Adam já estava em casa quando tinha o mesmo sonho horrível novamente. Nada fazia sentido para ele, mas a apreensão que tinha enquanto corria pela floresta era uma certeza que ele não poderia negar. E agora mais do que nunca, o sonho se tornava um pouco mais vívido. Seu coração pulava do peito, suas pernas se agitavam pela cama, seu rosto pingava de suor. Ele escutava agora algo além das folhas se partirem, ouvia o som de pessoas ao longe, o barulho de lutas, gritos, chamas queimando, uivos... E ao se deparar com a parede de lava, ele acordou em um pulo caindo da cama. Seu rosto ardeu em dor e sua mente levou alguns segundos para entender tudo aquilo enquanto ele se colocava de pé. Adam abriu as cortinas azuis do seu quarto, olhou para fora e deparou-se com a vista que fazia do sexto andar onde ficava o apartamento em que morava com sua mãe. Robôs de limpeza, carros flutuantes, propagandas holográficas e criaturas diversas dividiam as ruas enquanto alguns magos e outras criaturas dividiam o céu. Ele se sentia calmo, se sentia tranquilo, se sentia sujo e molhado. "Sujo e molhado?!"
Adam olhou para sua cama e notou seu colchão encharcado. Aquilo não podia ser só suor. Por um segundo, uma ideia amedrontadora passou por sua mente "Eu estou velho de mais para ter feito isso! ", mas ele então percebeu que isso não explicava o porquê dele estar coberto de terra, e nem a razão para sua camisa e seu short estarem parcialmente queimados. Foi bem aí, com essa cena nada comum acontecendo, que sua mãe entrou no seu quarto sem bater:
-Hey Adam, será que você pode buscar o pão na...
O garoto olhou para baixo, para a cena que ele ainda não sabia explicar e só pôde dizer:
- Não é o que parece! Tem terra aqui também!
Salunna Abelian, sua mãe, uma humana, sorriu:
-Relaxa, eu percebi! Notei as roupas queimadas também.
Sua mãe era jovem, tinha acabado de fazer trinta e cinco anos de idade. Tinha os cabelos e os olhos pretos que passou para o filho. Ela era uma devotada jornalista com uma percepção afiada sobre todo tipo de situação. Trabalhava no "Informante Mágico", um jornal de médio porte no centro da cidade e dedicava seu tempo investigando ou escrevendo sobre crimes, acontecimentos ou qualquer notícia que fosse "digna de nota". Seu pai costumava dizer que ela tentava transformar o mundo em um lugar melhor a cada dia. Ela o analisou por alguns segundos e então deduziu:
-Isso é a puberdade!
Adam pensou que aquela era uma das explicações mais estranhas que poderia ouvir naquele momento. Quer dizer, ele pensava que a puberdade fosse somente aquele inferno de espinhas e pêlos que ele passava a alguns anos, mas agora era também isso?!
-Como assim puberdade?
-Seu pai disse que isso poderia acontecer eventualmente. Nem todos os magos têm casos estranhos e fortes como esse, mas isso quer dizer que seus poderes estão evoluindo. Por isso, manter o controle sobre eles vai ser mais difícil daqui para frente. Ele me disse que é uma transição muito forte e poderosa chamada de "Despertar".
- Tanto faz o nome, em qualquer outro dia isso já seria ruim o bastante, mas hoje, ainda por cima, é meu aniversário. Não dá para eu ficar molhando todos que aparecerem para me dar parabéns.
- A gente pode fazer uma festa na piscina do prédio, não sei. – Ela disse, se segurando para não rir.
- Mãe! Fala sério!
Salunna começa anda por seu quarto, recolhendo pedaços queimados do seu short e camisa enquanto parece pensar em algo. Por fim ela os joga em um cesto de lixo no canto esquerdo do quarto e diz:
- Hoje você não tem aula por que é final de semana, então se o Corvin não estiver ocupado, eu posso ligar e pedir para ele te ensinar um pouco sobre como controlar isso.
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A Chave Perdida
FantasiO mundo é diferente no futuro. A sociedade como a conhecemos chegava a um fim eminente e sua única salvação foi justamente o que muitos consideravam irreal: A magia. O "Reinício" foi o dia em que o oculto se tornou realidade. Dois séculos depois, o...