Começou a chover enquanto Ryam andava pela rua. Havia deixado os corpos dos Žögovich para trás já há três horas atrás.
A noite estava nebulosa, fria. Os salpicos d'água caíam como pequenos cristais num chão envidraçado. Ryam erguera seu olhar para o vasto e escuro céu, escuro como seu interior, encarando as gotas d'água da chuva que embatiam contra o seu rosto, deslizando sobre aquela pele caramelizada como chocolate recém preparado.
Naquele momento, Ryam desejou que toda a escuridão que havia no seu interior fosse drenada para fora.
Assim como uma lagarta sai de seu casulo para tornar-se numa mariposa, Ryam queria sair do seu então "casulo" e se tornar "normal"...
E que a "sede" de sangue se dissipasse, assim como a neve se dissipa na aurora do verão, no primeiro raiar do Sol.
A chuva foi cessando a medida que ele caminhava.As nuvens dissipavam-se do vasto céu, tornando possível contemplar as pequenas estrelas brilhando sobre o céu escuro.
A luz do luar envolvera a cidade, refletindo o seu semblante prateado sobre as possas d'agua que se assemelhavam também a pequenos diamantes...Os seus pensamentos fluíam, como o sangue flui pela corrente sanguínea de um atleta... E então em meio a tanto pensamentos obscuros e nebulosos, surgiu em sua mente o radiante rosto de Sophie.
Embora muito faladora, seu carisma o encatava, seu olhar penetrante e luminoso como o raiar do sol o impactava fortemente. A chuva já havia parado, o vento embatia sobre o seu rosto, um vento impetuoso, fresco como o vapor extasiante e fulminante das águas do mar; O gemido do vento era potente e, melancólico, gemidos como suspiros profundos de um mineiro;
Era a primeira vez que Ryam ficara olhando a cidade desde o seu súbito despertar.
Suas feridas estavam saradas.
Ryam se questionava, como anjos, seres puros faziam tais coisas, como tanta maldade caberia num só ser... Muitos dizem que o homem é mau... não, mau, não é o homem em sim, o coração é que é..."Porém um "coração neutro", é o que Ryam levava em seu peito.
Percebeu que já desde o seu despertar que não sentia medo, que não era movido por maldade ou por bondade, mas por uma "força" absurdamente superior a sua e que, ia além de sua mísera compreensão.As ruas estavam quase desertas, não havendo pessoas a vista, poderia ser por causa da chuva pois não é comum só haver veículos em movimentos pela cidade;
Inexplicávelmente ele chegara ao hospital em que estava Sophie, a porta principal era envidraçada como a de todo e qualquer hospital da cidade.Estava na entrada do hospital um homem alto de ombros largos, músculos absurdamente marcados, trajando um sobretudo marron. Ryam adentrou no hospital dirigindo-se a recepção.
Tinha alguns pacientes acabados de chegar, uns acarretavam ferimentos de acidentes. Outros provavelmente só estavam ali para uma consulta ou coisa do gênero.
Uma criança fora ao encontro de Ryam, uma mulher que que provavelmente era a mãe, olhou para Ryam e impediu que a criança chegasse perto.
"Por que estão todos a olhar para mim?"
As pessoas não tiravam os olhos de cima de Ryam, por alguma razão que ele mesmo fazia de estar "nem aí".
Ryam ficou diante da recepcionista e disse:
— Poderia dizer-me em que quarto está internada Sophie Stargate? — Perguntou ele dirigindo-se a recepcionista, inexplicávelmente convicto de que Sophie estava naquele hospital.
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O ASSASSINO DO ALÉM
FantasyAssassinado severamente por malfeitores, espancado e deixado no Hudson como lixo... Este é Ryam. Por desgraça, fora expulso do céu tanto quanto do inferno, agora misteriosamente de volta a vida, após um ano morto de baixo do rio Hudson, ele descobr...