Ema estava em seu quarto olhando para seu reflexo no espelho. Usava um vestido branco bordado com pedras preciosas no decote. Era um modelo diferente, leve, não sendo necessário usar espartilho ou saiote, fazendo-a se sentir livre das amarras que a sociedade impunha sobre as mulheres. Usava o cabelo solto que caia livres em cascatas até na cintura, sendo enfeitado com duas pequenas tranças que formavam um arco para não deixar que caísse no rosto.
Hoje era um dia muito especial para a alcateia e principalmente para a família de Ema. Além de ser seu aniversário, todos os jovens que partiriam para a escola de lobos seriam homenageados pela matilha. Seriam cinco anos de reclusão sem ver seus familiares e amigos. Os que mostrassem habilidades parecidas, permaneceriam juntos ou pelo menos próximos, ninguém sabia ao certo o que acontecia, pois os que já estiveram não deveriam revelar aos jovens o que acontecia lá. Porém Ema ficaria sozinha e literalmente jogada aos lobos, ninguém da alcateia ficaria com ela, pois os filhos dos alfas tinham treinamentos e alas diferenciados.
Ema não entendi direito o porque de tanto mistério, porém os mais antigos diziam que era uma fase necessária para a evolução dos jovens, mesmo que isso implicasse em algumas mortes. Ema se lembrou de um único membro de sua alcateia que sucumbira ao treinamento, o pequeno Liam, como todos os chamavam, por ser o filho mais novo dos Douglas. Não deram muitas explicações, apenas que ele não foi forte o bastante, deixando uma mãe desolada e três irmãos mais velhos, que aparentemente entendiam o porque da morte de seu irmão caçula.
- Nós já sabíamos que ele não aguentaria. Aquele lugar pode consumir sua alma se não for forte.
Esse foi o comentário mais longo que Ema já ouvira sobre a escola, enquanto escutava a conversa de Noah, o irmão de Liam, com alguns jovem em volta da fogueira.
Seus pensamentos foram interrompidos por sua mãe Coira. Olhar para sua mãe, era como se ver em um reflexo do futuro. Ela tinha os cabelos ruivos e longos, assim como o seu. Apenas os olhos eram de seu pai, um azul cálido.
- Filha, disse Coira com a voz embargada de emoção, você está perfeita.
Ema não tinha palavras. Nos últimos dias estava sendo muito difícil para todos disfarçar a tristeza de sua partida, pois se amavam muito. Então a abraçou apenas, desejando de todo coração que pudesse sentir seu amor.
- Quero que saiba Ema, disse sua mãe ainda agarrada a filha, que independente do que acontecer, independente do rumo que as coisas seguirão, nós te amamos e ficaremos ao seu lado acima de qualquer coisa, saiba disso.
- Eu sei mãe, minha única certeza é o amor de vocês. Mas...disse Ema sorrindo tentando quebrar a tensão, se me dissesse um pouquinho só do que acontece lá, ficaria mais tranquila.
- Ah sua espertinha, disse Coira sorrindo, sabe que não podemos.
- Mas mãe, porque tantos mistérios assim, você foi uma das poucas mulheres da nossa alcateia que foi, podia me contar né.
- Sim, na minha época as jovens demoravam mais a decidir sobre a transformação. Hoje muitas garotas já frequentam a escola, já que só podem ir se já estiverem prontas. Sabe, eu me lembro do exato momento que decidi. Eu fui levar uma espada para seu Tio Jesse, ele sempre esquecia tudo, quando vi seu pai treinando na arena com John. Eu já o tinha visto milhões de vezes antes, pois era o filho do alfa, mas naquele momento eu quis ser parte dele, acho que me apaixonei ali, naquele momento. No dia seguinte meu pai pedia orgulhoso ao seu avô Benedict que me transformasse. Frequentamos a escola juntos, quer dizer, no mesmo tempo. Nos encontramos novamente no dia de nosso retorno.
- Você não fala muito sobre isso mãe, porque?
- Diríamos apenas que estou muito feliz que você não precisara passar por isso. Disse Coira acariciando o rosto da filha.
- Me conte mamãe, por favor, não sou mais uma garotinha, preciso saber das coisas que acontecem por aqui.
- Está certo, minha jovem. Bem, disse ela se sentando na cama da filha, eu tinha 17 anos, e como te disse, insisti para que a transformação fosse feita logo, pois queria participar da escola. O alfa orientou meu pai e a mim sobre tudo que aconteceria. Primeiro, a mordida seria lacerante, e ficaria assim por dias. Eu teria febre, dores pelo corpo e muito enjoo. Esse processo poderia durar cerca de sete dias ou mais. Ouvi tudo com atenção, mas nada me prepararia para o que senti. A dor me fez querer morrer Ema, desejei de todo coração meu corpo desistisse. Minha família ficou em vigília dia e noite, como é a tradição, e para a surpresa de todos a febre e os sintomas duraram apenas quatro dias, o que não foi nada comum.
Após esses dias fui levada ao alfa para completar a transformação. Ele me deu um cálice e me fez repetir as palavras que dizia, era um juramento, um juramento da alcateia Hunt. "Tha mi a 'tabhann dhut mo dhìlseachd, mo anam agus mo chorp", as duas pronunciaram juntas." A ti ofereço minha lealdade, minha alma e meu corpo". No dia seguinte dei minha primeira corrida com meus irmãos, e foi mágico, libertador. E foi isso.
Ema assentiu absorvendo as palavras da mãe. Nunca antes haviam conversado sobre isso, de forma tão madura. Sabia que a transformação doia, mas ao imaginar sua mãe tão vivaz e forte preferindo a morte, agradeceu a quem quer que fosse que a fez nascer loba e não precisar passar por tal provação.
- Agora vamos, seu pai e seus irmãos devem estar loucos nos esperando.
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A Alfa
WerewolfEma Hunt é filha do alfa mais importante da história dos lobos. Isso, por si só não é algo comum, porém, ela é a primogênita e já nasceu loba, algo totalmente inédito na linhagem dos licantropos. Mesmo sendo muito talentosa e uma ótima guerreira...