua coxa direita, sinalizando que o loiro poderia descansar a cabeça ali. Não recusou mas também não disse nada, apenas se posicionou de maneira confortável sobre as pernas de Deacon.
- Sabe, John... - Estranhou um pouco, já que nunca era chamado assim pelo homem em seu colo - As vezes eu quero saber. Então eu pergunto pra Deus o que fiz de errado. E... - Suspirava, tendo afastar as lágrimas. - Eu também penso se ele realmente existe. Porque se alguém tão bom existe, por qual motivo ele deixaria essas coisas ruins acontecerem? - A expressão era de dor. Chorava tanto. John fazia um carinho em seus cabelos loiros, tentando o relaxar. - Por que eu sou assim? Eu me odeio tanto, Deaky. Me odeio mais do que tudo. Odeio essas merdas de lágrimas. Odeio gostar de homens. Odeio tudo isso. Odeio ser quem eu sou.
- Ei. Calma. Por que você odeia tudo isso, Rog?
- É desprezível...
- E você acha isso? Ou o Nathan Hansen acha?
Foi pego.
- É que as coisas seriam tão mais fáceis se eu não fosse assim, Deaky... Eu odeio ele, odeio, odeio ele!
- As coisas não são feitas para serem fáceis. Você pode brilhar por cima de tudo isso se tentar.
Encarou Deacon como se estivesse falando coisas absurdas.
- Não sou uma estrela.
- Você é. Roger, a estrelinha. E é a mais brilhante de todas. - Apertou levemente o dedo indicador sobre a ponta do nariz do mais velho, num ato infantil, logo retirando-o.
- Você que é a estrela.
Sorriu, meigo. O menino parecia ter se tranquilizado, e isso o deixava mais aliviado.
- Desculpa por ter te culpado, Deaky. Eu sou um idiota.
- Você não é. Não fiquei magoado. - O mais novo logo respondeu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha do loiro, delicadamente.
- Eu não sabia o que fazer na hora. Fazia tempo que não via ele. Não achei que veria de novo. Fiquei com tanto medo, Deaky...
- Eu sei, Rog. Deve ter sido difícil. Mas você conseguiu passar por isso, viu? É um garotinho muito forte. Tenho orgulho de você.
- Você me trata como se eu fosse uma criança...
- E o Bri, Rog? Como vocês estão?
- O nome dele é Brian. Ele me contou.
- Brian é um nome bonito. Brian do que?
- ...Essa parte ele não disse...
John arqueou uma sobrancelha, duvidoso.
- E você perguntou?
Roger abriu a boca para falar e fechou umas duas vezes, mas nada saiu.
- ...Não. - Fez um bico, demonstrando seu descontentamento consigo mesmo.
- Pergunte ao seu porteiro quantos Brians tem no prédio. É muito mais fácil do que passar horas e horas cogitando quem pode ser seu tão misterioso amor.
- Ele não é meu amor!
O moreno fez uma cara de desacreditado, esperando uma desculpa melhor.
- Tá bem, eu sou só um pouquinho apaixonado nele. Não tem nada demais! A gente nem se viu.
- Não tem essa de se ver. Se você gosta dele, não precisa ver pra saber que gosta. É muito fútil se apegar a estética.
- E-eu não quis dizer isso, eu só...
- Eu sei, bobinho. - Riu, descontraído - Só queria que você mantesse em mente que você não precisa ficar tão encucado com isso. Se você conseguiu gostar do rapaz apenas por bilhetes, então ele deve ser incrível mesmo. Eu sei que no final você só quer saber como ele é pra poder desenhar vocês de mãos dadas em palitinhos.
- Como você sabe?
- Eu te conheço, Roger Taylor! - Riu.
- Roger e Brian ou Brian e Roger?
- Rogian. Broger?
- Não, juntar os nossos nomes é muito tosco! Só casais bobões fazem essas coisas.
- Nem foram em um encontro e já considera ele seu namorado. - Riu.
- Encontro... Deaky, você é um gênio!
- Por que?
- Eu posso chamar o Brian pra um encontro.
- É uma boa ideia.
- Seria incrível...
- Chame, então.
- E se ele não aceitar?
- Façam um jantar romântico juntos dando comida um na boca do outro pela sacada.
- Você é ridículo, Deaky!
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Letters for Roger Taylor
FanfictionBrian Harold May constantemente se perguntava por que seu vizinho chorava todos os dias na sacada de seu apartamento, então resolveu passar pequenas cartas anônimas por baixo da porta do rapaz tentando descobrir o motivo de tanta tristeza. Como reme...