Um Brian estressado, um Freddie sonolento

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Definitivamente, Roger tinha uma péssima mania de adiar as coisas.
Mas era tudo porque tinha muito medo do agora. Então se pudesse deixar mais um pouquinho para depois, deixaria, só para se preparar melhor.
E não se preparava. Não sabia como. Os acontecimentos eram como baldes de água fria sobre a sua cabeça. Poderia parecer preguiçoso por conta disso, e de certa forma, realmente era. Conseguiria facilmente listar todos os defeitos que tinha - Ou ao menos, que pensava que tinha - e teria certeza que a lista seria enorme. Não gostava do seu cabelo, nem do nariz. As sobrancelhas não lhe agradavam, e o tom de pele também não, desejava ser um pouquinho mais bronzeado, gostaria de ter uma aparência mais saudável. Uma coisa que detestava era o peso, na verdade. Sabia que estava abaixo do peso ideal, ainda mais para homens adultos como ele. Se sentia quebradiço, feito de porcelana, e que quebraria com um abraço muito apertado. Odiava como se sentia feio. Como se sentia bobo, e ingênuo, medroso, chorão, irresponsável, egoísta...
Mas tinha uma coisa que gostava.

Gostava de seus olhos.

Gostava de seus olhos azuis, porque John costumava lhe dizer que eles pareciam o céu. Que assemelhavam-se a pedras preciosas, das mais valiosas, que lembravam-o as constelações que gostava de ver durante o céu noturno. Que eram angelicais.

Se sentia tão mimado. E na verdade, era mimado. Sempre foi um daqueles garotos mimados e dependentes, que mal conseguem falar com estranhos sem a companhia de um amigo. Bem, falava com Bri. Mas Bri não era estranho. Era seu amigo.

Amigo... Podia contar nos dedos quantos amigos já tivera.

Perguntava-se sobre Bri. Ele tinha muitos amigos? Sendo uma pessoa tão querida, deveria ter. Ele soava tão inteligente... Será que tinha namorada? Ou namorado? Ou era solteiro? Fazia faculdade? Qual era a sua cor favorita? Preferia livros ou filmes? Tantas dúvidas, tantas coisas a se questionar. Talvez, só talvez, perguntasse um pouquinho a Bri mais tarde. Mas agora tinha que ir até a biblioteca.

Não sentia coragem, na verdade. Permanecia com medo. Mas decidiu que deveria parar de adiar as coisas. Não queria desperdiçar mais dias de sua vida. Não aguentaria passar mais um dia sem ver John Deacon. Era seu melhor amigo, e como o garotinho mimado que era, precisava vê-lo. Só estava tentando abrir a porta. O maior obstáculo de todos para Roger Taylor, era abrir a porta de seu apartamento e sair. Não sabia quantos dias, semanas ou talvez meses não saia de lá, mas provavelmente, bastante. Segurava debaixo do braço dois livros que havia pego na biblioteca. Respirou fundo. "Você consegue, Rog. Você consegue. Bri acredita em você."

"Bri acredita em você..."

Se sentiu capaz. Mesmo com medo, se sentiu capaz, coisa que nunca acontecia, pelo menos não com Roger. Então girou a maçaneta. Uma fresta se abriu na porta. Tinha feito. Poderia sair agora. Lentamente, posicionou seu rosto para olhar o corredor, tentando descobrir se alguém estava ali. Não via ninguém. Não conseguia acreditar, estava realmente fazendo isso.

Colocou pela primeira vez em meses seus pés para fora daquele cubículo, e pode ver o corredor inteiro.

- Deixa eu ver se entendi então, Brian... Seu vizinho é chorão e levemente esquisito, então você pensou que era uma boa ideia mandar um bilhete pra ele debaixo da porta?

- O Roger não é esquisito...

- Ele tem nome? Estou surpreso, admito. - Permitiu que uma falsa surpresa dominasse seu rosto.

- Freddie!

- Perdão, meu querido. Só achei que você já tivesse passado da fase de mandar cartinhas de amor. Sabe, o colegial acabou...

- Não são cartas de amor! Eu, hein...

- Do que então? Estão trocando receitas de pão de mel?

- Eu nem deveria ter te falado, você nunca me leva a sério.

- Meu anjo, eu te levaria mais a sério se você colocasse um abacaxi na cabeça e me dissesse que era a última moda.

- Para de implicar comigo, poxa...

- Perdão. É força do hábito, sabe. Te zoar algumas vezes por dia é essencial para a minha sobrevivência.

- Você é ridículo... - Brian revirou os olhos, bufando.

- Mas e aí, você gosta do cara? - Se sentou na cama, deixando-se ficar acomodado.

- O que? Freddie, fala sério. A gente se fala não faz nem duas semanas.

- Amor a primeira vista existe, sabia?

- É, existe mesmo, mas como eu amaria a primeira vista se eu nem vejo o rosto dele? Ele fica o dia inteiro trancado. A última vez que vi aquele rosto foi quando ele estava na sacada. E que rosto, hein...

- É, você tá caidinho.

- Achar ele bonito não me faz gostar dele romanticamente.

- Então você gosta dele?

- Gosto, oras. Somos amigos.

- Roger e Brian debaixo de uma árvore, B-E-I-J-A-N-D-O!

- Você tem quantos anos, mesmo?

- Para senso de humor não há idade, meu querido.

- Senso de humor? Você só imitou uma brincadeirinha de criança.

- Blá blá, eu sou o Brian, eu sou mau humorado.

- Eu não falo assim, Fred!

- Se eu disse, é verdade.

- Desde quando isso?

- Desde que eu decidi que as coisas funcionam assim. - Se deitou, fechando os olhos.

- Ei! Não te chamei aqui pra dormir, folgado!

- Qualquer reclamação que tenha a fazer, fale com o meu advogado. Não tenho tempo para assuntos banais, tenho que dormir o meu sono da beleza.

- Como você consegue ser tão irritante?

- Existem duas coisas para as quais eu trabalho muito duro para ser: irritante e bonito. Bonito eu não preciso de muito esforço, mas as vezes me cansa ter que lidar com você.

- Olha quem fala... Por que eu ainda sou seu amigo, mesmo?

- Talvez por que só eu te aturo, Brian?

- ...É uma boa resposta.

- Eu sei, amor.

- Você me chamando de amor é estranho. Parece até que não me odeia.

- As aparências enganam, sabe.

- É, sei muito bem disso. Mas são de casos em casos. Você parece ser legal, mas é insuportável. O Roger parece ser um anjinho, e ele realmente é um. Varia de pessoa pra pessoa.

- É, você tá apaixonado. E eu com sono.

Tacou uma almofada na cara de Freddie, o fazendo calar a boca.

Letters for Roger TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora