Lessye é uma confeiteira de mão cheia e pés no chão. Gosta de ter controle sobre sua vida, pois se acha refém da falta dele. Até conhecer Toni. Toni é como um copo transbordando e uma fogueira em chamas. Desperta nela coisas que jamais conheceu.
Qu...
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Toni Kroos | Madrid, Espanha — 07 de janeiro, 2019.
— Senhor Kroos, que bom que o senhor chegou. — Joana, minha ex-vizinha veio ao meu encontro assim que pisei os pés para fora do carro.
Já conseguia ouvir os gritos, os barulhos de cacos quebrando. Uma movimentação exasperada passando através da janela da casa, onde um dia vivi minha vida feliz. Vida feliz... suspirei mais irritado do que tudo.
Fazia um tempo que isso não voltava a acontecer em nossas vidas. Jessica estava tão bem, pensei que já tivéssemos passado dessa fase.
— Eu não queria ter chamado o senhor, mas...
— Não, Joana. Obrigado por ter me chamado. — Enquanto eu falava, já caminhava até a varanda, até bater na porta.
— "Para com isso, você não pode me deixar agora. Eu não tenho mais nada para te oferecer. Por favor, fique!" — Era Jessica, aos berros.
Continuei batendo na porta, mas ninguém se empenhou a vim abrir. Dei uma última olhada para Joana e girei a maçaneta, abrindo a porta. E desviei. Bem a tempo de evitar que um jarro de planta quebrasse em mim, fazendo um estrago no meu rosto. Jessica me encarou alguns segundos, parecia mais perdida do que da última vez que a vi.
Tinha um homem em pé bem no centro da sala. Ele me olhou, pareceu-me surpreso. Esqueci de mencionar que eu não devia estar aqui. Essa não era mais a minha casa.
— Quem é você? — O homem perguntou.
— O que faz aqui, Toni? — Jessica gritou desesperada, e eu franzi a testa.
— Eu juro que não sabia que ela era casada, cara. — O homem foi logo falando. — Ela me disse que era solteira.
— Eu sou. — Jessica berrou.
Depois da separação era sempre assim, um cara novo na vida de Jessica. Eu sempre a apoiei, queria que ela fosse feliz novamente. Que tivesse alguém mais leal do que eu fui ao seu lado, mas sempre terminava igual. E eu custava a crer que era culpa deles.
— Eu não sabia mesmo que ela era casada. Eu juro, não sabia, cara. — O homem continuou falando.
A voz dele já estava me irritando. E Jessica gritando estava me dando aos nervos. Eu nem devia estar aqui. Minha cabeça estava latejando e eu tinha um ódio imenso nessa situação toda. Apenas respirei fundo e me empenhei para não jogar tudo para o alto. Fazia semanas que isso não acontecia, que Jessica não surtava.
Cheguei pensar que não aconteceria mais. E cá estou eu. Não foi fácil ficar ali vendo aquelas garrafas vazias no chão, tanto vinho, o cheiro forte de bebida. Jessica e suas lágrimas que começaram a vir. Tudo voltando. Toda a nossa separação. Todas as brigas, todos os momentos de tensão.
