Epílogo Gabriel

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Milena encarava Gabriel sobressaltada, mal podia pensar numa situação tão bizarra quanto a que ele contava no momento.

—E vocês ficaram presos lá sob ameaça? Não tinha como sair? — questiona ela abismada.

 —Um grupo até tentou escapar enquanto eu tentava desvendar a senha com os outros, mas isso resultou na morte de um dos integrantes — Gabriel declara com um gosto amargo na boca ao lembrar-se da angustia diante um corpo que parecia estar sem vida.

Milena o encara com olhos arregalados e boquiaberta, suas mãos estão sobre as bochechas em sinal de espanto. 

 —E mais alguém morreu? Não anunciaram mortes na TV.

Gabriel suspira e balança a cabeça ao lembrar-se dos momentos de puro desespero quando estava naquele elevador e percebeu que havia gás se espalhando no ar. Sua mente havia ido direto para os campos de concentração Nazista e aquilo fez seu corpo abalar. 

 —Eles sumiam com os participantes o quanto podiam, nos faziam acreditar que estavam eliminando um a um, até que também fui pego — Gabriel diz com um peso em sua voz pela carga traumática que lhe foi concedida, a partir do momento em que foi levado a acreditar que um pequeno deslize poderia resultar no fim de sua vida. 

 —E seu amigo estava envolvido em tudo isso? Como ele pôde te incluir numa coisa dessas? —Milena exclama indignada, reclamando com razão.

 —As motivações de Saulo eram ao seu ver superficiais, mas bem que poderia esperar algo assim vindo dele — divaga Gabriel pensativo. Ainda não teve muito tempo para pensar neste ponto em questão, não sabia se enxergava aquilo como traição da parte de seu amigo, ou apenas relevava pela personalidade um tanto quanto megalomaníaca que rondava incansavelmente os pensamentos de Saulo. 

 —Eu não perdoaria alguém que fizesse isso comigo! —Milena se posiciona de forma defensiva enquanto fala sem parar sobre as possibilidades do que faria no lugar de Gabriel. O mesmo escuta suas suposições um tanto distante, olha para a lagoa logo em frente e para a grama que se estende ao redor da toalha em que estão sentados, seus pensamentos partem para uma certa pessoa dos cabelos castanhos, cor de chocolate, seu olhar assustado rondava sua mente, desde o momento em que foram libertos, Marisol cativara totalmente suas reflexões, Gabriel gostaria de ter notícias de como ela está ou pelo menos saber se está segura em sua casa, sua curiosidade vai um pouco além em relação àquela mulher um tanto eloquente, que lhe deixou aturdido com suas palavras afiadas, voz melodiosa e suave. Lembra detalhadamente do beijo que lhe dera naquele pequeno cubículo em que foram parar juntos, suas pequenas mãos passeavam em seus cabelos, suas línguas travavam uma batalha árdua completamente sensual e a sensação de ter o corpo quente e voluptuoso de Marisol tão perto, se tornou uma das melhores experiências de sua vida. Depois que retornaram ao jogo, sua cabeça deu um nó e o mesmo não sabia como lidar com o novo sentimento que crescia em seu peito o assustando em grandes proporções, quando finalmente criou coragem para tentar, a mesma já havia seguido seu caminho para longe daquela mansão, sem ao menos olhar para trás. 

 —Gabriel? Está me ouvindo? — Milena questiona percebendo o olhar perdido do amigo para o ambiente.

 —Desculpe, estava pensando — comenta tentando sair do torpor em que adentrou por instantes. 

—É alguma mulher? — Milena semicerra os olhos encarando Gabriel com um sorriso enorme se espalhando por seu rosto. O mesmo não consegue disfarçar diante à acusação tão repentina e o rubor que sobe por sua face o entrega totalmente. — Ah! Como ela é? Você pegou o contato? Se beijaram? 

 —Milena começa a bombardear perguntas uma atrás da outra sem dar tempo para refletir.—Calma sua doida — Gabriel exclama fazendo-a parar pra respirar. — Não sei muito sobre ela, não tive a oportunidade de conhecê-la além dos portões daquele inferno.

"Teve muitas oportunidades Gabriel, deixou passar por insegurança e agora nunca mais provará do mel daquela boca" pensou ele atormentado por sua falha.

Gabriel fica calado e sua expressão é um tanto desolada, seus pensamentos se elevam mais uma vez e o mesmo se questiona diante os fatos. "Por que não consigo tirá-la da cabeça?"

O celular apita identificando uma nova mensagem, o mesmo encara a tela do celular e abre a mensagem do número desconhecido. Milena percebe um sorriso triste se formar em seu rosto e seus olhos se enchem d'água, apesar do mesmo tentar disfarçar olhando para cima diversas vezes, o loiro guarda o aparelho e continua a olhar para o horizonte. 

 —  Quem era? — A ruiva questiona preocupada com sua reação. 

 —Nada para se preocupar — Gabriel sussurra melancólico. Milena não faz ideia do que aconteceu, mas a visão de seu amigo no momento é de partir o coração.

Após alguns meses do ocorrido, Gabriel caminhava em direção à padaria, ele observou um menino distribuindo cartões de natal e se aproximou na intenção de pegar um para presentear Milena, apesar dos defeitos, ela era uma boa amiga

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Após alguns meses do ocorrido, Gabriel caminhava em direção à padaria, ele observou um menino distribuindo cartões de natal e se aproximou na intenção de pegar um para presentear Milena, apesar dos defeitos, ela era uma boa amiga.

O garoto entrega dois para Gabriel, ele pretendia questionar quando o garoto explicou:

—  Um é presente de um amigo seu que me pagou um trocado para lhe entregar, outro você faz o que quiser.

Gabriel abre o envelope e no seu cartão, em vez de votos natalinos, havia informações para resgatar cem mil reais numa conta. 

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