Capitulo 21: A Torre Sombria

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O som era absurdamente ensurdecedor.
Era potente como o soar de um cachalote. Os lábios de Ryam continuavam ressecados.

O sol atingira o zênite tornando-se mais escaldante as areias ao redor estavam húmidas com sangue. Os anjos no altos céus desapareceram.

Consequentemente a fenda no chão se havia fechado e, o som ensurdecedor diminuía gradativamente, até deixar o silêncio absoluto tomar conta do deserto.

O corpo de Ryam estava sem forças, seus braços cansados, seus bíceps pesavam de tal maneira que não conseguia mover os braços.

Suas pernas estavam trêmulas e as feridas demoravam para cicatrizar.

Não soubera definir o que estava sentindo em seu corpo. Sua visão não estava nítida, não conseguia enxergar bem. Ouvia passos de alguém se aproximando.

Chegou perto dele.

Ryam pôde vê-la mas não à reconhecia por conta da visão turva, e o sol que a ofuscava ainda mais. Era uma mulher: Tinha a pele parda,  então Ryam apagou...

Nada mais ele via, nada mais ele sentia, nada mais ouvia, estava escuro. Se perguntava se seus olhos estavam fechados ou se realmente estava... Morto.

Pois seria a única explicação. Ryam não sabia onde estava. Avistara um clarão de relance que se repetia segundo pós segundo.

Demorou a perceber que tal clarão eram seus olhos tentando se abrir, então percebeu que já não estava no deserto, já não sentia o sol queimar sua pele e o seu brilho.

"Onde estou" — pensou ele.

Ele se esforçava para acordar mas, estava fraco. Ouvia pessoas conversando ao seu lado, pelo menos não mais de duas pessoas, eram duas vozes agudas. Então reconheceu as vozes: Se tratava de Sophie e Madeleine.

Seus olhos estavam entreabertos, começara a ouvir alguém cantando, a voz era extasiante, era como de um anjo. Buscou na sua mente aquela voz e encontrou uma lembrança. Então Ryam reconhecera aquela extensão vocal: Mezo-soprano.

"Esta voz. Es tu não es...?"

A voz emanava paz, benignidade... Era Sophie cantando... Seu timbre era inconfundível, a cada nota cantada soava a alegre sonata de sua voz acompanhada do som calmante e suave do piano que alguém tocara.

Ryam já ouvira Sophie cantar uma vez, no dia, em que ela o encontrara. Quando o levava para o hospital, se não estivesse falando, estava cantando.

Embora estando meio acordado, Ryam conseguia ouvir claramente a letra da música:

"Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você
E não há nada pra comparar
Para poder lhe explicar
Como é grande o meu amor por você
Nem mesmo o céu, nem as estrelas
Nem mesmo o mar e o infinito
Nada é maior que o meu amor, nem mais bonito
Me desespero a procurar
Alguma forma de lhe falar
Como é grande o meu amor por você
Nunca se esqueça nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você
Nunca se esqueça nem um segundo
Que eu tenho o amor maior do mundo
Como é grande o meu amor por você
Mas como é grande o meu amor por você..."

E novamente Ryam apagou, num profundo sono.

Abriu seus olhos e estava noutro lugar com um cenário diferente. Era um lugar vasto perto do oceano, pôdera ver o sol.

Havia uma torre:
Uma torre tão grande quanto o monte Everest, tão grande que podia "engolir" o sol.

Dela saíam gritos, gritos de crianças, mulheres, homens; tal barulho era ensurdecedor, não parava de chover e, a chuva era como gotas de sangue escorrendo de um pescoço cuja a cabeça fora degolada, o pavor, o horror era abundante naquele lugar

O seu interior era negro como as penas de um corvo, tenebroso como a escuridão mais densa a face da terra,  era fria e inabitada mas... ouvia-se passos, risos sinistros!

Ryam caminhou até chegar num salão. Adentrou e deparou-se com olhares maquiavélicos pairando sobre o ar, não sabia ao certo o que era tal coisa, se anjos, se demônios ou talvez fruto de sua imaginação...

Então o jovem fitou aqueles olhos penetrantes e sedentos de terror.

"Eu conheço aquele olhar..." — Ryam suspirou.

Sim, Ryam conhecia muito bem aquele maldito olhar...

Ryam reconheceu aquele olhar e, evidenciaram-se outros olhos tantos olhos, dentre eles estava: Sonel! Mas seu semblante estava diferente, aquele aspeto angelical havia sumido por completo.

Sua expressão era a mais diabólica que Ryam já vira. Seus músculos estavam absurdamente definidos sua pele estava literalmente escura como o carvão, suas asas eram sólidas. Havia pequenas listras esverdeadas nos bíceps estendendo-se até ao torax, dois cornos nasceram-se-lhe na testa.

A baixo de seus olhos estavam duas lágrimas brancas, grudadas a pele como tatuagem. Na sua mão direita segurava algo ao que parecia ser uma trombeta, aparentemente de madeira, era curvada como um corno de Touro, media trinta centímetros, e tinha escritas em volta dele.

Junto estava Eyesel com os olhos arregalados, portando uma cabeça em sua mão, tinha apenas uma asa...

"Eyesel. Aquele Eyesel.. maldito Eyesel"

Subitamente a torre desaparecera num ápice e, no lugar da torre estava agora a cidade.

Demônios e anjos estavam por toda a parte, Sonel pairava sobre o ar, vinha alguém caminhando:  Era um homem. De princípio Ryam o achou familiar, trajava uma roupa comum, um terno cinza e gravata vermelha.

Estava descalço.

Definitivamente era um homem. Alguém que Ryam já o vira antes. O cheiro que o homem exalava confirmara as suas suspeitas...

Seu olhar misterioso deixara Ryam intrigado, porém sabia que aquele olhar não era de um simples desconhecido. E foi quando os olhos do homem de terno encontraram os de Ryam, que logo ele percebera que definitivamente o conhecia.

Ryam arregalou os olhos.

"Esse tempo todo era ele"

Ryam já não tinha duvidas, era ele quem os vigiava, era ele quem Ryam estava procurando.

É, era ele quem definitivamente saciária a sede de sangue do assassino.
É ele a quem todos chamam-lhe pelo pseudônimo de "Primeiro", e estava bem na sua frente...

Ryam franziu o rosto e apertou o punho.

Estava tão perto, mas Ryam não o sentira. Estava tão perto mas não o vira.
Porque sempre fora como qualquer pessoa, andava como qualquer pessoa, enquanto Ryam procurava algo mais incomum possível.

Ele caminhava em passos leves na direção de Ryam, então deteve-se. Sua roupa rasgou-se-lhe no corpo e suas asas salientaram-se para fora. Eram tão grandes quanto as de Sonel.

Então voou até Sonel batendo suas asas como uma Ave libertada do cativeiro.

Sonel ergueu a trombeta e, levou-a para a boca, encheu seus pulmões com ar e assoprou para a mesma que soou um som tão retumbante, que a cidade inteira tremeu.

O ASSASSINO DO ALÉM Onde histórias criam vida. Descubra agora